Luanda - A primeira finta é a primeira frase! JES: «Nos termos da Constituição da República, o mandato dos membros do Parlamento e do Executivo termina no próximo dia 30 de Setembro», portanto, inferiu ele «a eleição deve ter lugar no mínimo trinta dias antes do fim daquele mandato» (isto é a data que ele escolheu, 31 de Agosto…

 

* Com William Tonet
Fonte: Folha8
 

Como quem diz, trata-se de pura coincidência, a Constituição é que ordena, não fui eu quem escolheu a data perto do meu aniversário, esquecendo-se, evidentemente, de relembrar que o fim do mandato dos deputados também foi ele quem escolheu...


Enfim, mera tentativa de se descartar das críticas que lhe foram feitas sobre o mais que evidente oportunismo da data escolhida para as mesmas, 3 dias depois do seu aniversário.


E os burros e distraídos a ouvir e a dizer amém com a cabeça, a engolir esta palhaçada. O presidente manifestamente toma os angolanos por burros.


A seguir, o homem ataca a maka do re-registo eleitoral (para actualizar o de 2008!) e vai ele assim, «(…) conhecemos hoje qual o número de cidadãos que vai votar e quais e quantos são os que são membros do MPLA e das organizações sociais».


Supondo que por “organizações sociais” ele entende ser o termo depreciativo empregue para designar os outros partidos, de facto o que ele mais fez foi confessar que já sabe quantos votos vai ter o MPLA, aos quais ele poderá juntar, se for necessário, alguns que ele tem na manga e poderão ser recrutados de várias maneiras e feitios, como já é tradição enraizada no partido do poder desde que existe.


Vai de si que o ditador não se esqueceu de relembrar aos seus súbditos que o processo de registo e actualização dos eleitores se encontra actualmente na Comissão Nacional Eleitoral (CNE), “órgão (in)dependente” que deve preparar os Cadernos Eleitorais onde estarão os nomes dos que vão votar e indicar os locais onde estarão situadas as Assembleias e as cerca de doze mil Mesas de Voto», isto sem esquecer que é nesses locais que serão distribuídos os famosos Cadernos Eleitorais, de acordo com as localidades ou bairros escolhidos pelos eleitores para exercerem o seu direito de voto.


Numa palavra, JES quis demonstrar que tudo estava a ser feito para que as próximas eleições venham a ser consideradas democráticas, livres e transparentes. Debalde, mo mano!


O problema fundamental desta preparação da eleição do 31 de Agosto, é que não há maneira de entender, e muito menos de saber, o que se passou enquanto todo esse dossiê estava exclusivamente a cargo e a ser formatado pelos especialistas do Ministério da Administração do Território (MAT).


O que se sabe é que a “maka Suzana Inglês” atrasou tudo e que o dossiê informático, em vez de ter sido concebido e realizado por um órgão independente, a CNE, “foi cozinhado” pelo MAT, órgão do governo e parte interessada .


Entretanto, também se sabe que, enquanto esta salgalhada “inglesa” manifestamente provocada a fim de ganhar tempo para não se sabe exactamente o quê, se desenrolava perante o olhar vago e impotente dos outros partidos, o MPLA operou em vários sectores da população uma recolha dos antigos cartões de eleitor. Para fazer o quê?...

Foram milhares de cartões recebidos, mesmo no Brasil isso aconteceu, dando direito a ameaças de represálias sobre quem não acatasse a directiva das autoridades diplomáticas angolanas em serviço nesse país. Em suma, tudo isto pode ser tudo o que se quiser, Sr. Presidente, menos transparência, lisura, vontade de comunicar.

Agora, só nos falta saber se os peritos a mando das forças da oposição terão a possibilidade de penetrar nos segredos da digitalização de todo o processo eleitoral fabricado pelo MAT.

Mas apostamos uma grade de cerveja contra um kwanza, que vão ficar a ver navios. Apostamos também que vai haver atrasos e que, se calhar, as eleições se desenrolarão não durante um dia, mas dois dias.

Veremos.

Continuando a discursar, nisto de limpar consciências cépticas, José Eduardo dos Santos não se fartou de dar provas da transparência dos actos do seu partido, na escolha dos deputados que integrarão a sua lista para o Parlamento, na obediência de todas as normas e no respeito de todos os termos temporais, por exemplo, no que toca à lista de deputados, que tem de ser entregue no Tribunal Constitucional antes do dia 19 de Junho do corrente ano.

Portanto, o que pairou no ar foi a ideia de que não há dúvidas, podemos ter eleições exemplares, limpidíssimas, porque já sabemos que vamos ganhar!

