Para além do sentido de estado e patriotismo demonstrados pela Oposição ao reconhecerem os resultados, embora surrealistas, saídos das últimas Legislativas de 5 e 6 de Setembro 2008, eis que a maturidade dos chamados líderes políticos da oposição está mais uma vez em prova. Em prova porque, se não se cuidarem, correrão o risco de desaparecerem e caírem no esquecimento, o que seria fatal para a nossa emergente democracia e abrir caminho para o Absolutismo, caso o MPLA e está já ás vistas, vença também as Presidenciais que á luz da vitória expressivamente exagerada, serão realizadas muito antes de Setembro de 2009.

Pelo que parece e com que objectivos, Luís dos Passos, Presidente do PRD, será a primeira vítima desta ingenuidade, caso venha mesmo a colocar seu cargo à disposição, na sequência daquilo que é chamado de “desaire” eleitoral de seu partido no último pleito eleitoral.

É verdade e como bem disse o político em causa, que os resultados estejam «muito abaixo do que a direcção do partido esperava e a partir de agora coloco o meu cargo à disposição para que nos próximos tempos, em Congresso ou Conferência Nacional, o partido possa definir quem vai continuar a dirigir os seus destinos. E sou o líder máximo do partido e tenho que assumir o ónus da vitória ou da derrota, e assim o fiz, apresentando o meu cargo à disposição», mas verdade seja dita e o Povo que entenda de uma vez por todas que o resultado em análise de maneira alguma reflecte a vontade expressa do povo angolano, caso os estrategas do regime, tais como Virgílio de Fontes Pereira, Hélder Viera Dias “Kopelipa” & Co, não tivessem executado seu plano astuto e maquiavélico de desvio e substituição de urnas contendo resultados previamente manipulados. Repito, por mais popular que fosse o Partido no poder, o que não é o caso, jamais os milhares de Kinguilas; os desterrados do Bairro Iraque no Kilamba Kiaxi; os milhares de mutilados que deambulam por Luanda e não só; os milhões de angolanos cansados do abuso da UPG- Unidade da Guarda Presidencial, que quando o Presidente da República esteja na cidade ou por ela passe, esta pára completamente por não ter como circular; os milhões de angolanos que não sentem directamente os efeitos do dito e muito falado crescimento económico e não só; jamais votariam pela continuidade de um regime totalitarista, progenitor de tanta injustiça social.
 
Por isso, os milhões de angolanos como eu que não se revêem nestes resultados, se perguntam com suficiente razão: para onde foram parar as urnas contendo a sua vontade realmente expressa?

Como se não bastasse e daí as minhas dúvidas quanto a posição tomada por Hugo dos Passos, pois ele mesmo diz que «Houve situações desagradáveis, como em Mucaba, província do Uíge, onde toda a população foi obrigada a votar no MPLA. O nosso secretário teve que fugir de lá devido a algumas acções de perseguição. Sabemos da falta de cadernos eleitorais em algumas mesas, eu próprio votei sem caderno eleitoral. Foi tudo escrito à esferográfica. São situações degradáveis que ocorreram», então porque insiste em demitir-se? Quantos milhões de dólares tereis recebido ao dares tal passo, ou será um simples acto de cobardia política?
 
Cobarde, hipócrita, cúmplice e irresponsável foi também a posição da Observação da União Europeia ás Eleições, que sinceramente, deixa a desejar. É uma grande falta de respeito e agressão a intelectualidade do angolano, dizer que as eleições constituem um “Desastre” e depois de apertada de cima: Paris, Berlim, Bruxelas, Roma e Washington, as eleições passaram a ser de repente “livres, justas e democráticas”? Mas então existirão dois pesos e duas medidas na aplicação de critérios para avaliação de pleitos? Para África qualquer tipo de eleições serve, para Europa apenas as que cumprem critérios e standard cívicos, próprios de um mundo “civilizado”. Afinal, nos olhos dos europeus e ocidentais, ainda não fazemos parte do mundo civilizado? Será que os estigmas que marcaram e caracterizaram a colonização europeia durante séculos, ainda não foram ultrapassados?
 
