Lisboa –   Até Novembro de 2008,  serviu a Sonangol EP  como seu  director financeiro.  Entrou para o Conselho de Administração, em sucessão a Syanga Abílio. Francisco de Lemos José Maria  que sempre foi  conhecido como o “numero dois”  mais visível da petrolífera angolana é um dos  quadros angolanos (fora do executivo)  com  prestigio junto  do Fundo Monetário Internacional (FMI)  e do  Banco Mundial (BM). Viu agora o seu nome a ser escolhido como sucessor de Manuel Vicente na petrolífera, numa escolha em que o Presidente da Republica teria recusado dois nomes, Baptista Sumbe e José Paiva, em seu favor.


Fonte: Club-k.net

Lhe é reconhecido uma verticalidade invulgar

“Chiquinho” ou “Lemos”, como ele é tratado, não é uma figura política. Faz parte dos tecnocratas  que junto com Manuel Nunes Júnior de quem é próximo saíram da docência da faculdade de economia da  Universidade Agostinho Neto,  para se concentrarem nas  instituições estatais. (Teve passagem pelas FAPLA, sector de comunicações). Quando  entrou para a Sonangol, Desidério Costa era o  Vice-Ministro dos Petróleos, e Francisco Lemos   um quadro em ascensão  que estava  colocado no departamento do plano da petrolífera estatal.  O ex - vice-ministro  cuja competência lhe recairia  autorizou-o a fazer uma pos graduação na Inglaterra. (Teve antes uma proposta para Itália que recuara). Anos mais  tarde  e já nas  veste de Director de finanças da Sonangol,  o então Vice-ministro  viria desiludir-se com ele por  ter solicitado esclarecimento  de uma operação financeira que Desidério Costa pretendia fazer   por via da Sonangol.  Desde então passou a ser “persona non grata”  aos olhos de Desidério Costa.

 

Francisco Lemos Maria   tem a reputação de um  quadro integro e muito rígido no trabalho. Os seus detratores interpretam este seu lado como “mau feitio”.  Ao tempo director financeiro da empresa,  rivalizou-se  com Syanga Abílio.  Incompatibilizou-se também com um então  director dos recursos humanos, João André. Consta que Lemos Maria   pedia   ao colega  dos recursos humanos que lhe apresentasse projectos para concepção de subsídios  para os funcionários mas este denotava desleixo.  A tristeza de Lemos para com o colega agravou-se depois de ter tomado nota que  João André  fazia gestão menos  boa  de  um orçamento anual de 3 milhões de dólares destinados a formação dos quadros da sua área (cerca de 70 funcionários) e outros.  O então  director dos recursos humanos gastava as verbas num espaço de três meses acabando por não dar formação estabelecia no “schedule”  aos quadros da sua alçada.  Os trabalhadores alcunharam João André   por   “piloto” por passar mais tempo a “inventar” viagens de trabalho, o que fez com Lemos ficasse ainda mais desiludido com ele.  João André foi mais tarde  afastado dos RH e indicado  para acompanhar o projecto da Universidade técnica da Sonangol.

 

Certa vez, o regime  quis  saber até que ponto  ia a sua integridade. Para tal foi submetido a uma  discreta vasculha por parte de uma “residentura”  de inteligência financeira com o objectivo de  apurar o que ele detinha em termos financeiros.   Foi constatado que os canais externos (entenda-se off shore) por si usados mas sobretudo ao que foi verificado era algo insignificante comparando a alguns barões do regime angolano. Pelos tramites por si usados,  foi concluído  que é  uma figura discreta e que evita exposição.

 

Há uns anos atrás  comprou uma vivenda no Alvalade (nas proximidades por detrás da catedral do Reino de Deus), ao tomar conhecimento que o ex -PCA da Sonangol,  Manuel  Vicente acabava de comprar uma vivenda na mesma rua, Francisco Lemos desfez-se da sua para não parecer concorrência com o  seu superior hierárquico.

 

No plano externo, Francisco  Lemos  Maria   foi  a figura que a dada altura encabeçou negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O Banco Mundial já o solicitou para “inputs” para a  Revisão das Despesas Públicas e da Responsabilização Financeira (PEMFAR), um estudo feito em estreita colaboração com o Governo angolano.

 

A confiança em si depositada estendeu-se  em toda correia do regime ou do circulo presidencial. A dada altura, era consigo que o general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior   “Kopelipa”  tratava directamente operações de interesse nacional, que se requeriam,  os  préstimos da Sonangol. Ainda enquanto director das finanças da Sonangol, rejeitou um  convite  para substituir José Pedro de Morais Junior do cargo de Ministro das finanças.   Em contrapartida integrou a  extinta Comissão Instaladora do Fundo Soberano Angolano criada pelo Presidente da República. É também chamado para integrar a delegação presidencial, quando José Eduardo dos Santos efectua as suas visitas de campo na nova cidade do Kilamba Kiaxi.  

