Luanda - Olhando para o que são os alvos preferenciais da “agenda-setting”, o sentimento de verdade deve admitir (até mesmo pela minha experiência de comunicador), que os idosos nunca foram prioridade. E quando a velhice e tudo que está a sua volta vem a tona na mídia a narrativa é amiúde negativa.


Fonte: Club-k.net

 

Apresenta-se a velhice como sinal de dor, sofrimento, solidão profunda, dependência, ausência de lucidez e regresso a uma espécie de “infância velha”, porque é uma idade em que se fica sob tutela e confinamento. Não poucas vezes veiculasse a ideia de que a gerontologia não vale apena, por isso nem sequer se pode desejar. Esta visão é expressa nas seguintes frases: “esta nã é vida”; “De preferência morrer”; “Eu não gostaria ter mais de 60 anos”. Por detrás destas proposições também se esconde uma cosmobiologia utilitarista, que parece ser prevalecente...!

 

Vale recordar que a cultura Bantu é intrinsecamente benevolente em relação a velhice. Valoriza profundamente a sua sapiência, sua experiência existencial decorrente dos longos anos. Freqüentemente os avôs e as avós reunem com os netos em baixo da mulemba ou na cozinha para transmitir provérbios,  estórias, lendas e outros saberes que ele entende serem necessários para a vida.  Apesar desta benevolência que sempre marcou a tradição, não se pode deixar de denunciar com alguma insatisfação a forma como hoje nos centros urnbanos de alguns lugares de África o velho é desprezado, negando toda uma herança positiva sobre a última fase cronológica da pessoa humana. 


A mídia deve passar uma visão positiva da velhice, como uma fase da vida que possui as sua riquezas e mazelas, tal como as anteriores. Por sua vez, os governos e a família humana global deve convergir esforços para promover actividades que mantém os velhos activos, por exemplo: jardinagem, ginástica de baixa intensidade, vigília comunitária, formação contínua em novas TICs, fotografia,  meetings, club de leitura, integrá-los na criação de boletins intergeracionais, passeios turísticos e outras actividades escolhidas por eles usando da sua liberdade, mas dentro de uma atmosfera de cooperação com as gerações mais novas, em que cada uma aprende com a outra e permite que haja das anteriores a solidariedade geracional para com os idosos.


A teoria dos direitos humanos criou uma categoria, eloqüentemente denominada “grupos vulneráveis”, dentro da qual está o idoso pelos limites reais que não se pode ignorar. Destes limites justifica o apelo que o pontífice de feliz memória (JP II) fez para que se preste atenção que se traduz numa pensão justa, assistência social que leve em conta a velha e o velho em toda a sua dignidade. Em fim, esta idade não pode ser excluída do rol de direitos conquistados nesta época: direitos políticos, sociais, culturais, económicos e bioéticos. 


Pela sua psicologia e agravado pelo estilo da sociedade pós-moderna, a velhice é cada vez mais invisibilizada, tanto na mídia, quanto noutras dimensões que compõem a sociedade. A mídia tem o grave dever de trazer o velho à luz, para que possa sair do esconderijo onde a sociedade e sua psicologia o remeteu, para que ele possa viver os últimos dias com gozo e atinja o direito à felicidade como diria a constituição americana, se remontarmos a história. Pela sua capacidade de permitir que o ser apareça, parece não haver outro areópago, se não a mídia para que a velha e o velho estejam de volta ao convívio humano e de forma positiva, com auto-estema. Homens das comunicações, cumpram o vosso papel e dever, sejam parceiros do idoso para que ganhe ou recupere o seu reconhecimento. Reconhecimento que merece. Reconhecer a velha e o velho não constitui nenhum favor. Pelo contrário, constitui sinal do reconhecimento da tua humanidade e da humanidade da  velhice.