Lisboa - Quando os leitores estiverem a ler estas linhas, já teremos, na passada quarta-feira, 4 de Abril, celebrado, e esperamos que continuemos a exaltar, por muitos mais anos, os 10 anos de Paz em Angola.


Fonte: NJ


Recordamos a pungente assinatura celebrada por dois irmãos de armas e de Pátria mas desavindos em termos políticos, fomentado, em grande parte, por interesses terceiros.


Nestes 10 anos muito ocorreu, o que se saúda, mas, infelizmente, muito mais ainda está por ser concretizado ou mesmo, afinal, por planear, logo, por materializar.


Reconstruímos, ou estamos em vias disso, as ligações ferroviárias, grandes veículos de desenvolvimento económico local, regional e transnacional. Só se deseja é que alguma pressa não venha a ser inimiga de resistência e da inalterabilidade das vias.


Já houve eleições – embora e por enquanto só legislativas multipartidárias, desta vez, não belicamente contestadas – e prevê-se que ainda este ano, ocorram as segundas legislativas e, com elas, as hipotéticas primeiras presidenciais no decorrer do terceiro trimestre. Aguardamos que o povo, localmente, possa também ele dizer da sua justiça e escolher os seus governantes autárquicos.


Algumas centralidades – leia-se, novas localidades ou cidades-satélites, incorporadas em enormes e desajustadas metrópoles – estão a ser criadas com, no entanto, algumas críticas quanto à sua real sustentabilidade e operacionalidade. Como são recém-nadas e não haver reproduções de terceiras, vamos aguardar que as mesmas sejam, paulatinamente, melhoradas quanto às críticas nascidas.


As vias rodoviárias estão a ser recuperadas e, ou, novas emergem nas terras férteis de Angola. Todavia, e as fotos que correm nas páginas sociais e nos blogues são disso prova, nem todas estão a ser correctamente recuperadas dado que, quando as forças da natureza, tão fortes e pródigas no nosso continente, se assumem mostram como algumas recuperações foram feitas sem princípio, meio e fim, ou seja, sem uma verdadeira e clara consistência que evite novos custos quer de manutenção quer, mais grave, de re(re)cuperação.


E é por causa disso que algumas ONG reclamam de eventuais buracos na nossa economia e no nosso erário público. Alguns, fidedignos e verdadeiros tundavalas que levam aquelas a reclamarem junto das organizações político-económicas internacionais para a sua influência na resolução e esclarecimento das tais depressões.


Mas se económica e politicamente os 10 anos nos mostraram um País mais  emergente e a caminho de um pré-sustentado desenvolvimento, socialmente as coisas continuam a estarem um pouco estagnadas.


De quem é a culpa isso talvez caiba a todos nós.


Por um lado porque, no início, acolhemos a actual situação sem questionar outras vias. Por outro há vectores que continuam a ser totalmente indiscutíveis e, em absoluto, há quem não permita a sua questionabilidade.


Recordemos um slogan político de um determinado partido político, que dizia ser o Povo e este ser o partido. Se este dogma era aceitável até dada altura, 10 anos passados deixou de fazer qualquer sentido e, ainda mais, quando, ainda hoje, se o utiliza para ostracizar os espontâneos oponentes políticos.


São 10 anos de Paz, de todos, para todos e que não podem ser ximunados de e por ninguém, venha ele quem vier, seja de que natureza esteja subjacente.


Não esqueçamos que as milhares de vidas irmãs que se perderam num conflito néscio e, mais grave ainda, criado e fomentado por terceiros para benefício próprio.


Há 10 anos dois irmãos de armas e de Pátria, até aí naturalmente desavindos em termos políticos, em nome de toda uma Nação, decidiram colocar fim a um conflito armado.


As armas calaram-se; felizmente. Contudo, há crises sociais que nenhuma arma, por mais fatal ou mortífera que seja, consegue abafar a vontade de um Povo: a vontade de Liberdade e de partilhar a vida social e política.


Quando isso acontece, as crises sociais, políticas, académicas e laborais são demasiado intensas para que seja suficiente uma simples assinatura num papel para que se calem ou parem os seus supérfluos conflitos.


E só haverá realmente Paz quando não houver algum e qualquer tipo de conflito!


* Investigador do CEA-IUL (ISCTE)
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http://elcalmeida.net

Publicado no Novo Jornal, edição 220, de 6-Abril-2010, página 23