Lisboa - ESTOU INDIGNADO COM AS FORMAÇÕES DA OPOSIÇÃO VERDADEIRA. TODAS QUEREM LUGARES NO PARLAMENTO DUMA SITUAÇÃO QUE CONSIDERAM SER UMA DITADURA. TODOS OS LIDERES DA OPOSIÇÃO QUEREM SER O PRÓXIMO PRESIDENTE DA REPÚBLICA.  CANDIDATARAM-SE COMO CABEÇAS DAS LISTAS DOS SEUS PARTIDOS PARA SEREM ATIPICAMENTE ELEITOS – COMO DETERMINA O GOLPE CONSTITUCIONAL BEM SUCEDIDO DO DITADOR. NEM TENTARAM COLOCAR NA MESA O DEBATE SOBRE A CONSTITUIÇÃO DUMA CANDIDATURA UNIDA PARA A DISPUTA DO PODER COM O PARTIDO DO  DITADOR.


Fonte: http://www.angolaresistente.net

 
Hoje um amigo incomodado pelo meu silêncio interrompeu-o, perturbando-me com exigências que desconsideram a minha liberdade para o exercício do direito de escolha da postura e acção que entender como sendo as adequadas ao momento que vivemos.

 
Chamou-me pelo Skype e questionou-me sobre as razões da postura – solitária e silenciosa – que adoptei tanto no Facebook como na vida real com relação às eleições no próximo Agosto, num momento em que, concordo, a voz de todas e todos nós é importante para que se consiga por fim à ditadura de José Eduardo dos Santos.

 
Disse-lhe que mais uma voz desgarrada não mudará em nada a ineficácia da miríade de vozes dispersas empenhadas nessa saga.

 
Lembrei-lhe que há muito venho afirmando que não será uma frente de activistas solistas contra a ditadura que vai conseguir por-lhe fim.

 
Apelei á unidade da oposição durante quase todo o último ano. Considero que só uma orquestra capaz de integrar e harmonizar todas as vozes que exigem o fim da ditadura poderá alcançar essa meta. Como nas circunstancias actuais não verifico a opção pela formação duma ampla frente constituída pela diversidade de vozes, recuso-me a ser mais uma voz no meio da “algazarra” dissonante. Esse é um exercício de cidadania de que não abdico.

 
Como expliquei ao amigo que me questionou, vou continuar na postura solitária e silenciosa com relação às eleições enquanto esperamos pelo resultado da acção dispersa de todos os protagonistas da disputa do poder com o ditador, considere-se, em eleições que vão ser realizadas nas circunstancias da sua ditadura. E, obviamente, nessas circunstancias só o ditador e o seu partido as podem ganhar. Desejo mais que todas e todos estar enganado e que o resultado seja outro.

 
A disputa do poder com o ditador por uma oposição verdadeira dispersa resulta em várias disputas, a de cada família partidária contra o ditador. Enquanto a oposição oposição disputar o poder com a ditadura fragmentada em várias famílias partidárias, consciente ou não desse efeito, a sua dispersão funcionará como elemento que facilita a vitória do ditador e, em consequência, a continuidade da farsa “democrática” com que o partido da ditadura, o MPLA, preserva a hegemonia sobre o Estado de Angola inaugurada com a independência do país e que lhe tem permitido governar de forma predadora com total impunidade e barrando o passo à sociedade angolana para a modernidade em todos os aspecto, níveis e sentidos.

 
Caras amigas e amigos, não sou nem me sinto dono da verdade, mas essa é a realidade objectiva que vivemos. Também não sou um candidato ao poder nem o serei no futuro, portanto não viso a obtenção de qualquer poder com esta colocação. Apenas sou e continuarei sendo um candidato a cidadão duma sociedade livre. Meta para cujo alcance, como no passado já longo, contribuirei sempre,  dedicando-me ao exercício da cidadania em prol da garantia do respeito por direitos e liberdades.

 
Neste momento essa contribuição cidadã toma a forma duma reflexão/acção solitária e silenciosa até que tenhamos um resultado da acção dispersa dos que, porque acreditam poder assim vencer o ditador, não acolheram como uma necessidade estrutural do movimento cívico e político para a mudança - a gestação duma ampla frente para a instauração dum estado de direito de facto e duma verdadeira democracia que realize a vontade da nação de por fim à ditadura

 
Entretanto, confesso-o, também começo a ter prazer na existência solitária e silenciosa. Retorno ao silêncio depois desta interrupção apelando mais uma vez para que, por favor, ninguém mais interrompa o meu silêncio enquanto na disputa do poder com a gente da ditadura insistir na continuação da acção separada da sua família partidária.

 
Sobre esta matéria interromperei o silêncio após as eleições. Sobre outras matérias continuarei a pronunciar-me como até agora.

 
Pelas razões óbvias, obrigo-me a dizer aqui que sou quem mais deseja que esteja errada a previsão do resultado que a leitura da  dispersão da oposição logicamente suscita.

 
Com o silêncio também se EXIGE DIGNIDADE COM DIGNIDADE
 
Luiz Araújo