Cabinda  - Heróico povo de Cabinda,

Meus compatriotas,

Alocução do presidente da FLEC-FAC, Alexandre Tati BUILO, Na ocasião de fim do Ano 2013

Pela minha modesta pessoa a FLEC-FAC dá graças a Deus que por sua infinita misericórdia nos sustentou e protegeu durante todo o Ano 2013, ao povo em geral de mais um ano de repressão, à resistência militar de emboscadas e patrulhas num território completamente militarizado, aos dirigentes da violência política, de ciladas e assassinatos, conforme o fez aos filhos de Israel durante a marcha de libertação do Egipto para a Terra prometida.

 

ImagePenso também na resistência obstinada e incansável de todos os nossos militantes e em geral do Povo de Cabinda com todas as suas forças vivas que ainda resistem contra o sistema ocupante que oprime, reprime, pilha, viola e devasta o território de Cabinda desde há mais de três décadas e meia.

 

Discursos sem acção concreta são mera propaganda. De nada nos servem os discursos se não sabemos aproveitar o tempo que passa, pois um provérbio diz: « o tempo que passa não volta mais » e « o que seremos amanhã depende do que fazemos hoje ». Se há que se fazer um balanço do que termina, a questão é só de saber o que fizemos que avançou a luta, que reacendeu o archote de esperança quase extinto do povo, fora da propaganda evasiva e das nossas habituais querelas intestinas que só fortalecem o inimigo e que hoje nos deixam pessimistas ou melhor resignados ao diálogo da rendição? Ora, se hoje criticamos os pioneiros da luta sem fazer nada de melhor, o dia virá em que as futuras gerações nos terão também por responsáveis pelo actual statu quo.

 

Falando de discursos, aproveito falar do silêncio que a opinião cabindesa interpreta como silêncio político, agonia ou renúncia. Uma luta de libertação deve ter várias estratégias, entre as quais o silêncio ou melhor discrição, a nossa capacidade de conservar o segredo. Face a um inimigo potencial que utiliza até o próprio cabinda contra si próprio, seria fatal praticar o contrário que é sinónimo de imprudência, como procedemos no passado. O silêncio é uma estratégia que flutua e varia consoante as circunstâncias, pode ser ofensivo ou defensivo, uma arma que atinge eficazmente o nosso inimigo hoje desesperado e visivelmente inquieto. Em consequência, até os mendigos cabindas ou utilizados como cães de caça se vêem diminuidos de crédito, o que os mergulha na angústia e no desespero porque faz mal perder esse « Malongo 2 ou 3 ». Assim, lanço um vibrante apelo ao Povo de Cabinda na resistência militar, na resistência interior e na resistência da diáspora de pegar resolutamente na arma de discrição como arma de combate contra a ocupação e a colonização de Angola tanto no interior como no exterior do território de Cabinda. Pois, agindo como a água que evita as alturas, temos a possibilidade de estudar minuciosamente o inimigo a fim de surpreendê-lo de tic a tac.

Caros compatriotas, Meus irmãos,

À sua morte, Nelson Mandela é universalmente homenageado e engrandecido na África do Sul apenas por duas virtudes que fazem o grande homem: a humildade e o perdão. Do combate de Mandela aprendemos também que tudo o que se espera com fé e sacrifício, por mais longa for a espera, acaba por transformar-se em realidade. E nós? Terão a humildade e o perdão algum sentido na liderança cabinda e que impressão têm os cabindas do nosso testemunho? A nossa liderança deve reflectir seriamente nisto pois, como diz o nosso líder histórico, NZita Tiago: « a força duma nação depende do comportamento dos seus dirigentes ». Mas nulamente dirigentes corruptos, incoerentes, inconsistentes, inconsequentes, egoístas, hipócritas e traidores.

 

Vamos atrasar um pouco na questão da unidade que hoje faz debate e que só hoje se considera indispensável e sinónimo de força ou factor incontestável da vitória. Podemos acordar em dizer, como na altura Kofi ANNAN, Secretário- Geral das Nações Unidas que, respondendo a um jornalista sobre os conflitos africanos disse: “a resposta é simples. Devemos contar com a nossa própria competência”. Na opinião da FLEC-FAC, tanto aos patriotas de pé firme como aos pessimistas, esta afirmação devia suscitar uma reflexão responsável aproximando no ideal e na acção para uma federação das nossas forças contra a ocupação angolana, sabendo que a libertação de Cabinda é acima de tudo um problema dos próprios cabindas chamados a fazer prova de verdadeira consciência colectiva e sentir-se responsáveis do seu próprio destino.

 

O Ano 2013 aflorou também algumas iniciativas de unidade, mas é possível que estas tenham terminado infecundas devido a problemas de transparência e de confiança considerando o facto de que o cabindês, hoje o melhor mercenário a soldo de Luanda, tornou-se o mais perigoso instrumento de destabilização contra a causa cabindesa. Há aquele que critica e atribui o insucesso à má fé e desinteresse dos outros, quando não é o caso.

 

Um ditado diz: « o peixe apodrece pela cabeça ». É claro que ninguém desconhece o problema de segurança que a resistência vive nos dois países vizinhos e que o inimigo anda à caça dos dirigentes para acabar com a resistência. Neste momento de alta tensão na sub-região devido às manobras dilatórias de Angola que, munida da FLEC como bode expiatório, vai até violar e agredir outros países, como mostram os recentes acontecimentos de Kimongo (Congo Brazzaville), além da caça aos dirigentes da resistência, penso que não é dado a qualquer cabinda circular livremente e falar de Cabinda sem ser inquietado, pois não? Se é que uns podem beneficiar de tal liberdade e outros não, na realidade ela não existe nem oficial nem oficiosamente a ler no silêncio que caracteriza hoje a nossa sociedade civil que o regime vigia à lupa e quer conformada, de joelhos, amordaçada e fora do combate.