 

Quando ascendeu a membro do conselho de administração da Sonangol, Lemos viu a área das finanças transferidas para o  ex-PCA Manuel Vicente. Este por sua vez, não obstante a falta de tempo,  terá enfrentado dificuldades quanto a matéria de finanças  e voltou a entregar a pasta  ao colega. No seguimento de  um ambiente  de atritos resultante de interferências entre a sua área de trabalho com a de um outro  Administrador  Baptista Muhongo Sumbe, o ex-PCA da Sonangol, reestruturou  as competências  de cada membro do conselho tendo devolvido a Lemos a área das finanças e do planeamento. Para alem destas duas  áreas, Francisco  Lemos passou a ter  desde  31 de Maio de 2010, a direcção de auditoria e controle interno (DACI), SONAIR, SONIP e MStelecom.

 

“Lemos” chega a ser cunhado de Bapstista Sumbe, porém  há registro que ambos já tiveram clivagens no passado ao tempo que Francisco Lemos respondia pela direcção de comercialização externa, logo após ter regressado da pos graduação no exterior. Consta que aceitou um pedido de Baptista Sumbe  para disponibilizar alguns quadros da sua área ao cunhado. Momentos depois, Lemos vetou a acção de  Baptista Sumbe por ter notado que este lhe estava a tomar os quadros de sua confiança o que equivalia também transferência ou detenção de informação da direcção que dirigia.

 

Não obstante ao seu  rigor,  os quadros fazem gosto de trabalhar com ele. Quando foi nomeado membro do conselho administração, correu na empresa que duas secretarias do seu gabinete de finanças, identificadas por “Aidé” e “Ruth”,  choraram “babas e ranho”  por causa da sua saída.  O Gosto que fazem em trabalhar com ele é em parte associado as regalias ou facilidades que proporciona aos trabalhadores sob sua alçada.

 

A saber:


- Quando os trabalhadores da sua área ficavam doentes chegava a disponibilizar USD 10 000 para consulta no estrangeiro.


- Quando os quadros ,  em regime de estudo,  terminassem a formação acadêmica, ele fazia questão de devolver ou ajudar a amortizar as propinas e os gastos em livros.

 

-  É dos raros funcionários seniores da Sonangol que não tem reputação de se amigar com as funcionárias.
 


- Valoriza o que é nacional; Tinha como  preferência, para a sua direcção,    aqueles que se formavam  em Angola em detrimento dos que vinha de Universidades estrangeiras sob alegação de que os “internos” conheciam melhor a realidade do país e eram “menos vaidosos”.  (Os bolseiros quando regressassem do exterior queriam logo posição ou cargos de destaque).

 

- A sua ultima inovação foi a criação de uma espécie de  comitê de convergência, com o objectivo de harmonizar a função financeira da Sonangol.

 

Personalidades na empresa já teriam notado este seu lado excepcional em gerir  quadros. Quando regressou da pos-graduação de Londres, a primeira proposta que lhe surgiu foi para ser director dos recursos humanos, mas não aceitou.  Em justificação da rejeição, foram lhe atribuídos dizeres segundo os quais “não estava  velho para estar nos recursos humanos”. Acabou por ser colocado  como responsável da direcção da comercialização externa.   Pelo seu percurso foi sempre  visto como potencial sucessor de Manuel Vicente, de cuja confiança goza.  Porém, é citado como  “um quadro que se pretende perto da administração e não na liderança da empresa”. 

 

Não obstante aos seus atributos, Lemos Maria viu-se também prejudicado em termos de imagem nos últimos anos. Quando saiu do cargo de director de finanças, foi substituído por  Alberto Cardoso  Pereira que fora uma aposta de Manuel Vicente. Na pratica,  Lemos não dava espaço de manobra ao seu sucessor. Continuou a reter os poderes  e permitia que  os  chefes de departamento das finanças despachassem com ele directamente passando por cima do novo director. Face ao ambiente de hostilização, Alberto Cardoso pediu demissão do cargo  e no seu lugar foi nomeada Raquel Ruth  David  Vunge, uma gestora da confiança  de Lemos Maria também ligada ao conselho fiscal do Novo Banco – NVB, pela petrolífera estatal.  Raquel Vunge  ascendeu agora como administradora-executiva do conselho de Administração preenchendo a vaga deixada pelo novo PCA,  Francisco  Lemos.

 

Lemos é  também religioso e cresceu na Igreja Nossa Senhora de Fatima, no bairro Nelito Soares. O seu pai, antigo funcionário das finanças, José Maria, de quem Lemos  puxou certos valores é também uma figura considerada no clero católico  em Luanda.  Dinamizou grupos corais e se o papa for a Angola, o mesmo faz parte das personalidades a receber o Santo Padre. Seu pai é  tratado pelos cristãos por “irmão  Zé Maria”. Francisco Lemos vai todos os  domingos de manha assistir  as homilias.  Oferece anualmente  uma doação a Igreja Católica, e passa por ser o principal patrocinador  das obras de reabilitação da Igreja da Nossa senhora de Fatima no bairro Nelito Soares. Este seu gesto de doador,   se  estende  também para o hospital Sanatório de Luanda. Quando se aproxima a quadra festiva, reúne os quadros do seu gabinete para ir festejar o natal no hospital em referencia. Nas suas acções filantrópicas, Lemos Maria  dispensa propaganda ou publicidade, o que faz com que seja visto como uma figura  simples e discreta.


 

Nota do editor: O presente texto foi publicado inicialmente no Club-K em Maio de 2011 tendo sido reeditado em função da ascensão do sujeito da historia, ao cargo de PCA da Sonangol.