Luanda -  José Eduardo dos Santos, o Presidente do MPLA e da República de Angola, está decidido a manter o poder a todo o custo, apesar de estar no cargo há 32 anos sem nunca ter sido eleito pelo povo.


Carlos Duarte
Fonte: Makaangola.org

Para aprimorar  a máquina de propaganda

O controlo absoluto da comunicação social é uma das vias em que Dos Santos aposta para a manutenção do status quo de mais antigo Presidente do mundo, ao lado do seu homólogo e amigo da Guiné Equatorial, Teodor Obiang Nguema. Na visão do Chefe de Estado angolano, a comunicação social constitui um recurso importante para a consecução dos seus desígnios de manutenção no poder por tempo ilimitado. A 10 de Fevereiro passado, no discurso de abertura da IV sessão do Comité Central do MPLA, Dos Santos criticou abertamente os órgãos de comunicação social do Estado por aquilo que considera ser a fraca cobertura às realizações do governo.


O presidente do MPLA julga que, por via da propaganda exaltando as supostas realizações do governo e a sua “clarividente direcção” dos destinos do país, terá a vida facilitada nas eleições marcadas para o último trimestre deste ano.


Em face disso, José Eduardo dos Santos tem-se aconselhado com alguns dos seus principais assessores sobre a nova remodelação ministerial que pretende realizar, com o objectivo de impulsionar a máquina eleitoralista do MPLA. Dos Santos aposta em demitir, em breve, a actual ministra da Comunicação Social, Carolina Cerqueira. O actual presidente do Conselho de Administração das Edições Novembro, José Ribeiro, é a escolha preferida do Presidente Dos Santos e seu círculo restrito, para assumir as funções de ministro. José Ribeiro é também o actual director-geral do Jornal de Angola, o único diário do país, cujo proprietário é a empresa estatal Edições Novembro.


Com passagens pela ANGOP, Jornal de Angola e pelas embaixadas de Angola em Portugal e na Suíça, José Ribeiro é conhecido pelo seu fanatismo na defesa cerrada da figura de José Eduardo dos Santos. O futuro ministro escreveu, recentemente, em editorial no Jornal de Angola que, de facto, José Eduardo dos Santos apenas começou a governar o país, de facto, há dois anos: após a aprovação da Constituição em 2010. Para José Ribeiro, os 30 anos anteriores da presidência de Dos Santos devem ser ignorados pelo povo.


Por sua vez, Dos Santos e o seu palácio acreditam que, com essa remodelação ministerial, José Ribeiro terá tempo suficiente para coordenar e aprimorar toda a máquina de propaganda e transformar todos os actos do regime em verdadeiros sucessos de governação, escamoteando o facto de que em 10 anos de paz efectiva o regime foi incapaz de regularizar problemas básicos como o abastecimento de água e energia eléctrica às populações dos centros urbanos.


José Ribeiro é o mais fiel intérprete da remanescente ortodoxia marxista do MPLA. A Presidência reconhece a José Ribeiro o mérito de ter transformado o Jornal de Angola em santuário de adulação à figura do “Guia Imortal Adjunto”, o actual Presidente Dos Santos. O diário de José Ribeiro chega mesmo a enfatizar o aldeamento urbano do Kilamba, de habitações sociais construídas pelos chineses, como uma obra de grandeza comparável às cidades de Shangai e Nova Iorque.


As provas incondicionais de fidelidade dedicada a José Eduardo dos Santos renderão a José Ribeiro a glória que tanto almejou e o dinheiro necessário para manter a sua família a viver principescamente em Portugal, sem os constrangimentos por que passam a maioria dos angolanos, para os quais se prepara então o grande espectáculo da propaganda do regime.