Luanda  - A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) condenou hoje em Luanda a passividade da polícia angolana face à atuação de civis na repressão de uma tentativa de manifestantes antigovernamentais no passado dia 10 na capital angolana.


Fonte: Lusa


A posição da Igreja Católica foi expressa pelo bispo emérito do Uíge, Francisco da Mata Mourisca, na conferência de imprensa para apresentação das conclusões da I Assembleia Plenária da CEAST, que esteve reunida desde o passado dia 14.


"É claro que não compete a civis fazer essa atitude (repressão dos manifestantes). Compete à autoridade legítima reprimir uma desordem, não aos cidadãos como tais. Isso foi errado. A autoridade da polícia é que devia intervir, com a moderação conveniente, não os civis", disse Francisco da Mata Mourisca.


Em causa está a atuação em Luanda, no dia 10 deste mês, de grupos de civis armados com catanas, barras de ferro e cabos de eletricidade grossos no espancamento e repressão de quem presumiam pretender manifestar-se contra o Governo, perante a passividade de agentes da Polícia Nacional Angolana.

 

Um dos feridos em resultado da atuação dos grupos de civis foi o economista Filomeno Vieira Lopes, cujo espancamento provocou a fratura do braço esquerdo em três sítios, um golpe profundo na cabeça e equimoses por todo o corpo.


A Polícia Nacional anunciou 24 horas depois dos acontecimentos que iria investigar o sucedido, não tendo ainda divulgado nenhuma conclusão a este respeito.

 

Segundo Francisco da Mata Mourisca, as manifestações constituem "um direito de todo e qualquer cidadão", assim como um direito de qualquer cidadão viver na ordem pública.

 

"As manifestações públicas não devem perturbar a ordem pública e o Estado tem o dever de manter a ordem pública. Claro que deve fazê-lo com a moderação da força, não de forma irracional", acrescentou.

 

O bispo de Cabinda, Filomeno Vieira Dias, que presidiu à conferência de imprensa, acentuou a posição expressa pelo bispo emérito de Uíge.

 

"(O direito de manifestação) é um direito reconhecido que timidamente vai sendo aceite", salientou.

 

"Ainda há um caminho e temos de compreender (que) nós vivemos numa cultura e num contexto de muita agressividade, de muita violência, de muita repressão e é toda uma educação pela cidadania, de quem está com as rédeas do poder e de quer quem está na situação de oposição", sustentou.


Filomeno Vieira Dias destacou, todavia, que quem exerce o poder "tem mais responsabilidades. Tem mais compromissos. Por isso, as pessoas serem agredidas na presença de agentes da ordem pública é uma coisa errada, como foi dito, mas é sobretudo condenável", porque, reclamou, "temos que ter confiança nos órgãos de ordem pública".


"Eu tenho que me sentir seguro perante um agente da ordem pública", insistiu.


Relativamente a processo de organização das eleições previstas para setembro próximo, objeto de uma nota pastoral, Francisco da Mata Mourisca, instado a comentar a polémica que divide poder e oposição quanto à nomeação de Suzana Inglês para a presidência da Comissão Nacional Eleitoral, por alegada incompatibilidade com o cargo e por suposta ligação ao partido no poder, remeteu para breve uma declaração da Igreja angolana sobre o aspeto ético da política.


"A política tem dois aspetos muito diferentes: o técnico e o ético. O técnico diz respeito aos políticos profissionais e a Igreja deixa a eles a resposta a esse problema", disse.


"O aspeto ético é com a Igreja, que tem uma palavra a dizer e não se pode calar. A questão da ética, respeitante à política, é competência da Igreja e certamente que, oportunamente, dirá alguma coisa, quando entender que é preciso", acentuou.


"O aspeto ético das eleições e de outros fatores da sociedade", concluiu.