 

O que não foi feito e o que está por fazer


 
JES falou do contrário, isto é, do que foi feito! Disse que em 2008 «era preciso imprimir uma nova dinâmica à governação do país, alterar a Constituição da República, melhorar a gestão da coisa pública e afirmar o princípio de maior rigor e transparência na organização e gestão das Finanças Públicas e da melhor repartição do Rendimento Nacional, tendo no centro das nossas atenções a promoção do cidadão angolano e a melhoria progressiva da sua qualidade de vida».


Considerando ele que o balanço é positivo, embora absolutamente nada do que prometeu em 2008 tenha sido alcançado de modo aceitável, pelo contrário, acumularam-se os erros e mesmo desastres incríveis relegados para o reino do silêncio, ou recuperado por “sus muchachos” (Centralidades das pimpas, Nosso Super, Aldeia Nova, Porto Seco, Entreposto, etc.), o candidato do MPLA e Presidente da República disse que, para consolidar a Paz e a Democracia e a promover o desenvolvimento económico e social e bem-estar de todos os Angolanos, ia apresentar à sociedade angolana um projecto de governação que terá por lema a ‘Mudança’ ou ‘Mudar para Melhor’.


Se reflectirmos com atenção, constatamos que o lema em questão é igualzinho ao lema apresentado pelo Convênio da CASA – CE, no dia 03 de Abril de 2012, em que Abel Chivukuvuku aludia a necessidade de Mudança, para um verdadeiro combate a pobreza, as assimetrias, a discriominação e a uma melhor repartição da riqueza nacional. Assim JES referiu-se a uma citação sem fazer referência ao seu autor o que é politicamente mau, prática aliás, que torna desde 1977, este MPLA, que matou sem julgamento cerca de 80 mil militantes, por pensarem diferente.“Igualíssimo”.

Sabendo que nunca foi cumprido depois de quase 38 anos de poder, vamos acreditar!?
Relembremos as suas últimas promessas:

- Onde está o milhão de casas prometido?

- Onde está o milhão de postos de trabalho prometidos também em 2008?

- Quanto angolanos tiveram acesso a um emprego e quantos deles foram escorraçados pelos seus patrões?

- Para que serve a centralidade do Kilamba, anunciada como parte da solução de alojamento no país, quando vemos que foi construída para famílias que têm dinheiro e são milhões de famílias pobres que continuam à espera? Nem uma só família, uma só, teve casa!

Continuamos a ter problemas graves de energia eléctrica e de água, a Saúde não sai da lama, está de rastos (ler nosso Top Secreto sobre os hospitais), a corrupção em vez de diminuir, aumenta, como aumenta o preço da “gasosa”.

Em que pé dançam por ora os lobbies dos magnates das girafas de água e dos geradores?

Quando é que vão ser apeados dos seus já quase imorais negócios?

Como prometer progresso numa altura em há no país centenas de fábricas que funcionam gastando 10, 200, 300 litros e mais de Gasóleo por dia?

Como esperar que essas unidades sejam rentáveis?

Tudo isto, e muito mais, se formos para o campo dos problemas, diferendos e conflitos sociais e políticos, Sr. Presidente, são erros crassos e o Senhor é o primeiro responsável.

 

O projecto “Mudança ou Mudar para não Mudar”
 
 

Segundo JES tudo, absolutamente tudo vai ser resolvido. «Esta nova Angola está pronta a iniciar uma nova etapa da sua história, na qual todos os nossos esforços estarão voltados para os mais desfavorecidos, aqueles que mais sofrem porque têm pouco ou quase nada», disse ele, sem vontade nenhuma de sorrir.


Todos os esforços de JES incidirão, na sua cabeça pelo menos, de modo especial sobre tudo o que houver a resolver: a resolução dos problemas das crianças, dos jovens e das mulheres, a habitação, a Saúde, a água, a electricidade, o saneamento básico, tudo o que foi impossível de resolver em 33 anos vai ser agora resolvido em cinco!!


E nesta entaladela verbal entre a mentira e o desejo, confundido com a realidade, JES relembrou que Angola é um dos países com maior crescimento económico em todo o mundo e que agora, sim senhor, ninguém nos vai parar, «Chegou, portanto, a hora de CRESCER MAIS E DISTRIBUIR MELHOR, a hora de sermos uma Angola forte e justa e de sermos, cada vez mais, livres e felizes»… JES, a falar como um Príncipe não Encantado, mas Encantador!


E o encanto, neste ponto do discurso, começou a crescer, mas a partir de uma explicação que nos parece ser aquilo que de costume reflecte o profundamente distorcido pensamento jesiano.


