Voto de confiança mas ... esperança dum povo

O que principalmente deverá ser valorizado, é que a campanha e as eleições decorreram praticamente sem incidentes, com excepção das falhas de organização que se registaram em Luanda e que o próprio MPLA reconheceu e as autoridades locais responsáveis tudo fizeram por minorar. Os problemas que em alguns casos se verificaram, de forma alguma são razão suficiente para pôr em causa todo um processo que marca uma viragem histórica na consolidação da democracia e da estabilidade em Angola, que os próprios partidos concorrentes demonstraram desejar acima de tudo. Mesmo assim, alguns episódios menores poderiam ter sido evitados. Como aqueles que conduziram ao cerceamento de vistos a correspondentes estrangeiros que intentavam fazer a cobertura jornalística do acto eleitoral. Uma atitude gratuita, de reduzido interesse, que se quedaria a marcar de forma desnecessária o processo, sem qualquer benefício útil para a boa imagem das eleições democráticas angolanas. Essa, foi garantida pela expressiva participação dos angolanos que assim demonstraram o seu empenho na definição dos destinos do seu país.

Os observadores estrangeiros são unânimes em reconhecer que as eleições foram livres e transparentes. Entre eles contam-se a Comunidade de países de Língua Portuguesa, a Comunidade dos países da África Austral, a Comunidade Económica dos Estados da África Central ou o Parlamento Panafricano e a própria União Europeia que, sempre exigente no tocante às credenciais democráticas, não se eximiu de classificar de “transparentes” estas eleições. É certo que todos desejaríamos que todo o processo eleitoral se tivesse pautado pela irrepreensibilidade a todos os títulos, mas sabemos muito bem que por vezes o óptimo é inimigo do bom. E fazer eleições que foram reconhecidas como sendo livres e transparentes, depois de décadas de guerra, num país que ainda não sarou totalmente as suas feridas, onde ainda subsistem grandes fragilidades estruturais e administrativas e em que há 16 anos se não realizavam eleições livres, é um sinal importantíssimo cujas consequências a nível do progresso e da democracia devem ser encorajadas sem hesitação.

É, de facto, de saudar a maturidade política evidenciada pelo espectro político-partidário angolano, ressaltando desde logo a maturidade cívica do MPLA, parceiro do PS na Internacional Socialista, bem como a dos demais partidos concorrentes, alguns com mais responsabilidades, como a UNITA, o PRS ou a FNLA, que evidenciaram um elevado sentido democrático, ao respeitarem o primado da lei e ao incentivarem a participação popular democrática. Ninguém em Angola quer que se repita a tragédia pós-eleitoral de há 16 anos nem tão pouco pretende ver editados na pátria angolana os tristes exemplos das recentes eleições no Quénia ou no Zimbabué.

Se os sinais vindos de Angola constituem uma esperança para uma evolução positiva no país, não devem ser os de fora a atiçar os ânimos, com o risco de se perder tudo o que se conseguiu num país onde, compreensivelmente, a fronteira entre a estabilidade e o conflito é muito ténue e em que todos os sinais de vontade de progresso e democracia devem ser aproveitados avidamente.

A verdade é que, apesar dos problemas que subsistem em termos de desenvolvimento humano, tem havido um assinalável progresso social e económico, tanto no aumento de escolas e de alunos como de hospitais, na construção de infra-estruturas e na diversificação da actividade económica, muita dela por via do investimento estrangeiro, do qual Portugal é hoje um dos principais parceiros.

Além disso, o Presidente Eduardo dos Santos e o MPLA assumiram o claro compromisso de combater a corrupção e de se envolverem mais no progresso social e económico, para que todos possam beneficiar melhor das imensas riquezas do país. E esta é uma oportunidade importante que toda a sociedade angolana deve aproveitar.

Os angolanos perceberam claramente todos estes sinais, quer os dos investimentos públicos e privados quer os dos compromissos assumidos pelos dirigentes políticos. Ao votarem tão maciçamente no MPLA, concederam ao partido maioritário angolano um expressivo voto de confiança mas, também, lhe conferiram uma grande responsabilidade, a de gestores da esperança dum povo que, após décadas de guerra, aspira hoje, sobretudo, aos benefícios do progresso e do desenvolvimento.

* José Lello
Fonte: Diario Economico