Luanda - Mais de 80% dos condomínios privados construídos em Luanda, nos últimos anos, estão sem clientes, devido aos altos preços praticados na capital angolana e à falta de credibilidade bancária dos interessados no momento de concessão de crédito à compra de habitação.


Fonte: SOL


Segundo uma fonte do Ministério do Urbanismo e Construção, que preferiu o anonimato, o sector bancário nacional pode «sofrer quedas terríveis» devido ao aumento considerável do crédito malparado. «O financiamento para a aquisição de casa própria é, cada vez mais, reduzido e também há uma percentagem avassaladora de pedidos de empréstimo a ser rejeitada pelos bancos», disse.

 

O crédito malparado, de acordo com a mesma fonte ouvida pelo SOL, já atingiu mais de 8%, porque a maior parte dos projectos financiados não conseguiu vender pelo menos 10% dos fogos. Por outro lado, há vários projectos que se encontram parados por falta de financiamento bancário. «É só fazermos uma ronda por Luanda Sul, concretamente nos arredores de Talatona e Benfica, para constatarmos esta realidade», acrescentou.

 

Salienta ainda a mesma fonte, os bancos têm-se mostrado bastante relutantes em entrar no mercado do crédito à habitação, alegando várias razões para recusarem as solicitações feitas pelos seus clientes. Isto numa altura em que se regista um forte crescimento da procura do financiamento para a aquisição de habitação, com maior ênfase nas zonas urbanas.


O facto de a legislação angolana impedir que a propriedade possa ser oferecida como garantia; o longo período que os bancos precisam para recuperarem os investimentos; a falta de uma política governamental para subsidiar créditos habitacionais são algumas das razões apontadas para o escasso crédito concedido, pelas diversas instituições bancárias que actuam no sector.

 

Os clientes bancários que vivem em casas arrendadas, as novas famílias criadas e os migrantes das áreas rurais estão entre os que mais procuram um financiamento para habitação própria.

 

Grande parte, segundo a mesma fonte, tem sido preterida, uma vez que a tendência dominante, entre as várias instituições bancárias, consiste em ceder preferencialmente crédito às famílias com mais poder de compra e que garantam uma maior possibilidade de reembolso.

 

Um estudo publicado, no ano passado, pelo CEIC (Centro de Estudo e Investigação da Católica), revela que, no ano de 2008, apenas 7,6% do financiamento destinado à habitação provém do sistema bancário. A maioria (59%) é facultado pelas famílias, sendo os maiores destinatários do crédito bancário os indivíduos ou famílias de classe média ou alta.

 

Arrendamento domina mercado imobiliário


O arrendamento de casas é o negócio que domina no sector imobiliário em Angola, sendo que mais de 54% dos actuais arrendatários estão nesta posição agora pela primeira vez. Destes, 61% ocupa anexos construídos em casas já existentes, sendo que mais de metade desses anexos são constituídos por apenas um quarto sem condições de saneamento básico e energia.


Mais de metade da população luandense vive em habitações sem instalações sanitárias. Dos 45% que possuem algum tipo de instalação sanitária, as habitações de 39% estão ligadas à rede de esgotos, 37% e 24% possuem latrinas.


O especialista ouvido pelo SOL argumentou que o Estado deve optar pela lei da renda resolúvel, subsidiar as rendas para colmatar a falta de habitação ou criar, rapidamente, projectos habitacionais mais baratos para minimizar o défice de fogos.