Um dia os homens compreenderão que a democracia partidária não é inclusiva quando compreenderem que o Bem-Comum não é uma mercadoria; quando o pobre tomar a consciência de que a sua pobreza não é obra da natureza, mas das injustiças de que é vítima; quando o eleitor se libertar da instrumentalização da sua vontade política enquanto fonte legitimador de pequenos grupos de homens que detêm o poder político efectivo, periodicamente;

Um dia os homens se unirão quando a vontade política popular deixar de ser comprada por discursos enganosos, dinheiros, cargos ou títulos, bens materiais ou por intimidações e quando compreenderem que o princípio da igualdade não semeia privilégios, classes nem discrimina em razão da ideologia ou condição.

É menos discutível que a caça ao voto tornou torpe a consciência crítica do homem. Ou seja, a violência da informação, ou melhor, do nevoeiro informacional, como dizia o meu professor, suportada pela banalização da ética e da verdade empobreceu o discernimento tendo, por conseguinte, queimado a fronteira entre o verdadeiro e o falso, a crença (sentimento) e a razão e, finalmente, entre o aparente e o essencial. Injustamente, desse viés emerge uma vontade não soberana, mas pródiga (movediça) de que se nutre o coveiro da verdade política.

Um dia os homens compreenderão que a política não é um jogo quando constatarem que o Diabo não é um tentador, mas um promotor de campanhas eleitorais para que o seu reino não morra. Sabe-se, porventura, o que se pode esperar do resultado de um jogo? Política não é um laboratório de experiências, mas uma certeza ao serviço de todos. Por isso, a política não é para os ideólogos, mas para os ministros, entenda-se, servidores, por vocação. Atribuir-se-á ao servidor a dimensão de libertador do homem da injustiça, da hipocrisia, da discriminação, da mendicidade, da falsidade, da corrupção.

Um dia a democracia partidária deixará de coisificar a vontade da pessoa =número quando a política deixar de ser a arma da vitória de uns e derrota de outros.

Sabe-se que a ditadura não é obra do monopartidarismo ou das monarquias. Os ditadores não são os sistemas, mas os homens quer em democracias multipartidárias, em sistemas socialistas monopartidários quer em monarquias ou aristocracias. São os homens que semeiam a guerra e fazem a paz; são os homens que cultivam a riqueza ou semeiam a pobreza; são os homens que dignificam as instituições ou as corrompem e são eles que acolhem ou perseguem, torturam e matam o outro homem. Por isso, um dia os homens saberão que servir em política não tem cores.

Um dia os homens compreenderão que política não é fariseísmo que para dar pão ao pobre chama aos olhos do mundo a imprensa para publicitar que é caridoso; um dia os homens compreenderão que os programas falarão menos que o serviço; um dia deixarão de existir maiorias e minorias quando todos participarem das grandes decisões do país e serem ouvidos sem a ditadura do número e das cores partidárias porque a política não exclui nem coloca em diferentes segmentos pobres e ricos.

Um dia os homens hão-de compreender que a democracia partidária não é inclusiva.

Fonte: A Capital