 

Não obstante, a preocupação da unidade é colectiva e a ideia duma concertação, patrioticamente partilhada, mas algumas garantias de segurança impõem-se como condição sine qua non a todas as iniciativas donde quer que venham:

1. Uma conferência ou reunião genuinamente cabindesa e sem conivências com a Secreta angolana.

2. Reunindo apenas as sensibilidades patrióticas porque o povo de Cabinda só se identifica em iniciativas de harmonização para a autodeterminação e independência, um ideal que se assinou em 1885, através do Tratado de Simulambuco e reiterado no congresso de 1963 em Ponta-Negra.

3.A agenda pode rever coisas como inovações de liderança, opções adaptáveis a uma nova dinâmica de luta bem como a adopção duma guia de marcha com recomendações de reforço à luta de libertação nacional, excepto modificação dos objectivos da luta.

4. Lugar e calendário são estritamente confidenciais e só são divulgados em último minuto, pouco importa se a reunião tenha que decorrer nas matas, mas só quando todas as condições forem reunidas.

 

5. Entretanto, uma preliminar impõe-se, entendida como prévia consulta aos pioneiros ainda em vida e outros actores da antiga liderança à procura de aprumo geométrico para pouco mais de legitimidade à iniciativa.

6. A presidência da reunião pode ser confiada a uma comissão representativa ou à sociedade civil, mas se for a segunda hipótese, à condição seguinte:

a. A situação apenas aceita a sociedade civil patriótica e não a corrupta sob manipulação do regime Luanda,

b. Tudo começa pela harmonização no seio desta para maior transparência e coerência no papel que devem assumir.

c. Escolha livre e democrática da equipa para presidir a reunião.

d. Financiamento com respectivas fontes bem identificadas e a admnistração

ao conhecimento regular da liderança política.

Povo de Cabinda, Estimados compatriotas,

Peço suportarem um pouco o que vou dizer antes de terminar. Sei que isto pode suscitar interpretações erradas até mesmo especulações. Ora, deriva da evolução da nossa maturidade política que o povo angolano é um povo irmão, digo bem o povo em geral contrariamente ao sistema que ocupa e coloniza o nosso território. Não devemos ter ou tratar necessariamente o povo angolano como inimigo, apesar do nosso combate contra a ocupação orquestrada por Angola política que, em 1974, invadiu militarmente Cabinda com a cumplicidade de Portugal, responsável histórico do drama cabindês. Com Portugal temos o problema da conclusão do processo da descolonização do território de Cabinda, enquanto com Angola temos contencioso pelos males cometidos em Cabinda durante a ocupação do nosso território.

 

Todavia, a independencia de Cabinda não é contra os seus vizinhos, incluvé Angola. Os Angolanos que quizerem fazer do nosso combate sua própria causa serão bem vindos. Em suma, os Angolanos serão livres de viver em Cabinda tanto como os Cabindas, em Angola. O nosso combate apenas reclama a retirada de todas as forças ocupantes do território de Cabinda e a restituição da nossa soberania usurpada e traficada entre Portugal e Angola, em nome do terrorismo de Estado e do crime politico-jurídico cometido contra o território de Cabinda.

Temos todas as opções sobre a mesa, até mesmo o diálogo sincero, mas em resposta somos vítimas da insensibilidade, da intolerância e da intransigência por sermos um povo sem defesa e, além disso, porque os oficiais generais angolanos se enriquecem com o conflito armado em Cabinda e, neste contexto, nunca serão bem vindas as iniciativas para uma solução negociada. Entretanto, esses olhos grossos não nos intimidam e a FLEC-FAC apela todo o Povo de Cabinda a se mobilizar na defesa dos seus direitos com as armas ao nosso alcance, entre outras denúncia dos abusos coloniais; utilização do poder espiritual e tradicional para impedir a produção petrolífera onshore que engrandece outros povos e enriquece ilicitamente os nossos agressores; as manifestações pacíficas; desobediência civil; campanhas de vila ou cidade fantasma e tudo o que é susceptível de completar a resistência militar no terreno, todos levantando-se como um só numa resistência sem trégua contra a ocupação no território de Cabinda.

 

Jamais o povo de Cabinda renunciará aos seus direitos. Somos dois Povos, duas Nações e dois Estados entre Cabinda e Angola, tal qual acordado, em 1885, entre Portugal e Cabinda através do Tratado de Simulambuco; especificado na Constituição colonial portuguesa de 1933 a 1975; classificado no plano de descolonização africana da OUA, em 1964, e sustentado na Carta das Nações Unidas, especialmente no seu Artigo 73, alínea e, pois até presentemente somos um território sob governação não autónoma que aguarda pelo livre exercício do seu direito à autodeterminação e à independência até hoje bloqueado por Portugal e Angola. O nosso combate é legítimo. Não somos uma organização de terroristas nem uma rebelião, muito menos uma força negativa. Somos uma luta de libertação nacional com meio século de idade e cujos vestígios encontram-se nos anais das Nações Unidas e da União Africana.

 

POVO DE CABINDA : FORÇA E AVANTE - PARA A CONQUISTA DA LIBERDADE POLÍTICA SEM A QUAL NÃO HAVERÁ LIBERDADE NENHUMA NEM DIGNIDADE PARA O POVO DE CABINDA !

Que Deus abençoe o Povo de Cabinda e a sua resistência. •

Alexandre Tati BUILO

Presidente da FLEC-FAC