Luanda -  A “Voz da América”, no seu programa “Fala Só Angola”, pôs em debate um “activista” dos direitos humanos, o padre Raul Tati, e Nzita Henriques Tiago, que se apresenta como presidente da FLEC. Ambos disseram, em Washington, que lutam pela independência de Cabinda. Mas apesar desta aparente comunhão de pontos de vista, ambos revelaram divergências insanáveis, mas sem nunca explicarem o que os separa.


Fonte: Jornal de Angola


Num documento assinado, entre outros, por Stephane Barros, membro da organização terrorista FLEC e que reside em Portugal, Angola é acusada de violar os direitos humanos em Cabinda. Os queixosos dizem que a província angolana é uma “colónia”. E desenvolvem esta teoria, falsificando a História e deturpando grosseiramente a divisão administrativa que imperava na vigência do regime colonialista português.


Os mais novos desconhecem factos que interessa relembrar. O antigo distrito do Congo Português incluía Cabinda como uma circunscrição, governada por um administrador. Os centros urbanos tinham apenas um chefe de posto. Quando a independência do Congo Belga foi reivindicada, para que o “Congo Português” não fosse à boleia desse acontecimento, as autoridades de Lisboa, desmembraram aquele território em três distritos: Uíge, Zaire e Cabinda. Nem antes, nem naquele momento houve protestos.


Em 25 de Abril de 1974, quando o Movimento dos Capitães derrubou o regime colonial fascista, figuras ligadas à PIDE/DGS e às Tropas Especiais reuniram em Lândana, a mando do então governador do distrito de Cabinda e comandante militar da zona, brigadeiro Themudo Barata, para rejeitar o novo regime português e proclamar a FLEC como representante dos cabindas que queriam continuar sob a bandeira portuguesa.


Nessa reunião o brigadeiro português Themudo Barata foi eleito presidente de honra da FLEC. A pronta reacção a esta espécie de golpe contra-revolucionário acabou com o governador do distrito e comandante militar preso pelas autoridades e mais tarde a sua expulsão para Lisboa.


Alguns meses depois, mercenários franceses acobertados por elementos da FLEC tomaram o posto fronteiriço de Massabi. O alto-comissário português foi pessoalmente a Cabinda dirigir as operações contra os invasores. Os mercenários foram escorraçados, alguns abatidos ou presos, e aí acabou a aventura.


Em Novembro de 1975, três dias antes da Independência Nacional, o exército zairense invadiu Cabinda, pela planície do Ntó, com milhares de homens e artilharia pesada. Elementos da FLEC vinham “embebidos” nas forças invasoras, para darem legitimidade à operação. Se triunfassem, diziam que eram da FLEC e proclamavam a independência da província. De então para cá, a FLEC tem sido notada internacionalmente por assassinar civis indefesos e raptar trabalhadores de empresas que operam em Cabinda. Aquilo que em qualquer parte do mundo é terrorismo, em Angola é normal para a comunidade internacional e alguns defensores dos direitos humanos.


Os mais altos dirigentes chegaram ao extremo de organizar uma acção armada contra a caravana desportiva do Togo, que vinha participar no CAN Angola’2010. Atingiram desportistas e jornalistas. Mataram e feriram. Em qualquer país do mundo este acto era severamente castigado. A comunidade internacional havia de condenar os terroristas. Mas como esses hediondos crimes ocorreram em Angola, nada aconteceu.


Nzita Tiago diz que é o presidente da organização que matou desportistas em Angola num acto terrorista sem perdão. Mas é entrevistado pela “Voz da América” em Washington e diz tranquilamente que luta pela independência de uma província angolana.


Se um terrorista implicado no 11 de Setembro concedesse uma entrevista à Rádio Nacional de Angola, era o fim do mundo. Se um terrorista português declarasse aos microfones da Rádio Nacional de Angola que é pela independência da Madeira e acusasse Portugal de violar os direitos humanos, a esta hora ainda estávamos a dar explicações e a pedir desculpas. Mas como a queixa do senhor Stephane Barros é uma calúnia contra Angola, está tudo calmo nas chancelarias.


Figuras importantes da FLEC denunciaram nas páginas deste jornal os negócios escuros, os assassinatos encomendados e as acções terroristas da organização. Ninguém reagiu. João Baptista Júnior “Vinagre”, lugar-tenente de Nzita Tiago, descreve cruamente como nas bases da organização terrorista se violam mulheres e torturam até à morte os que caem em desgraça. O silêncio continua. Mas neste caso, temos que reagir. As mulheres violadas são angolanas. Os que são metidos em buracos e ali ficam dias, semanas e meses são angolanos.


A Cruz Vermelha de Angola e as suas congéneres dos Congos, a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, todas as organizações humanitárias, têm a obrigação de partir em socorro desses angolanos que estão sequestrados em “centros de refugiados” que não passam de campos de extermínio. Não podemos deixar centenas de angolanos assim abandonados.