Luanda  - A sua carreira faz 12 anos. Começou a fazer coros e hoje é uma das vozes femininas mais respeitadas da música angolana. Simples, discreta, com uma vida pacata como nos confessa, está agora a preparar um novo disco. Mas tem mais projectos a caminho.

Fonte: Soulzouk


Nasceu na Lunda Sul mas sempre viveu em Luanda, no bairro do Sameko. A vontade de cantar veio da juventude, quando se habituou a ouvir outras cantoras e a ver os primeiros espectáculos. Como tinha algum jeito, começou a fazer coros para outros artistas em 1997, um primeiro passo que lhe deu a oportunidade de entrar no meio musical. Conheceu pessoas e projectos e, em 1999, juntamente com Margareth do Rosário e Djamila D’elves arrancou com o grupo Melomanias.


Um projecto que teve um grande impacto no final dos anos noventa, ligado a um novo movimento da música angolana onde o kizomba e o semba se misturavam sem quaisquer complexos. Foi o seu primeiro cartão de visita. “O grupo acabou por desfazer-se. Cada uma de nós queria ter uma carreira a solo. A primeira a sair foi a Margareth, e depois fui eu”.


O primeiro álbum


Em 2001 lança o seu primeiro álbum a solo, Sensual, um trabalho que foi muito bem recebido pelo público. Isso valeu-lhe ganhar rapidamente notoriedade e colocar-se, na altura, entre os novos nomes da nossa música. “Este foi um álbum em que fiz cerca de 90% das letras, sendo que as músicas foram feitas fundamentalmente pelo Jorge do Rosário. Há também uma faixa do Manu Soares”, refere Yola Araújo, que acrescenta, “Eu não tenho conhecimento musical do ponto de vista da formação. Nunca estudei. Faço as letras e entrego aos produtores, que depois fazem as melodias sobre as palavras”.


VENCE UM DISCO DE PRATA


Em 2003 tem um grande sucesso com o seu segundo disco, Um Pouco Diferente, foi disco de prata, sendo que em 2006 lança Diferente e Mais um Pouco. É também premiada em diversos concursos e por várias instituições. Um trajecto que a leva a fazer muitos espectáculos pelo país, “antes de começar a cantar não conhecia a província”, e a desenvolver parcerias com outros músicos. Vai solidificando a sua carreira juntamente com a vontade em melhorar a sua voz e a sua presença em palco.


Com toda a simplicidade construiu uma carreira que faz agora 12 anos. Tempo suficiente para fazer um primeiro balanço. “Penso que neste tempo amadureci bastante. Hoje tenho o ouvido mais apurado, percebo o que pode ou não ser um sucesso. Uma intuição que vamos desenvolvendo com os anos. Também melhorei bastante a minha postura no palco. Hoje é diferente. Aprendi bastante na forma de vestir e de dançar e, também eduquei a minha voz. Com o passar dos anos e com a experiência que vamos adquirindo, temos maior preocupação com os pormenores. Quero fazer sempre melhor”.


A experiência também se estende a outras áreas. “Também aprendi a seleccionar as pessoas com quem quero trabalhar. Tenho as minhas ideias, o meu projecto, e tenho que ter pessoas em quem confio para discutir os caminhos a percorrer. Isso faz-se com bons músicos, mas também com boas pessoas. Eu tenho os meus objectivos e sei onde quero estar. Por exemplo, o Heavi C produziu o meu segundo e terceiro álbum e é uma pessoa com quem gosto muito de trabalhar. Existe uma química própria que faz com que seja mais fácil que as coisas fiquem como quero”, explica a artista.

 

Como todos os cantores, também Yola Araújo divide a sua vida profissional entre os estúdios e o palco, num equilíbrio que nos explica: “Na verdade gosto de estar em estúdio a trabalhar. A ver as músicas crescerem. Mas também gosto muito do palco, do contacto com o público. Num espectáculo tenho sempre uma vontade enorme de entrar. É uma sensação muito boa”. A cantora faz também questão em reforçar o facto de gostar muito de cantar nas principais cidades da província, reconhecendo que hoje a carreira musical dos artistas não se faz apenas na capital, mas que já tem uma dimensão nacional.


vem aí O Quarto CD


Os projectos a curto prazo passam pela gravação de um quarto disco. “Tenho gravado um CD a cada três anos. Acho que é isso…”, diz com uma grande gargalhada, acrescentando, “estou agora numa altura de idealizar o novo disco. Possivelmente vou juntar produtores das Antilhas e de Cabo Verde. Hoje existe uma fusão entre as diversas culturas e os diversos artistas. Também é verdade que a música angolana começa a expandir--se para outros países, a sair de Angola. Não é muito fácil, mas o kizomba, o kuduro ou o semba começam a ser ouvidos em outros mercados.


No outro dia estava a ver um programa do Jô Soares na Globo e começo a ouvir um “raga” meu. E não foi a primeira vez. Isso é um sinal que estamos a furar algumas barreiras e podemos pensar em lançar os nossos discos em outros mercados”.


Ainda é prematuro dizer o que vai ser este quarto CD, mas Yola Araújo tem também como objectivo fazer um grande espectáculo que marque os 12 anos da sua carreira. “Este ano ainda quero fazer outro grande espectáculo em Luanda (depois do que fez no Karl Max no dia 28 de Março). E possivelmente levá-lo também a outras províncias onde tenho os meus fãs. Em Benguela, por exemplo, existe um público muito fiel à minha música”, revela.


