Luanda -  E aqui chegados, na hora de contar as espingardas, parece não haver dúvidas que Bento Kangamba candidata-se a perigo público número um nestas terras de Ngola Kiluanji kiá Samba – Angola – tanta é sua capacidade de arranjar broncas que podem incendiar o país.


Fonte: SA

Dito em Latim, o homem não entenderia

É que, membro do Comité Central do partido no poder, parente por casamento do Presidente da República, dono de muita massa que espalha a bel-prazer, o homem é também o mesmo que deu-se ao luxo de recrutar «milícias» cuja brutalidade deixaram a Nação estarrecida, a acreditar nos líderes das manifestações; segundo estes, é ele também que tentou, contra todas as regras de ética, com 27.000 dólares subornar jovens manifestantes cuja razão de revindicação está na cara de toda a gente. O mesmo homem cuja claque de arruaceiros – o viveiro dos «kaênches»? – acaba de protagonizar o primeiro caso de discriminação racial no desporto da Angola independente. Que já anda na media internacional e ainda pode levar a FAF a prestar explicações à FIFA que não brinca nestas coisas.


O facto de agora fazer parte da família do Presidente, aliado a dinheiros cuja origem é obscura e cuja fonte parece inesgotável parece dar-lhe uma impunidade perigosa para quem, como ele parece não ter noção de limites. As autoridades dos pelouros onde ele se intromete deixam-no em paz não vá o Diabo tecê-las. Ou por outra, seja por ele, seja pela esposa mandar um sopro ao ouvido do «Chefe» que lhes custe o «mbongue». E escudado nisso, o homem vai fazendo das suas perante a complacência silenciosa de quem tem a obrigação de pôr-lhe um travão…


Travão esse que se lhe não for posto, pode levar o homem a despoletar um Armageddon e implodir Luanda, senão mesmo o País. Ele não sabe, mas põe o país a correr o risco de ter um cenário igual ao da África Oriental. Com todas as consequências que isso possa acarretar para um país apenas com dez anos de paz e com os ânimos já exaltados pela lazarice a que quase dois terços da população está sugeita.


Por outro lado, deve-se também chamar a atenção à tremenda irresponsabilidade de Rui Campos e Zeca Amaral, respectivamente presidente e técnico principal do Recreativo do Libolo. Por vários motivos: primeiro por abusarem de um jovem vulnerável que precisa de ganhar o seu pão fazendo-o passar deliberadamente por «feiticeiro»; depois pelo uso de factores estranhos à prática do futebol, desvirtuando a verdade desportiva, ao deliberadamente introduzirem no campo um elemento perturbador das mentes dos adversários, não importa se boa ou má; e finalmente por nem sequer, ao que parece, terem inscrito o nome do jovem na lista da delegação ao jogo. A FAF deverá investigar cuidadosamente este triste episódio. Para além de falta gritante de fair play, o Libolo foi a génese de um problema que Angola, felizmente não tem. É que, o Libolo quis fazer passar a imagem que em Angola os albinos são feiticeiros, e fez isso em pleno estádio da Cidadela a abarrotar pelas costuras e com cobertura mediática nacional e internacional. Fez isso apenas para ganhar um jogo. E isso quando outros países lutam para derrubar o estigma que chega a atingir proporções dantescas e atingem proporções de desastres nacionais. A irresponsabilidade deste clube é sem paralelo. Como se sentirão se, neste país, começar-se a cortar as mãos na rua aos albinos para ir vender por 2000 dólares na RDC como acontece na Tanzânia, no Uganda, no Burundi ou no Ruanda? Só para ganhar um jogo?! Façam-me o favor. A FAF deve cortar esse mal pela raiz arreando o pau em cima dos prevaricadores. Arreando feio!


Por junto e atacado, todos os interveniente estiveram mal na fotografia. Se é verdade que Bento Kangamba agiu igual a si mesmo – na arruaça que o seu «tio» o PR condenou ainda esta semana em Luena – não é menos verdade que a direcção do Libolo foi e ainda é a responsável primária por este repugnante episódio. O jovem albino – que parece chamar-se Diogo – não é nada mais nada mesmo que a infeliz vítima. Talvez seja tempo de pensarmos, sem tabus e sem paternalismos numa legislação que proteja os albinos angolanos deste e outro tipo de situações.


P. S. – Para quem não saiba, «Oloya Kwébi» é kimbundu; significa «Quo Vadis» em latim. Como, compreensivelmente, Bento Kangamba não sabe latim – mesmo as frases mais comuns – pensei assim: é melhor perguntar-lhe em kimbundu o que em português singifica «Onde Vais, Bento Kangamba…?» Talvez assim entenda…