Lubango - Grupos de antigos combatentes e veteranos da pátria, na província da Huíla, decidiram exigir, publicamente, explicações sobre a inserção do empresário local Luís da Fonseca Nunes, na Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas (CSS/FAA), com a patente de tenente-general.
Fonte: Maka Angola
O empresário é dos mais bem sucedidos do país. No entanto, os ex-soldados manifestam-se preocupados que o mesmo receba uma pensão mensal vitalícia, na caixa social, como tenente-general, sem ter cumprido serviço militar.
Segundo o presidente do Fórum Independente dos Desmobilizados de Guerra de Angola (FIDEGA), tenente-coronel Manuel Nunes, “temos confirmado que o empresário faz parte da classe de oficiais generais”.
O oficial na reserva explica que, em 2009, “sugerimos ao então primeiro-ministro, general Paulo Kassoma, o estabelecimento de um protocolo legal de denúncias para resolvermos o problema dos oficiais fantasmas e conferirmos maior dignidade ao exército. Há indivíduos que passaram 30 anos a combater e nunca passaram de tenente ou capitão. Não é justo”.
Por sua vez, um alto oficial general colocado na região sul, que prefere o anonimato, confirmou ao Maka Angola, a ostentação da patente de tenente-general, por parte do empresário, e a sua integração na CSS/FAA, onde aufere uma pensão mensal de mais de 300,000 kwanzas (US $3,000) mensais. “Nunca o vi [Luís Nunes] como militar, nunca ouvi dizer que foi militar. Alguns adquirem as suas patentes através de influências junto do MPLA. Deve ser o caso dele. É ilícito”, desabafou o oficial general.
As crescentes reclamações sobre o abandono a que estão votados dezenas de milhar de ex-soldados têm levantado, concomitantemente, a polémica sobre o enquadramento de indivíduos que nunca cumpriram serviço militar.
No manifesto de 17 de Setembro de 2011, endereçado ao chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA), general Geraldo Sachipengo Nunda, a Comissão de Reclamação dos Sargentos e Soldados não-Desmobilizados das ex-FAPLA, acusava frontalmente o exército de privilegiar, entre outros “os que nunca foram militares do MPLA, UNITA e FNLA” e que hoje “são grandes generais e coronéis no activo e reserva”.
Conterrâneos de Luís Nunes traçam a sua trajectória familiar a partir do município de Caconda, na Huíla, onde nasceu, e garantem que o empresário e actual membro do Comité Central do MPLA, nunca integrou o exército e nunca o viram a envergar uma farda. Samuel Kalandula, antigo combatente, natural de Caconda, manifesta-se com algumas reservas. “Talvez [o Luís Nunes] tenha cumprido a vida militar depois de 1992, antes não. Acompanhámos a sua vida e nunca o vimos fardado ou ouvimos dizer que era militar”.
Em entrevista ao Jornal Expresso e El Economista, em 2010, Luís Nunes, explica como iniciou a sua carreira empresarial em 1989 ao criar, com a sua esposa, o Grupo Socolil, de que é actualmente o sócio-gerente. Desde então, tem-se dedicado à vida empresarial. Ao grupo, juntou a empresa de construção de estradas Planasul que afirmou, ter em carteira, obras avaliadas em US $600 milhões. Para além de várias outras empresas, também é o sócio principal da empresa de construção Omatapalo, onde cruza interesses económicos com o anterior ministro da Defesa e actual titular do ministério dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, general Kundi Paihama. O Grupo Socolil, segundo o empresário, tem rendimentos anuais estimados entre US $150 a US $200 milhões.
Para Laurindo Benjamin, veterano de guerra, a ascenção do empresário a general deve-se, em parte, às suas ligações ao partido no poder e a altas figuras do exército. “Isso entristece-nos muito. Nós que combatemos não somos tidos nem achados”, lamenta o antigo combatente.
Influente e com grande capacidade de manobra, o empresário ascendeu também ao Comité Central do MPLA após a sua candidatura ter sido vetada, a nível local, pela assembleia dos militantes. Em Dezembro passado, Luís Nunes recebeu o galardão de empreendedor do ano, na cerimónia de entrega dos prémios Sirius, um iniciativa da multinacional de auditoria e consultoria Deloitte, baseada no Reino Unido. O jurado do prémio é presidido pelo deputado e membro do Bureau Político do MPLA, Manuel Nunes Júnior, e, na sua primeira edição, distinguiu exclusivamente membros do Comité Central e do Bureau Político desse partido, incluindo o ministro de Estado Manuel Vicente e o Presidente José Eduardo dos Santos.
Segundo o Jornal de Angola, na sua edição de 7 de Dezembro de 2011, o júri, ao justificar a atribuição do prémio Sírius a Luís Nunes recordou que o empresário, durante a guerra, realizou “um esforço suplementar de assunção de riscos e a uma capacidade de empreendimento para concretizar uma operação logística eficiente e segura.”
Sem rodeios, o empresário implantou uma grande fazenda no interior do Parque Nacional do Bicuar, na Huíla, com uma pista de aterragem para as suas duas avionetas. Em princípio, os parques são reservas do Estado e, para além de projectos turísticos, este não permite o seu uso para outros fins.