Luanda  - A Frente de Libertação do Enclave de Cabinda é o conhecido grupo armado que se intitula libertador dos povos mbinda, devido a perpetuação da reivindicação pela independência desta parte do território nacional.


Fonte: Club-k.net


ImageVolta e meia a opinião pública teve contacto com notícias sobre o envolvimento dos ditos guerrilheiros da FLEC em raptos, chacinas, emboscadas e vários actos de banditismo, cujo alvo preferencial e cobarde sempre foram pessoas indefesas e desarmadas, bem como militares e policias desarmados. O último acto, que se tornou “emblema” desse grupo foi sem dúvida, o ataque à caravana da selecção do Togo, na véspera da realização do CAN 2010 em Angola.


 
A questão que se coloca e achamos pertinente, é que, à medida que o tempo passa, se consolida o facto de que os líderes da FLEC e suas derivações são o principal empecilho do processo de pacificação de Cabinda, pois são instrumentalizados por forças políticas externas e mesmo “lobbies” de outros Estados, à partir da RDC e da República do Congo/Brazaville, com o propósito único de causar instabilidade.


A miopia política dos líderes deste “movimento” é congénita, pois, se recuarmos no tempo, a  1963, quando o Movimento para a Libertação do Enclave de Cabinda (MLEC), então liderado por Luiz Ranque Franque, bastante conhecido pela sua intransigência, o Comité de Acção da União Nacional de Cabinda (CAUNC) e a Aliança Nacional Mayombe (ALLIAMA) fundiram-se para formar a FLEC e, a  priori, já acarretavam problemas de interpretação do Tratado de Simulambuco (1885).

 

Devido a idolatria pelo poder e por estarem a leste das acções dos outros movimentos de libertação, a FLEC proclamou a independência de Cabinda, em 1975, chegando a formar um dito “governo provisório”, tendo Henriques Nzita Tiago como chefe, enquanto Luiz Ranque Franque ocupava o cargo de presidente. Porém, devido às diferentes ideologias, ambições políticas, compromissos com entidades estrangeiras e, o denominador comum, a exacerbada idolatria pelo poder, esse movimento encontrou sempre entraves na coabitação dos seus membros, razão pela qual se dividiu em três facções, nomeadamente, uma FLEC de Ranque Franque, uma FLEC de N'Zita Tiago, e outra FLEC de Xavier Lubota.


Em 1977 surgiu outra facção desse movimento, pelos mesmos motivos já supracitados, o Comando Militar de Libertação de Cabinda. Um ano depois assiste-se ao aparecimento de outra facção, criada a partir das hostes das Forças Armadas de Libertação de Cabinda, denominada Movimento Popular de Libertação de Cabinda (MPLC). 


Após um longo período em que essas facções serviram de “paus mandados” da UNITA e da África do Sul, no final dos anos 80, surgem mais duas facções: O Comité Comunista de Cabinda (CCC) de Kaya Mohamed Yay e a União Nacional de Libertação de Cabinda, cujo timoneiro era Lumingu Luís Gimby.


Em suma, podemos aferir que o grande “calcanhar de Aquilles” para a questão de Cabinda são as lideranças desses pseudo-movimentos de libertação, pelo facto de se preocuparem mais com “financiamentos externos”, e não só, para manterem o seu “status”, assim como não terem definido, até à data, os objectivos que nortearam a sua criação.


Assim, como diz o adágio popular que “na luta de dois elefantes quem sofre é o capim”, os angolanos de Cabinda têm passado por momentos lamentáveis, porquanto são reféns de uma gang que pretende atingir propósitos estabelecidos por potências estrangeiras.


ImageSe buscarmos as origens desses líderes “movidos a petróleo”, veremos que têm laços de consanguinidade com habitantes de outros países limítrofes. Daí a falta de um projecto de governo para o enclave. Alguns cépticos crêem mesmo que, se essa região se tornar independente, as várias facções iniciarão um conflito pela tomada do poder sem precedentes que mergulhará o território num banho de sangue, pois cada uma quer ser a interlocutora válida da negociação do petróleo.


 Atenção! Nem só de petróleo vive o homem. A população de Cabinda deve perceber as verdadeiras intenções dos líderes destes movimentos que criam dificuldades em todas negociações com o Executivo, incitando muitos técnicos a sabotarem a implementação dos programas e projectos definidos pelo governo central, por formas a perpetuar o sentimento de exclusão, baseada na ideia de que o Governo é responsável pela crise económica, social e politica dessa província.

 

Há que ter em causa, também, a questão da dificuldade de coabitação entre as várias facções, pois, não se compreende que, se o objectivo é comum e são irmãos de sangue, por que razão a cisão é cíclica? Será que não estamos a assistir a uma novela semelhante ao Caso da Líbia, em que cada movimento lutava por uma franja do território e pelo petróleo em resultado do qual logo após o derrube de Muammar Khadaffi o Estado se tornou inseguro como nunca??


Um aspecto, no mínimo curioso, mas que não acontece por acaso e que sempre que surge um interlocutor da FLEC para as negociações com o Governo, os outros membros do circo acusam-no de ser traidor e que não se revêm no mesmo e como tal, não os representa e a população não o reconhece. Instigam igualmente a população a não o reconhece. Porque? A resposta é simples: o estado de instabilidade de Cabinda beneficia essas lideranças, na medida em que conseguem desta forma manter os subsídios que recebem do estrangeiro para subverter a ordem, ao mesmo tempo que, internamente, só assim conseguem ter alguma notoriedade política e social.


Deste modo, como o Executivo, o povo angolano, a população de Cabinda, em particular, não cede em criar Nzita Tiago ter declarado estar pronto a negociar a paz para Cabinda, e nomeado um representante de nacionalidade para influenciar, surge a notícia da sua destituição.


O actual “novo presidente eleito” Afonso Massanga, aparece coadjuvado por Stephane Barros que era até pouco tempo representante da FLEC em Portugal e não só, sendo este o verdadeiro “mandante”, embora camuflado no cargo de vice-presidente.


Assim a história se repete, os actuais cabecilhas do movimento revogam “todos os compromissos assumidos por Nzita Tiago, Bento Bembe e outros com o Executivo”. Logo, temos que nos convir que eventualmente quando Afonso Massanga se decidir para negociações com as autoridades, os restantes gangsters da floresta também o chamarão de persona non grata e o destituirão. É um ciclo vicioso que iniciou em 1975.


Resta-nos esperar pelo próximo episódio, desta novela que alguns auto-denominados representantes do “povo de Cabinda” temem em não pôr um fim. 

25 de Abril de 2012