A aposta da UNITA na suposta “falta de memória do povo” falhou rotundamente A sua tese de que o MPLA nada fez em 33 anos de governação foi um equívoco mortal, por duas razões: em primeiro lugar, deixava transparecer uma evidente arrogância, ao passar por cima das enormes responsabilidades da UNITA na destruição do país até 2002; em segundo lugar, foi claramente percebida como um embuste, pois só não reconhece as realizações conseguidas pelo MPLA nos últimos seis anos (e não só) quem não quer.

A UNITA foi punida, portanto, quer pelo seu passado (que o MPLA sequer precisou de evocar) quer pelos erros estratégicos e tácticos cometidos durante a campanha. A “mudança” que prometeu aos eleitores foi recebida como uma ameaça e como um regresso ao passado e não como uma promessa de redenção. Ora, os angolanos não querem perder o que já conquistaram, nomeadamente a paz e os primeiros sinais de crescimento e desenvolvimento do país. Querem andar para a frente.

Apenas para dar um exemplo, aqueles que estão espantados com a reviravolta ocorrida em províncias como o Huambo, Bié e Benguela deveriam conversar com os camponeses das aldeias do Huambo, como eu o fiz, para entenderem o que se passou neste país, pelo menos de 1992 para cá, e o que aconteceu nas eleições.

É por isso que a posição do líder da UNITA, Isaías Samakuva, de não reconhecer imediatamente a derrota, apoiando-se nos problemas técnicos ocorridos principalmente em Luanda, apenas contribuirá para desgastá-lo ainda mais.Esses problemas são inegáveis e, muitos deles, injustificáveis, mas não explicam o desastre sofrido pela UNITA.Posso perceber que, face ao tamanho da derrota, Samakuva tenha necessidade de passar junto da massa militante da UNITA uma imagem de “força”, para tentar sobreviver politicamente.

Por outro lado, os conselheiros externos da UNITA podem aplaudir essa estratégia de procurar desacreditar o processo. Mas as primeiras reacções da sociedade permitem prever que, se ele insistir nesse caminho, ficará internamente isolado. Arrisco-me até a dizer que, com isso, ele fornece ao MPLA um bom argumento para a próxima campanha, dentro de quatro anos.

O importante, agora, é concluir o processo e todos – governo, oposição e sociedade em geral – prosseguirmos o ingente trabalho que temos pela frente. O MPLA, em particular, tem de estar consciente do verdadeiro significado deste voto de confiança que acaba de receber dos eleitores.

Por um lado, ele não significa um cheque em branco. Por outro, tem prazo marcado: 2012.Assim, não basta continuar a fazer crescer economicamente o país, continuar as obras já iniciadas em todo o país e, mesmo, atacar decididamente os problemas sociais, como está definido no programa eleitoral do MPLA. A atitude em relação aos vencidos é, desde logo, crucial, pelo que o exemplo de 2002, quando o governo derrotou militarmente a UNITA, tem de ser repetido agora, salvaguardadas as devidas diferenças.Será igualmente fundamental tomar medidas para a consolidação e reforço da liberdade e da democracia, assim como para a moralização da sociedade.

No discurso de encerramento da campanha, o presidente José Eduardo dos Santos identificou as seguintes mudanças: rever as políticas públicas que não deram certo; alterar o comportamento dos dirigentes e responsáveis que previlegiam os interesses pessoais, em detrimento das suas responsabilidasde políticas e administrativas; e substituir os governantes que estejam a falhar. O MPLA terá de fazer isso tudo, se quiser voltar a vencer em 2012.

Fonte: Jornal de Angola