Acrescente-se que a artista é hoje agenciada pela LS Produções. Prova que os artistas angolanos começam a ter profissionais sérios que sabem gerir as respectivas carreiras, o que se reflectirá na qualidade e no impacto do seu trabalho. Quer seja no país ou no estrangeiro.

Vive apenas da Música


Yola Araújo faz parte de uma geração de vozes femininas que nasceu nos finais dos anos noventa e inícios de 2000, onde estão nomes como Yola Semedo, Ary, Margareth do Rosário, Patrícia Faria, entre outros. Isto pode gerar naturais invejas e desconfianças entre elas, o que para a artista merece o seguinte comentário: “Aparentemente não! Isso não acontece. Pelo menos quando estamos juntas não existe esse sentimento. Do meu ponto de vista a concorrência é importante. Não achar que somos a melhor. Procuramos todas fazer coisas com mais qualidade e isso deve-se ao facto de existirem várias cantoras de qualidade. Penso que esta concorrência é boa para todas nós”, sublinha.


O espaço da música também é cada vez maior na sociedade. O que faz com que os artistas possam viver apenas do seu talento, o que não acontecia em anos passados quando os cantores tinham quase sempre outras profissões. Isso permite maior empenho e maior profissionalismo. “Eu vivo da música desde sempre. Tem dado certo. Deus tem-me agraciado com essa sorte”, diz com um rosto mais sério.


Em casa com a filha Ayani


Em casa a música também está presente. “Procuro ouvir diversos discos. Gosto do James Blunt, da fase espanhola da Christina Aguilera, mas também oiço música angolana com regularidade. Informo-me do que vai saindo e vou ouvindo o que posso”, explica Yola Araújo, confessando com um enorme sorriso, “sou muito “noveleira”. Gosto de estar em casa como a minha filha a ver as telenovelas que passam na televisão. Isso faz com que tenha menos tempo para ler e ouvir música. Mas sempre se arranja um espaço”.


Recorde-se que a cantora foi mãe recentemente, a sua filha nasceu apenas há quatro meses. “Chama-se Ayani, que significa flor bela em etíope. Naturalmente que uma filha altera um pouco a nossa rotina. Mas é possível manter a nossa carreira e as nossas obrigações com o apoio da família. Os meus pais e os meus sogros dão uma grande ajuda, o que aliás acontece em todos os casais”, explica, acrescentando, “Eu estava preparada e queria ser mãe. Isso faz com que as coisas sejam mais simples. Naturalmente que existem questões que se colocam quando tenho ensaios e espectáculos. Quando tenho de sair de Luanda. Mas tudo se resolve. As minhas irmãs também são muito importantes no equilíbrio da família. Neste aspecto sou bastante beneficiada”.


O equilíbrio emocional é muito importante para quem quer desenvolver uma carreira de sucesso. Yola Araújo vive há muitos anos com o seu marido, Fredy Costa, que tem também um profissão desgastante, é modelo e actor. “Na verdade conseguimos conjugar bem as nossas vidas. Normalmente almoçamos sempre juntos e ele chega a casa pelas 19/20 horas. Não existe nada de especial, somos como qualquer outro casal. Quando ele tem gravações à noite é que se quebra a rotina. Quando tenho espectáculos fora de Luanda ele acompanha-me quase sempre, pelo que passamos muito tempo juntos. Tenho uma vida tranquila, nada de complicado”, revela a cantora.


Planos para o futuro

 

Inquirida sobre como se vê daqui a vinte anos, respondeu:“Não parei para pensar o que será a minha vida daqui a 15 ou 20 anos. Uma coisa sabemos, queremos ser independentes e isso passa também pela vertente financeira. Vamos desenvolver negócios nossos para podermos ser patrões de nós mesmos. Esse é um objectivo que temos e no qual estamos a trabalhar”.


Também não se esquece da vertente da solidariedade. “Gostava de fazer algo em benefício dos outros. Sempre foi uma preocupação minha. Existem outras pessoas com mais necessidades e nós podemos contribuir. Faço muitas aparições em espectáculos para causas sociais ou actividades de beneficência. Isso faz-nos também ficar bem connosco. Temos que ser mais solidários numa sociedade que é cada vez mais competitiva”, diz Yola Araújo a terminar.


Uma cantora sensual


Yola Araúo é casada com Fredy Costa, modelo e actor. Foi mãe há apenas quatro meses. A filha é orgulho do casal. Chama-se Ayani, que significa “flor bela” em etíope. Hoje considera-se uma pessoa diferente da jovem que lançou o primeiro álbum Sensual. “Hoje tenho o ouvido mais apurado. Percebo o que pode ou não ser um sucesso. Também melhorei bastante a minha postura no palco. Também aprendi a seleccionar as pessoas com quem quero trabalhar”, diz a cantora


Yolete, a sucessora


A artista é a mais velha de quatro irmãs e a única que assumiu a música como profissão. Não existem raízes musicais na sua família, excepto do lado do seu avô. “Ele não era profissional. Mas tinha uma excelente voz. Cantava no quintal, nas reuniões de amigos”. Por isso não foi fácil aceitarem esta escolha. “No início da minha carreira, o meu pai era falecido e a minha mãe não aceitou. Achava mais importante que eu continuasse a estudar. Mas à medida que a minha carreira foi crescendo, ela passou a gostar e hoje é a minha fã número um”, diz bem-disposta, acrescentando sobre quem lhe vai seguir as pisadas na família, “tenho uma sobrinha, Yolete, que também pode vir a ser artista. Diz sempre que quer ser cantora como a tia”.