Luanda - Pode não parecer, mas parece. Pode parecer, mas não parece. É a atitude cautelosa com que os analistas e redacções do burgo luandense – fora da «pública, está claro – reagiram à «bomba» da exoneração intempestiva e inesperada dos Conselhos de Administração da RNA e TPA, pouco mais de um ano depois da sua nomeação. Uma semana depois do «mega banho propagandístico» em torno da manifestação promovida pelo MPLA para saudar a indicação do seu Presidente para cabeça-de-lista para as próximas eleições.
Fonte: SA
Exoneração intempestiva e inesperada? Nem por isso. A semanas que circulavam nos mentideiros do sempre fértil «Mujumbu-Press Luandensis» informações que apontavam para isso. Desde a ascensão de Manuel Rabelais a coordenador da nova (?) GRECIMA responsável pelo cuidado da imagem institucional do Executivo que falava-se que haveria uma «varridela» nos CAs dos órgãos de comunicação social públicos. Entretanto, estes rumores viriam depois a serem contrapostos por outros que diziam que tudo voltaria à estaca zero, para alívio dos incumbentes dos apetecidos cargos. Pelo meio, diz-se que até bilos houve entre o PCA de um dos mais visíveis órgãos de comunicação públicos e um dos seus funcionários seniores…
Porquê então, de repente surge esta exoneração, inesperada como um raio em dia de bonança? Especulação é o que não falta.
Uma delas é que, na verdade, Manuel Rabelais vincou o facto que, a ser o responsável pela boa imagem institucional do Executivo, tinha que contar com uma equipa da sua confiança. Profissionais que, na sua óptica já tinham provas dadas no que a isso diz respeito. Por outras palavras, os profissionais com que tinha trabalhado em 2008 enquanto Ministro da Comunicação Social (e nessa condição, ele sim, comandante da equipa de comunicação e imagem). Que estes profissionais sejam também os que, na passada da sua queda eram os ostracizados do esquema, pode – ou parece – ser uma coincidência por agora pouco importante. Que os substituídos sejam os vitoriosos da sua aparatosa queda, pode e parece outra coincidência com a mesma pouca importância. Que a equipa a substituir primava pela obediência cega às «ordens superiores» em vez da contribuição obediente mas crítica às estratégias de comunicação num caminho sinuoso que exige – Oh! Como exige – o requebro do jogo de cintura, é o que realmente parece ter importado. Embora isso, por si só não tenha convencido sectores importantes do sistema que a todo o custo queriam evitar um ambiente – anunciado já – de revanche e pagamento de contas antigas.
Dali que um segundo factor viria como a cereja no bolo para uns e a taça de amargura para outros. Na passada do «treme-treme» de que todos padeciam desde o «ralhete de kaxêxe» do Chefe sobre as falhas na promoção das realizações do Executivo e da consequente «redução a pó» do GRECIA, como não aproveitar ao máximo a «Manif dos Milhões» que ninguém percebia como iriam caber no 11 de Novembro em que apenas cabem 50 mil? É no aproveitar que está o ganho, terão dito os nossos gurus no interior das suas cachimónias…
Vai dali que fizeram para um evento partidário uma mega-cobertura como não se via desde os velhos tempos do «mono». Com direito a directos e tudo, com os dinheiros que era suposto serem também dos «não-mampelosos». Com direito a transferir directores de emissoras provinciais para reforçar a mega-equipa de reportagem. Com direito a página inteira de assunção da propaganda – essa legítima – do «Partido», mais um editorial em que a «Manif do Partido» era comparada à moldura humana que recebeu Bento XVI. Com direito a quase 100% do tempo dos principais noticiários. Com direito «mais a mais» a apagão no sistema de som logo no momento em que o Chefe se preparava para falar. Com direito aos jornalistas de serviço assumirem as suas paixões partidárias ao ponto de quase caírem no pranto quando o Chefe foi-se embora sem palavra…
Só que o rame-rame que era suposto ser acolhido com certificado de bom serviço ao «Partido» revelou-se um verdadeiro tiro na culatra. A Oposição, se bufava de raiva com o desaforo, esfregava também as mãos de contente, pois tinha (tem!) agora matéria para zurzir o «Ême», nestas eleições e nas outras subsequentes: a maneira como usa(va) abusivamente o que é de todos em seu favor. Com todas as embaixadas e restantes apêndices da «comunidade internacional» a-ver-a-ver. Para registar nos seus relatórios. Para dar mais raiva, até cópia da «orientação» do «camarada André Soma» a orientar «os estudantes do I e II Ciclo a comparecer no estádio 11 de Novembro» -- Xé, mas os putos não votam, omé – apareceu nas redes sociais tipo a provar que até nos números, aldrabaram o Chefe com eles… ora isso, «nos final-finalmente» só podia dar o barraco do embaraço que o Mampelas vai ter que gerir agora. Maka na sanzala: quem mandou tocar os apitos de uma campanha que ainda não começou? É quenhé?! Os mangas dos CAs, claro, eles é que mandam nos órgãos, quenhé mais?
O que leva-nos inevitavelmente ao marqueteiro que o «M» trouxe do Brasil para assessorar a sua campanha: João Santana, da sua graça. Esse mesmo, o «petista» que fez Lula ganhar a segunda eleição e levou Dilma Rousseff à Presidência do Brasil.
Se os nossos «Conselheiros de Administração» da RNA e TPA tivessem feito o trabalho de casa – e nessa passada duvido que a concorrência do próprio «Ême» o tenha feito – ainda que uma simples busca na INTERNET saberiam como Santana faz o seu marketing político. Extremamente cerebral, pauta a sua actuação na leitura atenta dos contextos nos quais trabalha. Nada dos emocionalismos do conhecido colega Duda Mendonça de quem até já foi sócio e substituiu como marqueteiro do Presidente Lula em pleno escândalo do «mensalão».
A marqueteiro como Santana, não passaria despercebida a monumental «gaffe» cometida com a «campanha antecipada» e os estragos que vai ser preciso reparar. E se, fiel aos cânones de marqueteiro que se preza, exigiu o tradicional acesso directo ao ouvido do «Chefe», já se está a ver o que terá dito sussurrado ao sacrossanto ouvido…
Bom, suponhamos que isso tudo são conjecturas, o que o Semanário Angolense vai explorar no dossier que traz esta semana à atenção do(a) caro(a) leitor(a). Conjecturas sejam; a verdade é que o Chefe, assim de sopetão, assinou a exoneração dos Conselhos de Administração da Rádio Nacional de Angola e da Televisão Pública de Angola, ambas Empresas Públicas e mandou-se para a Espanha… em «visita privada», quer dizer, de férias. O que parece-se pouco com conjecturas é que… a overdose de «Mampelice» acabou por dar «bum».