Luanda - Um grupo de dois elementos assaltou, no dia 15 de Junho, a residência do inspector-chefe da Polícia Nacional, António Simão (Sessa), que está a ser julgado no âmbito do caso Quim Ribeiro. O duo abusou sexualmente da filha, de apenas 16 anos, na presença da mãe e dos cinco irmãos menores. 

Fonte: NJ

Familiares dizem ser uma encomenda

Segundo fontes do Novo Jornal, o assaltou ocorreu por volta das 3h00 da manhã, no bairro da Camama. Dois homens arrombaram a porta da residência de Sessa e introduziram-se no interior da habitação. “Estávamos a dormir quando, de repente, vimos a porta a mexer. Todos nós acordámos, quando vimos os dois marginais dentro de casa, perguntando onde é que estava o Sessa. Respondemos que foi trabalhar, os dois começaram a rir, e a dizer: acham que nós viemos aqui à toa. Sabemos que o dono da casa está preso”, contou a fonte que não quis identificar-se.

A mulher de António Simão, que também não se quis identificar, disse ao Novo Jornal não entender porque é que sua família está a ser perseguida. “Não sei o que está a passar-se, porque é que estão a fazer isso. Violaram a minha filha, que tem apenas 16 anos. Não é justo o que estão a fazer com a minha família. O que nós fizemos, meu Deus, porquê tanto sofrimento?”, clamou a mulher, que não parava de chorar.

Ainda de acordo com a fonte, os marginais, antes de irem embora, deixaram um recado para que fosse transmitido aos familiares de outros polícias presos. “Este é apenas o começo. Nos próximos dias, vamos atacar outras famílias. Eles estão a brincar com as pessoas e vocês, os familiares, é quem vai pagar”, relatou a mulher, acrescentando : “Do jeito que os marginais falavam dava a entender que aquele assalto e a violação da minha filha foi encomendado”.


VIOLAÇÃO OU MORTE


A mulher conta ainda que o abuso sexual que a filha sofreu foi perpetrado na sua presença e dos irmãos menores. “Não entendo até agora o que aconteceu, eles violaram a minha filha na minha presença e dos meus filhos, o mais pequeno tem apenas três anos de idade. Não é justo o que fizeram com a minha filha, a polícia tem de encontrar os que fizeram isto à minha filha”, insistiu.

Questionado se os agressores utilizaram preservativo no momento da violação, a mulher respondeu que não. “Não utilizaram preservativo, não sei se os dois estão bem de saúde. Eles estavam a obrigar a minha filha a fazer coisas que eu nunca vi e nunca fiz, não entendo mesmo”.

Durante a entrevista, a adolescente, de 16 anos, não parava de chorar. A vítima contou ao Novo Jornal que os marginais disseram que se ela não aceitasse envolver-se com eles matariam a mãe e os cinco irmãos. “Não tive outra escolha a não ser aceitar, um deles apontou uma arma à cabeça da minha mãe, rasgaram a minha roupa com uma faca, tudo isso na presença da minha mãe e dos meus irmãos. Não sei o que vai ser da minha vida daqui em diante”, contou a adolescente, enquanto as lágrimas rolavam pelo rosto.


A adolescente desde esse dia não regressou à escola. “Tenho medo de tudo e de todos. Tenho vergonha e nojo de mim. Nunca antes me tinha envolvido com um homem e a minha primeira vez tinha que ser desta forma! Não sei qual foi o pecado que fiz e a única vontade que tenho é de morrer, não sei se vou aguentar”.


PEDIR PROTECÇÃO



O que ajuda a reforçar a tese de que se tratou de um crime encomendado, segundo a mãe da menina, é o facto de apenas a sua casa ter sido assaltado na rua naquela noite.

“Não assaltaram outra casa, foi mesmo só a minha e a pessoa que mandou aqueles homens estava lá fora a dar ordens. Vivo no bairro há mais de oito anos e isto nunca aconteceu”, lembrou a mulher, acrescentando que levaram da sua casa 150 mil kz e 20 botijas de gás.

A família apresentou queixa na esquadra do projecto Nova Vida e até à data da entrevista não recebeu uma resposta da Polícia. “Dizem apenas que não sabem do paradeiro dos marginais”, adiantou.

A fonte diz também que já foi ao Comando Provincial de Luanda para falar com a comandante, mas a tentativa não surtiu efeito. “Me disseram que ela não tem tempo, o que quero apenas falar é pedir protecção para minha família e a dos outros presos”, salientou, notando que para a próxima semana vai marcar uma audiência com o comandante geral da Polícia Nacional, Ambrósio de Lemos.

É de lembrar que o inspector- chefe António Simão (Sessa) encontra-se preso há quase dois anos, na Cadeia de Viana, e que está a ser julgado, desde o dia 10 de Fevereiro deste ano, pelo Tribunal Supremo Militar.