Luanda  - Reapareceu, enfim, o prémio de jornalismo ‘Ricardo de Melo’, obra da Sociedade Civil.


Fonte: Apostolado

“Visão Jornalística” da Rádio Ecclesia

Já deploramos nestas colunas o seu desaparecimento.
 
Surgira em finais de 2009, semeando imensa expectativa.
 
Na altura, afirmou-se como uma alternativa impoluta aos predecessores: ‘Maboque’ (privado ao modo angolano) e o estatal.
 
Credenciou-se logo em honradez pelo patrónimo, simbolismo do seu valor monetário e júri iconoclasta.
 
Equivalia aos módicos 5 mil USD contra os 100 mil e 30 mil dos outros ‘jackpots’, só citando este aspecto.
 
Reapareceu agora com todos os seus atributos de probidade.
 
E venceu-o o jornalista Alexandre Neto Solombe, um laureado de mérito profissional mais consolidado que na estréia.
 
O desempenho de Solombe e o seu órgão de afectação, ‘a Voz da América’, fazem diferença no panorama mediático actual do país.
 
Tratam os acontecimentos com exemplar tecnicidade do ofício.
 
Solombe viveu repetidamente os dissabores dos maus tratos policiais na cobertura das manifestações detestadas pelo poder.
 
Portanto, não é dos conformistas, cuja submissão encanta, curiosamente, os prémios dos critérios burocráticos.
 
Honra a Sociedade Civil, a escolha de um colega deste cariz, ostracizado inclusive por preconceitos ligados ao seu passado partidário.
 
Viu-se, da parte do júri, o profissional e mais nada.
 
A Sociedade Civil dá a medida da sua potencialidade de justiça contra o ostracismo de muitos profissionais, alvos de mesquinhices politiqueiras.
 
Oxalá assim seja, doravante, para frente.
 
Resta somente saber se a efeméride veio para ficar e não haverá quebras como as três edições perdidas.
 
Isso será possível se  o principal doador perseverar na sua magnanimidade.
 
Por enquanto, isto não parece evidente segundo as notícias que aludem uma postura pouco abonatória de tal doador em relação ao seu ideário teórico.
 
Todavia, apesar deste constrangimento, a Sociedade Civil pode superá-lo, à medida da sua tomada de consciência, mobilização e determinação em removê-lo.
 
Não o demonstrou no ano transacto, na campanha a favor do jornalista William Tonet, outro concorrente apontado mas superado desta vez na sentença do júri?
 
O júri manteve a insigne composição de Marcolino Moco (na liderança), Dra. Cesaltina Abreu (docente), Carlos Figueiredo (funcionário internacional), Luísa Rogério (secretária-geral do Sindicato de Jornalistas) e Ana Celeste (jurista e antiga jornalista). Justificou a sua escolha do galardoado «pelo trabalho exemplar no jornalismo de apoio a causas, por se esforçar em informar com objectividade e rigor, notando-se o respeito pelos preceitos éticos e deontológicos».
 

Segundo a sua acta lida na cerimónia de outorga, o júri deliberou por via electrónica. Em suma, pela II edição do seu prémio nacional dos direitos humanos, a Sociedade Civil deu sinal de alguma retomada de alento.
 

No mesmo registo, colocamos a estreia do jornalista Coque Mucuca, com um livro sobre as manifestações.
 
O jovem tem vindo a destacar-se na falange ascendente da linha dos fundadores do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA).
 
A sua mais-valia pode muito refrescar esta agremiação, que celebrou, a 29 de Março último, o 20ºaniversário natalício, palidamente.
 
O seu livro germinou da cobertura das manifestações, de que partilhara, não poucas vezes as agruras, na sua missão de informar.
 
Relatar, daquelas trincheiras, a verdade nua e crua – é sacerdócio do jornalismo!
 
(Uma co-produção de Siona Casimiro e P. Maurício Camuto. Apresentação de Tomás de Melo na rubrica ‘Visão Jornalística’ da Rádio Ecclesia, na quinta-feira 26 de Abril de 2012)