É evidente que factores tais como interesses económico e políticos dos países acima mencionados, pesaram sobremaneira no recuo traiçoeiro dos observadores europeus, mas também não é assim que se legitimam ditaduras.
 
Com mais de 80% dos votos, apenas menos 9,9% para atingir a proeza da Zanu-PF de Robert Mugabe, dos Partidos Comunistas em Cuba ou Coreia do Norte; ou mesmo do Partido Fatah do malogrado Saddam Hussein, o caminho está aberto para a alteração imediata da Constituição, pois soberba oportunidade como esta, os “estrategas” eleitorais já nomeados atrás, não perderiam. E tudo começaria com os seguintes dois cenários:
 
Esvaziamento dos poderes Presidenciais que deveriam ser consideravelmente reduzidos á beneficio de um Primeiro Ministro de extrema confiança e próximo do chefe de Estado actual, dentro da estratégia de prevenir que, caso de alguma coisa corra aquando das eleições Presidenciais de 2009, isto é, ainda que seja eleito um outro Presidente, o mesmo teria poderes extremamente esvaziados, ou
 
Reforço considerável dos poderes Presidenciais, caso até á altura das eleições Presidenciais, os “estrategas” cheguem a conclusão de que o terreno é palpável e as eleições estão no papo.
 
No concernente ao primeiro cenário, é ainda de mencionar que, seria preponderante que a Oposição não mais se guerreasse desnecessariamente entre si, conforme foi estupidamente durante as Legislativas, mas que formassem uma frente bem organizada para marcarem presença em todas as Assembleias e mesas de Voto o que não sucedeu nas Legislativas por razões óbvias tais como disponibilização tardia e propositada das verbas para a campanha eleitoral, para não falar de outras jogadas antecipadamente simuladas e bem executadas para aliciar sectores chaves tais como aumentos salariais de última hora as forças da ordem, defesa e segurança e não só, bem como distribuição de milhares de viaturas ligeiras, meio pesadas e pesadas, vindas expressamente de Dubai, Namíbia, África do Sul, Brasil, etc. Que Oposição teria peito e meios para contrabalançar tamanhos excessos, sem falar do papel relevante dos agentes do SINFO que inundaram todo país idos de Luanda e que começaram a regressar á “ base” apartir de segunda-feira depois missão cumprida?
 
Quanto aos que defendem que o povo se tenha “abominado” dos símbolos da Unita como fá-lo-ia, talvez um polaco ou um judeu, de seus detractores durante a segunda guerra mundial, dizer que não viveu e nem acompanhou o dia á dia do angolano sofredor. Por melhor que fosse o Programa de Abel Chivukuvuku, que até tenho certa simpatia para com ele, jamais poderia contrariar a cabala tão bem organizada, tanto mais que os angolanos não se querem dar ao trabalho de correr atrás ao prejuízo, pois isso em nada mudaria o cenário ou o status quo actual.
 
 
E é por estar a falar de status quo actual e em jeito de conclusão, que gostaria de elucidar aqueles leitores que gostariam de ver os valores percentuais traduzidos em números de assentos na composição da futura Assembleia Nacional, eis aqui uma breve compilação gráfica:
 
MPLA        81,76%      ca. 178 Deputados + 34 do que em 1992
UNITA       10,33%     ca.   23 Deputados – 47 do que em 1992
PRS            03,14%    ca.   07 Deputados + 01 do que em 1992
Total          95,23%    ca.  208 Deputados
Restantes:    4,77%    ca.   12 Deputados
 
Enfim, foi tudo bem orquestrado e não havia como. Apesar dos pesares, ganhou o Povo Angolano, mas perdeu a Democracia!
 
Fonte: Club-k.net