Luanda  -  Um jornalista da agência France Press classifica Jonas Savimbi como brutal e o primeiro senhor da guerra a financiar o seu exército privado com diamantes de sangue. Para além deste facto indesmentível, veiculado por aquele órgão de informação, temos outro não menos inquietante: entre 1986 e 1991, o governo dos EUA deu-lhe 250 milhões de dólares, a segunda maior ajuda secreta daquele país. A primeira foi aos "moudjahidine" afegãos, comandados pelo tristemente famoso Bin Laden.


Fonte: Jornal de Angola


A agência noticiosa francesa diz também que Savimbi promoveu o assassinato político dos dissidentes, a tortura e aterrorizou as populações civis em Angola. Ainda bem que um órgão de informação estrangeiro, insuspeito, recorda estes factos dolorosos de um passado que tem apenas dez anos.


Os angolanos, infelizmente, não precisam dessas memórias. Os familiares das mulheres e crianças queimadas nas fogueiras da Jamba têm essa memória de terror. Os que foram obrigados a carregar lenha para as fogueiras ainda hoje vivem com esse pesadelo, entre a angústia e a demência. Não há força de vontade nem dimensão humana que aguente tais actos de barbárie.


Entre as populações civis aterrorizadas, entre as vítimas da loucura assassina de Savimbi está David Bernardino, o médico do Huambo que nunca abandonou o seu povo em sofrimento e pagou com a vida a sua imensa solidariedade. As forças do apartheid e o senhor da guerra cometeram em Angola crimes contra a Humanidade que continuam impunes. Em nome da reconciliação nacional, os angolanos afogam a dor, calam os gritos de revolta, choram em silêncio. A paz merece todos os sacrifícios. A reconciliação nacional exige que todos envolvamos esses dias de guerra e sem sol, num manto de esquecimento.

 

E isto está a ser feito. O caminho está a ser percorrido por todos. As excepções são tão poucas que não mereceriam referência, se não estivesse em causa a defesa da honra da Humanidade. Os angolanos estão a dar prova de um espírito democrático ímpar. De uma vontade de reconciliação invulgar. De um amor à paz inigualável. Esta não é uma posição ditada pelas circunstâncias ou determinada por líderes políticos. Brota da essência fraterna e pacífica da alma angolana.

 

Os militares das Forças Armadas Angolanas que cercaram Savimbi e os que ainda estavam ao seu lado, trataram os sobreviventes como irmãos. Por exemplo, Alcides Sakala, que devido à fome e à doença tinha poucas horas de vida e foi levado de helicóptero para o hospital, onde esforçados médicos lhe salvaram a vida. Todos os angolanos se orgulham do convívio com este e outros dirigentes da UNITA, salvos pelas FAA da morte certa.


Hitler foi um brutal senhor da guerra. A Humanidade baniu-o para sempre. A ordem jurídica internacional pune severamente os que negam o Holocausto. Mas há quem proponha uma estátua em Angola a quem aterrorizou, assassinou, torturou, lançou mães indefesas para a fogueira, num acto de barbárie que só tem paralelo nas hostes nazis.


E os poucos que não reconhecem a forma fraterna e magnânima como foram perdoados dos seus crimes ou salvas as suas vidas condenadas, tentam fazer entre nós o caminho dos neo-nazis, insultando a memória dos nossos mortos e dos vivos que se bateram contra as forças do apartheid, que representam o maior crime que alguma vez foi cometido contra a Humanidade e que tiveram como cabo de guerra Jonas Savimbi.


É triste ver estrangeiros virem a Angola de propósito glorificar o senhor da guerra brutal, sanguinário, que assassinou centenas de milhares de angolanos, destruiu as suas casas, obrigou-os a abandonar as suas cidades, vilas e aldeias. Que não se pense que se pode continuar a fazer o que se fazia na Jamba. Se querem fazer homenagens e erguer estátuas, que o façam, em outro lado, a Hitler e a Salazar. Que ergam uma estátua a Bin Laden e façam conferências sobre o seu pensamento e as suas acções criminosas.


Angola é uma democracia de braços abertos e fraterna. O amor à paz leva os angolanos a esquecer as afrontas, os latrocínios, os assassinatos em massa. Até esquecemos que dezenas de mamãs e de crianças foram queimadas vivas na Jamba.


Mas não queiram impor esse passado ao nosso presente, nem glorifiquem um monstruoso senhor da guerra que financiou o seu exército privado com diamantes de sangue, como recorda a agência France Press. Haja decoro e respeito pelo passado doloroso dos angolanos. Façam de um facínora um herói, mas não o imponham a pessoas de bem. Porque se o fizerem estão a mostrar que não estão de alma e coração com a paz e a democracia. Não queiram ser uma ameaça, numa sociedade pacificada e reconciliada com o passado, em nome do futuro dos seus filhos que há dez anos eram crianças ou dos que nasceram desde então.