Maiorias esmagadoras retrocesso ao processo democrático

A vitória do MPLA deve ser entendida como um conjunto de oportunidades, assim como um conjunto de desafios. São oportunidades porque agora, a governar sozinho todos os ministérios e os governos provinciais, terá a oportunidade de demonstrar que no seu partido tem quadros competentes capazes de erguer obras físicas, fazer uma distribuição mais equitativa das riquezas nacionais e diminuir ou mesmo tentar anular os índices de pobreza, corrupção e delinquência juvenil por meio de políticas socias e económicas sérias. O novo governo ver-se-á na possibilidade de criar leis mais justas e mais eficientes, assim como criar regulamentos e mecanismos para que tais leis possam ser efectivadas.

Por outro lado, o novo governo com uma maioria absolutíssima (mais de 80 por cento), legitimada pelo povo, deverá ter em atenção que os cerca de 20 por cento de votos espalhados pela oposição, representam uma porção de cidadãos pertecentes a outras forças políticas ou mesmo a nenhuma, mas que são angolanos e que têm uma perspectiva diferente.

O Governo, deverá, por isso, ter em atenção os direitos e as liberdades fundamentais dos cidadãos, em primeiro plano. Se a maioria dos angolanos confiou o MPLA para governar foi porque acreditou nos seus programas. E este, por sua vez, terá a responsabilidade de não gorar as espectativas do eleitorado.

Numa altura em que vários analistas defendem que as maiorias esmagadoras são um retrocesso ao processo democrático - já que o partido ao ver-se de repente com tal maioria corre o risco de se tornar mais arrogante, voltar ao sistema de partido único e desinteressar-se pelos assuntos de interesse nacional em detrimento dos partidários – gostaria de poder dar o benefício da dúvida e esperar pelas cenas dos próximos capítulos.

Talvez nesta altura as condições técnicas já estarão criadas para os angolanos na diáspora poderem votar. No entanto, quer estejam criadas as condições técnicas quer não, nós estaremos aquí, afinal os anos passam num instante, quanto mais quatro anos…

* Humberto Costa
Fonte : Nove Ilhas