Brasil - O programa do Governo que criou uma marca para valorizar os produtos nacionais lança-se à proposta de estimular a produtividade, aliada a qualidade, para promover o consumo interno, reduzir a importação e incentivar a exportação. Se estamos preparados para enfrentá-lo, só o futuro vai nos dizer.


Fonte: SA


Depois de dez anos de paz e com o despontar de uma indústria que já se faz sentir, adicionada aos sectores de prestação de serviços e comércio, num universo onde o consumo não pára de subir, o lançamento da marca «Feito em Angola», recentemente, em Luanda, afigura-se como um desafio para o país habituado a importar quase tudo.


A prática da importação, sem referências paralelas na produção interna, criou raízes na conjectura do conflito armado que se viveu no país e, agora, está intimamente ligado às consequências dessa mesma guerra que tinha destruído praticamente toda estrutura industrializadora.


Hoje a importação tornou-se uma cultura integrada no contexto do consumismo globalizado, no âmbito do comércio internacional e da cooperação entre os povos. É com vista a fazer parte, de forma activa, nessa universalidade que o «Feito em Angola» aparece e precisa realmente buscar o seu lugar. Primeiro no mercado interno e, depois, no mercado externo.


O comércio em Angola ainda não conseguiu atingir todos os pontos do país de modo a responder as necessidades da população. O sector da prestação de serviços cresce na medida do comércio, dos serviços públicos e do desenvolvimento da indústria que se encontra numa fase incubadora. Essas condições mostram que o programa Feito em Angola chegou num momento em que o país está a reestruturar-se: a cadeia produtiva está no «embrião» e muitos produtos nacionais já fazem parte do mercado nacional.


Entretanto, esse mercado nacional, que está «viciado» com o produto importado, ainda não consegue olhar com bons olhos para a produção doméstica. Estranha e desdenha. Talvez por isso mesmo as prateiras dos mercados de grandes superfícies não tenham quase produtos nacionais, mesmo aqueles que já são produzidos cá. É esse o quadro que se quer inverter com o programa «Feito em Angola».


No lançamento da marca, a mais ou menos duas semanas,  de um total de 70 empresas convidadas, 45 responderam positivamente. Algumas delas, como a Industria Angolana de Óleos Vegetais - INDUVE, a Sociedade Nacional de Combustíveis - Sonangol, o Banco do Comércio e Indústria - BCI e o Banco Angolano de Investimento – BAI, integram o programa como associados-fundadores.


De acordo com o ministro de Estado e da Coordenação Económica, Manuel Vicente, na ocasião do lançamento da marca, o «Feito em Angola» é um programa de dinamização da produção e procura dos produtos e serviços de valor acrescentado angolano, esforço este que surge identificado como uma acção estruturante da Estratégia “Angola 2025”, protagonizada pelo Executivo central.


Para o governante, a dinamização da procura dos produtos e serviços nacionais assume grande importância num contexto em que Angola enfrenta o desafio de reduzir a sua dependência em relação ao exterior, convergindo esforços no sentido de substituir as importações pela produção interna e promover exportações.


Mas o consumidor é quem faz o mercado. E não será tão fácil fazê-lo trocar de marca. O consumo tem o seu espírito de fidelidade relacionado com factores como a qualidade, o preço e a «força» da marca. Embora, no caso do nosso mercado, sejam muito mais as necessidades primários que determinam o consumo do que esses factores. A maioria da população economicamente activa ainda não ganha para se dar ao luxo de escolher qualidade e fidelizar-se a marcas.


Todavia, olhando-se para o quadro geral desse aspecto, Manuel Vicente salientou que o «Feito em Angola» compromete-se a educar o consumidor na preferência pelos produtos e serviços nacionais, garantindo que esta procura seja correspondida, ao estimular as empresas a produzirem e servirem com qualidade.


O Executivo ao buscar promover as empresas nacionais deve encarregar-se de conceder os inerentes benefícios, a médio e a longo prazos, pois a iniciativa foi elaborada em apoio as pequenas e médias empresas e no quadro dos estímulos que se pretendem dar à economia, incentivando todos os agentes económicos nacionais a dedicarem-se a produção e a melhorarem de qualidade.


De um modo geral a promoção da produção nacional não só concorre para a geração de empregos, para a diminuição da dependência de importações e para o consequente reequilíbrio da balança comercial, como referiu o ministro de Estado e da Coordenação Económica, mas também é um factor de incentivo ao patriotismo e ao estímo a favor da unidade nacional em todos quadrantes.


De facto, como disse Manuel Vicente, a protecção e o desenvolvimento da base produtiva já existente, acompanhados por um vigoroso incentivo a novos investimentos na geração nacional de valor acrescentado, constituindo tal pressuposto um ponto de partida inequívoco para o desenvolvimento da economia nacional. Mas a realidade mostra que, mesmo assim, o governo ainda fica a dever, pois as coisas ainda não funcionam como se deve.
 

No entanto, «creio que o programa promete», tal como acredita e enfatizou a ministra do Planeamento, Ana Dias Lourenço, para quem os empresários, os consumidores e os prestadores de serviços devem sentir-se orgulhosos com a marca «Feito em Angola», por isso, «vão ter que primar pela qualidade e pela prestação de um melhor serviço para o bem de todos».


«Nós precisamos de ter algo que, em qualquer parte do mundo, quando se olha, se diga, isto é feito em Angola». Essas palavras do presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, mostram a importância que o programa deve ter para todos. «Em Angola todos têm de gostar do produto nacional, esta é uma referência que nós temos de dar ao consumidor», recomenda o dirigente da AIA.
 

Com uma produção feita em Angola, a tendência natural é haver mais salário e, concomitantemente, aumentar mais o consumir. Com o «Feito em Angola», diz José Severino que «desenvolvemos uma imagem de marca para os nossos produtos e serviços; será esta imagem que identificará os produtos e serviços de referência perante os consumidores nacionais e internacionais». Este é o desafio do Estado angolano, do empresariado nacional e dos consumidores angolanos. Para saber se estamos preparados para enfrenta-lo, só o futuro vai dizer.