Luanda -  O escritor angolano, Pepetela (na foto), nega qualquer envolvimento na “Comissão das Lágrimas”, criada pelo MPLA, com o objetivo de ouvir depoimentos de inteletuais, presos após do 27 de maio de 1977.


Fonte: DW


Pepetela e Luandino Vieira, dois ícones da literatura angolana, são apontados como tendo feito parte da “Comissão das Lágrimas”, criada pela direção do MPLA, o partido no poder em Angola. O objetivo desta comissão era recolher depoimentos de inteletuais presos no âmbito das manifestações populares de 27 de maio de 1977, que o então presidente Agostinho Neto classificou de tentativa de golpe de Estado.


Além de Pepetela e Luandino, são citados, entre outros, os nomes de Manuel Rui Monteiro, Henrique Abranches e Costa Andrade, segundo revelou em entrevista à DW África a investigadora Dalila Mateus, autora do livro “Purga em Angola”, lançado em 2007, que retrata este trágico episódio da história de Angola, ocorrido há 35 anos em Luanda.


Questionado em DW África, Pepetela nega que tenha feito parte da referida comissão. ”Contam-se muitas histórias e escreve-se muita coisa falsa sobre, para já não houve nenhuma Comissão das Lágrimas que eu saiba. Duvido muito que o Luandino tenha estado nalguma coisa dessas”. Contudo, Pepetela considera que o poder político devia por as provas que tem, só ele é que tem, para as pessoas avaliarem, o que eu tenho dito sempre é que quem tem que explicar isso é quem estava no poder”.


Para este escritor, uma verdadeira reconciliação em Angola implica resolver episódios que mancham a história do país, como é o caso de 27 de maio.


Em entrevista à DW África, Pepetela fala também do percurso da literatura angolana pós-independência e considera que nos últimos anos baixou significativamente a qualidade da produção literária em Angola. Embora haja algumas exceções entre os novos talentos. São vários os fatores, aponta o escritor. Um deles prende-se com a qualidade do ensino da língua portuguesa, além disso “os mais jovens lêem pouco porque os livros são muito caros” e “há deficiências no ensino e dificuldades na própria edição”, salienta Pepetela.


Prémio Camões em 1997, o escritor angolano, de ascendência portuguesa, é autor de vários títulos, entre romances, ensaios e contos, assumindo depois da independência uma posição crítica face à situação da Angola contemporânea.