Luanda - Um possível adiamento das eleições – que, como se verá adiante faria um bom jeito a muitos partidos políticos – permanece, como se pôde ver nos depoimentos que vêm nesta edição, um verdadeiro filho sem pai. Desejado por uns, indesejado por outros, ninguém no entanto assume publicamente o facto que, por um ou por outro motivo gostaria que isso acontecesse. E muito menos que vão fazendo tudo o que podem, numa estratégia deliberada para precisamente forçar as coisas para esse desiderato.


Fonte: SA
 

Uma análise ainda que superficial leva-nos inevitavelmente à conclusão que o único partido a quem isso não interessa absolutamente nada é o que detém actualmente o poder. Seja porque a ele cabe criar as condições para que as eleições se realizem, seja porque parece ser o único partido realmente preparado para passar a sua mensagem à escala nacional (também por via da omnipresença que aparenta ter). Tudo indica que, ainda que perdendo a bruta maioria que detém, dificilmente perderia o pleito, dado o grande domínio que detém em todas as esferas da sociedade devido aos longos anos que governa o país.

 

O mesmo já não se pode dizer da UNITA. Assolada com divisões internas e sob uma liderança atribulada por constantes contestações e correndo o risco que parte da sua base eleitoral se bandeiar para as bandas de Abel Chivukuvuku caso este abandone o partido, a UNITA tem todos e mais alguns motivos para encarar as eleições com preocupação. Não está de modo algum afastada a hipótese de perder ainda mais lugares na Assembleia Nacional. Um eventual adiamento do pleito eleitoral, postas as coisas assim, traria a esse partido uma série de vantagens: primeiro, dar-lhe ia um tempo adicional para juntar os retalhos em que corre o risco de se transformar; segundo, fragilizaria o rival MPLA junto dos eleitores e junto da comunidade internacional e, terceiro, dar-lhe-ia a legitimidade de convocar o povo às ruas pois poderia alegar que o governo é ilegal por não ter sido eleito. Não seria por isso de estranhar que ela tivesse uma estratégia montada para criar esse cenário, apesar do que diz o seu porta-voz.

 

O mesmo se aplica aos restantes partidos da oposição; um adiamento dar-lhes o tempo de que desesperadamente precisam para fazer uma campanha eleitoral minimamente credível. É que, com excepção do Bloco Democrático, nenhum outro se vê em pré-campanha. Nem mesmo o PRS e a FNLA, essa cada vez mais atolada no lamaçal de contradições entre as duas (alguns dizem três) alas que não «se chupam» nem um pouco. Os outros, esses a única coisa que se viu foi uma ida em bloco ao Palácio da Cidade Alta pedinchar ao PR uns troquitos para financiar a fiscalização do registo eleitoral e da própria campanha…

 

Assim como assim, a acontecer o adiamento, a grande vencedora seria a UNITA e o MPLA o grande perdedor. O que vai obrigar este partido a negociar e a ceder nalguns pontos, pois concorrer sozinho seria o caminho mais certo para dar respaldo à desobediência civil tão cara à UNITA. De formas que pode-se dizer que se estratégia oculta da UNITA e da Oposição em geral é usar o fantasma da inviabilização das eleições como trunfo para ganhar pontos e eventualmente forçar o seu adiamento para, através da desobediência civil rever todo o processo eleitoral, eventualmente com supervisão internacional, a do MPLA é de fazer finca-pé e ceder de repente quando os outros partidos, entretanto distraídos, já não tenham tempo de fazer campanha eleitoral que lhes garanta que passem a sua mensagem junto do eleitorado. Truque que já funcionou com a aprovação da «atípica» e agora com o concurso público para a selecção da Presidente da CNEI. Entre estratégias e contra-estratégias, está-se mesmo a ver o que tudo isso vai dar. A procissão, essa ainda vai no adro mesmo…

 Celso Malavoloneke