Luanda  - Este título deve-se à tão difundida publicidade incentivando a reactualização e o registo do voto passada pela imprensa nacional. Talvez por eu ser da época do kuduro, como dizem-me muitos cotas, e admito que sou mesmo, gostei daquela propaganda em que entravam muitos kuduristas e utilizavam uma versão da música “Vamos lá”, da autoria do Madruga Yoyo, rico nome, e cantavam assim: Vamos lá ao voto. Mais coisa ou menos coisa, mas era quase isso.


Fonte: Club-k.net


Não fui lá nem com o vamos lá porque não senti-me motivado a desrespeitar a constituição mesmo sabendo que não votarei num acto tão importante na história de um país, e lembro-me de já ter explicado as razões que levaram-me a não fazê-lo no artigo intitulado “Razões para não votar em 2012”, publicado pelo Club-K e também no semanário Folha 8. Desta vez apresento uma súmula do que é, será e está sendo feito com os cartões de eleitor daqueles que registaram-se e os que actualizaram.


O processo de fraude é montado a partir do momento em que o cartão de voto passa pelas máquinas utilizadas nos postos de registo. Parece impossível acontecer isso mas não é, aliás, é muito fácil. Basta confirmar-se que o eleitor x votará nas próximas eleições e é suficiente para que passe automaticamente como já votante através do FICRE.

 

O FICRE é o sector em que se armazena toda informação sobre os eleitores inscritos, existentes, actualizados e, como é óbvio, quem detêm todas essas informações é o partido que governa Angola, portanto, ditocratas como são, não aceitarão perder nem correr esse risco, e antecipadamente preparam todo o esquema para uma vitória esmagadora novamente. A partir do FICRE é onde se faz o escrutínio para apresentação dos resultados eleitorais. Ironia.

 

Estamos paiados. O cota Bornito está lá, mais uma vez. Esta também é a resposta exata que a oposição encontrou quando decidiu fazer auditoria ao Ficheiro Informático Central do Registo Eleitoral, permitindo apenas a UNITA fazer tal visita, após várias tentativas. Simplesmente uma forma de ludibriar a imprensa.


Registar-se e fazer actualização foi como cair no conto do vigário, por isso foi mobilizado todo o aparelho do Estado, seja qual fosse, para entrar na dança da cadeira, e existiu muitos que ficaram sem cadeira por não aceitarem compactuar com o “vamos lá”.


Músicos que não aceitaram mobilizar o pessoal para registar-se ficaram sem espetáculos, professores ficaram sem salários, jornalistas perderam algumas fontes, jogadores não jogaram, e muito outros.

 

Até em casa dos cidadãos eles foram mobilizar, sou o exemplo disso. O 1º secretário do M na minha banda foi à casa perguntar-me se já me registei e insistia que tinha de ir fazê-lo. A campanha massiva para aderência ao registo denunciava grosseiramente que era a única forma do partido “sim chefe” conseguir, de forma musculada, ganhar o próximo pleito com… deixa ver… talvez 96,9% dos votos.


Não sei qual o partido político que ficou de fora desta algazarra com cheiro de fraude à que chamo agora de “vamos lá”. Não lembro.


Quando no parlamento a UNITA abandonou a secção por renunciar participar na morte da constituição e o PRS posteriormente também mostrou sua indignação quanto à discussão da aprovação do pacote eleitoral, volta e meia são os mesmos que incentivam a “vamos lá”. Mas me pergunto se vão onde? Não é desta forma que o MPLA perderá as eleições, podem crer que não é este ano que sairão do Futungo.


Enquanto as mentes angolanas estarem dispostas a viver sobre a dança dos que governam o país há 37 anos, Angola não será livre nem um pouco mais ou menos.


Leitores, por favor, raciocinem. Por acaso Khadafi, Gbagbo, Ben Ali, Hosni Mubarack, Fidel Castro e tantos outros, saíram do poder ao perder as eleições?


Mas o certo é que o mal está feito. A CNE é dependente. O MAT é um órgão executivo. E agora? Quid Iuris?


A solução é não entrar na onda do desrespeito e incumprimento da Constituição, e foi o que fiz, não fui no vamos lá.