Com efeito, o presidente da República confessou, sem ter vontade nenhuma de confessar, que não sabe governar. Grosso modo, disse que Angola viveu até esta data uma primeira fase de desenvolvimento pós-independência em que «a prioridade foi reerguer o país ao nível das suas estruturas, agora a prioridade total e absoluta, é melhorar a condição de vida dos angolanos. Por essa razão, o futuro projecto de sociedade do nosso Partido vai basear-se num Programa de Estabilidade, Crescimento e Emprego. Através dele vamos unir, ampliar e acelerar as iniciativas destinadas a garantir mais empregos, aumentar a oferta de água e energia, a melhorar os serviços de Educação e Saúde, a estimular a produção nas zonas rurais e a incentivar a criação e o fortalecimento das micro, pequenas e médias empresas angolanas. Com trabalho, coragem e determinação posso garantir que vamos enfrentar e vencer mais este desafio», prometeu ele.

Visto à lupa, estas afirmações de JES denunciam o seu total desprezo pelos povos de Angola.

Na primeira fase, disse ele e repetimos, «a prioridade foi reerguer o país ao nível das suas estruturas, agora a prioridade total e absoluta, é melhorar a condição de vida dos angolanos».

Abstemo-nos de comentar para não ir parar à prisão por denunciar uma evidência. Mas não podemos deixar de lamentar tanta insuficiência de sabedoria política.

JES é um político insuficiente que tem a mania das grandezas.

Vir a público dizer que tinha chegado a hora de resolver os problemas do povo depois de ter passado 33 anos a comer comissões de orçamentos da construção de infra-estrutruras, “Il faut le faire”, como dizem os franceses.

Governar durante 33 anos numa exaustiva autopropaganda de paladino da paz e defensor do povo, pois o mais importante é resolver são os seus problemas e confessar que só agora, 33 anos passados, a se governar, é que vai fazê-lo, parece mentira de adolescente apanhado em contradição imperdoável.

Dizer que a Alemanha, completamente destruída pela guerra de 39-45, levou precisamente mais ou menos 10 anos para voltar a ser uma das economias mais prósperas do mundo, vejamos com olhos de ver onde estamos.

Houve progressos, sim senhor, houve, e era o que mais faltava se não houvesse, mas esses progressos, esse melhor-estar das populações é muito pouca coisa em relação à melhoria de bem-estar de todos os maiorais do MPLA, que enriqueceram escandalosamente à custa do dinheiro do povo.

 

De grandiosos planos está o Inferno cheio

 

Quanto aos projectos para o futuro, JES deu um passo grande para uma espécie de modernidade governativa com fundamentos científicos. Sim, sim, JES aposta no saber, na sabedoria de especialistas que levarão, de vento-em-popa, Angola para os píncaros do progresso e da política futurista de um Estado topo de gama. Pelo menos em África!

Isto dá vontade de rir, mas foi o que ele disse, repetindo o que já tinha dito dezenas de vezes desde que foi empossado, «Passo a passo vamos no rumo certo para a realização dos grandes desígnios nacionais traçados, isto é:


1) Garantir a unidade e coesão nacional, promovendo a paz e a angolanidade;


2) Promover o desenvolvimento humano e o bem-estar, erradicar a fome, a pobreza e a doença e elevando o nível educacional e sanitário da população;

 

3) Promover um desenvolvimento sustentável, assegurando a utilização eficaz dos recursos naturais e uma justa repartição do rendimento nacional;

 

4) Garantir um ritmo elevado de desenvolvimento económico, com estabilidade macroeconómica e diversidade estrutural;

 

5) Desenvolver de forma harmoniosa o território nacional, estimulando a competitividade dos territórios e promovendo as regiões mais desfavorecidas;

6) Construir uma sociedade democrática e participativa, garantindo as liberdades e direitos fundamentais e o desenvolvimento da sociedade civil;

 

7) Promover a inserção competitiva do país na economia mundial, garantindo uma posição de destaque na África subsaariana».

E é neste plano futurista que entram os cientistas políticos (só Deus sabe quanto é que vão custar aos cofres do Estado), a quem será confiada a missão nobre de ajustar, cientificamente, como é óbvio, a nova visão estratégica de JES ao horizonte nacional de 2025 e ao internacional de 2050, como recomendou a SADC, quer dizer, ele próprio!

Escrever mais? Para quê, se tudo não passa de mais uma repetição dos longos planos e projectos falhados, da caminhada de má gestão, anos de marasmo e promessas não cumpridas.

Definitivamente, não se pode transformar Angola num Grande Sambizanga…