Está muito disseminada em Angola uma ideia que associa as condutas consideradas “subservientes” de Portugal em relação ao regime do MPLA, a políticas destinadas a promover interesses económicos e empresariais portugueses. Os interesses políticos e de lóbis, também referenciados na solicitude de portuguesa, são considerados diminutos.
As empresas portuguesas, em geral, apresentam vantagens naturais em Angola – afinidade linguística, tecnologia, processos de organização e funcionamento – mas a ideia de que a sua implantação e os seus negócios também se devem a favores do regime e estes às políticas complacentes de Portugal, pode vir a afectá-la por efeito de ónus como os seguintes:

- Tende a dar azo a “más vontades” locais alimentadas pela convicção de que a sua prosperidade é devida a “favores indevidos” (fenómeno de possível manifestação em sectores da população e entre o empresariado nacional).
- A impressão negativa causada pela ideia de que são “favorecidas”, empolada pela ideia também corrente de que muitas denotam propensão para se envolverem em negócios menos claros com a elite local, muito impopular, ofusca atributos como a sua competência e honestidade.

A conduta solícita do Governo português em relação ao resultado eleitoral (comunicado oficial do MNE emitido a um domingo), é agravada por factos conexos como a linha considerada “parcial” em relação ao MPLA observada pelas 2 únicas estações de televisão portuguesas que receberam permissão para acompanhar as eleições.
Também correm em Luanda rumores segundo os quais Durão Barroso, visto como tendo antigas preferências pelo MPLA, diligenciou pessoalmente junto de pelo menos um membro da equipa de observadores da União Europeia, no sentido de fazerem esbater as avaliações negativas que a chefe da equipa fez inicialmente do acto eleitoral.

2 . O resultado das eleições, considerado “fantasioso” (AM 310), é visto em meios de Luanda, alguns dos quais ligados ao regime, como um passo no sentido da imposição de uma autocracia, baseada na existência de um grande partido hegemónico, o MPLA, em coexistência com outros, minúsculos e desprovidos de independência.
O cenário de um “retrocesso democrático” representado pela implantação de um regime autoritário, com legitimação provinda de um acto eleitoral que apesar de irregular foi objecto de aprovação e/ou aplauso das autoridades portuguesas, é considerado política e moralmente “paradoxal” com princípios e valores por elas afirmados (evocada a condenação que os democratas portugueses faziam da “farsa eleitoral” do Estado Novo).

À margem da sessão final, 16.Set, do julgamento do jornalista José Lelo, condenado a 12 anos de prisão maior, foram escutados comentários como o de que o mesmo era a primeira vítima da “maioria” conseguida pelo MPLA com a ajuda de “falsos democratas portugueses que põem os seus interesses económicos acima dos direitos humanos”.

O julgamento de J Lelo foi dado por concluído em Jun. Os factos com bases nos quais foi pronunciado são considerados “falsos”. O momento escolhido para a leitura da sentença do tribunal militar, reunido em Cabinda (juiz e assessores sem formação jurídica), á atribuído a razões políticas (amedrontar a oposição e a sociedade).

3 . O PM português, José Sócrates, foi o governante estrangeiro que produziu aquela que se julga ter sido a mais encomiástica declaração de aprovação das eleições em Angola – na linha de anteriores pronunciamentos seus, um dos quais, em Luanda, já em vésperas do início da campanha, ao considerar “notável” a acção do governo angolano.
J Sócrates, em vias de completar 4 anos à frente do Governo, efectuou 2 viagens a Angola, ambas nitidamente motivadas/dominadas por razões de natureza económica. Não visitou qualquer outro país africano lusófono, nenhum dos quais apresenta um mercado com as potencialidade de Angola.

Na sua primeira visita, em 2006, o PM português acertou com as autoridades angolanas um programa destinado a despachar a curto prazo 200 professores portugueses para Angola. O estado incipiente do programa é considerado reflexo da preponderante visão comercial que as autoridades têm das relações com Angola (escassa atenção a outros domínios).

Fonte: África Monitor