Luanda  -  Não restam mais dúvidas, temos partido! Um partido partido, mas Partido! Chama-se MPLA, ponto final. Acabaram essas brincadeiras de Movimento ed cetera e tal…


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Fonte: Folha8


Partido partido, porquê? Porque temos provas da sua deterioração galopante, nomeadamente por existirem no seu seio tendências ignoradas, que continuam a pregar num deserto apenas frequentado por autistas.


Porém, o que cada vez se torna mais cansativo e mesmo insuportável, é ter que aturar os caprichos e venetas de um homem que manda em tudo, põe e dispõe e trata os seus mais fiéis colaboradores como se fossem lenços descartáveis, tal como ficou demonstrado nos últimos desenvolvimentos do figurino interno do EME, em que JES naturalmente se auto impôs como cabeça de lista do MPLA e, por via disso, impôs o seu cacique, Manuel Vicente.


Os militantes viram o golpe e acharam que era mais uma prova da fina esperteza (saloia) do chefe supremo. Quanto ao glorioso MPLA, que se intitula e se considera como reserva dos mais finos intelectuais angolanos, não mugiu nem tugiu ante esta decisão discricionária do líder, que atirou para os lugares secundários dois dos seus ex-possíveis delfins, Fernando da Piedade Dias dos Santos, actual vice-presidente, ancorado num 15º lugar e o seu fiel e íntimo confidente, Paulo Kassoma, actual presidente da Assembleia Nacional, num lugar quase de estaleiro, no 45º lugar da lista!

Sejamos realistas, o facto de JES ser cabeça de lista não é novidade nenhuma. O rapaz que foi posto no poder em 1979 soube impor-se depois de 33 anos de valsas de cadeiras entremeadas de algumas manobras menos claras e outras claramente opacas, embora dentro do partido já sejam poucos e, em todo o caso, cada vez em menor número, os que acreditam haver unanimidade quanto à defesa da pertinência e eficácias desses métodos arcaicos e da continuidade deste presidente sem gabarito nem envergadura de verdadeiro chefe de Estado no seio das estruturas dirigentes.

JES é na realidade um factor de instabilidade, não só no país, mas também no seio do MPLA, pois ele é o principal fomentador da divisão. Controla os três poderes oligárquicos, militar, político e económico, e nunca deu mostras de querer abandonar a vida política. Quando emerge no seu discurso a velha ladainha de promessas incumpridas, os seus próprios camaradas não o levam a sério, rememorando o que aconteceu a Marcolino Moco e João Lourenço.


Outrossim, o homem não sabe viver como cidadão, pois comete demasiados excessos, todos eles indiciadores de muito autoritarismo e medo. JES tem medo da democracia, até mesmo a interna, por isso subjuga o partido por via da sua ditadura pessoal. O que levanta ondas a apontar discretamente para a sua eliminação, pacífica, está claro, a pedir só que ele se vá embora, tranquilamente.


Mas o partido está amordaçado, não tem personalidade própria nem liberdade de pensamento, pois quem pensa é Dos Santos, que sobrepuja tudo e todos do alto da sua escrivaninha do salão do Conselho de Ministros e por toda a parte não sejamos dúbios! De tanto ter sido adulado, bajulado e elevado a um patamar onde ele não tem a mínima chance de se aguentar de pé, considera-se candidato do Povo e dono do MPLA.


Neste cenário, fabricado de longa data ao longo de um percurso balizado por convulsões internas e externas, temos de admitir que o MPLA conseguiu assentar arraiais cada vez mais “de pedra a cal”, como sói dizer-se, ou seja, cada vez mais longe do ideal de abertura democrática, flexível, pois o que acontece é que o partido é como que uma pedra no sapato de Angola, voluntária e cientemente confundido com o Estado, portanto, com poder para, impunemente, mobilizar todos os seus meios pecuniários, materiais e humanos (do Povo) para seu benefício exclusivo.


O mais recente exemplo dessa dolosa prática vimo-la no financiamento desta campanha em prol do culto da sua própria personalidade, realizada no dia 23 de Junho no Estádio Nacional 11 de Novembro.
 

O absurdo do ridículo não mata


Esse áureo momento de propaganda partidária, os seus custos e a sua significação no que toca ao esbulho dos povos de Angola, não é quase nada em relação ao saque generalizado de tudo quanto é riqueza do país, de tudo quanto é actividade lucrativa, de tudo, a começar a começar pela terra-mãe do Povo e acabar pelo saque dos cofres do Estado, o que permite, entre outros malefícios, a instauração de planos secretos e não secretos que possam instituir batota institucional e, no momento presente, batota eleitoral.

O vício da batota está de tal modo enraizado no modus operando do EME, que muitos dos seus pontas de lança perdem o norte e anunciam-na antes de ela ser posta em prática, ou então lançam para o ar coisas absurdas como aconteceu com o arreganho bajulatório de Bento Bento, secretario de Luanda do MPLA, que prometeu colocar no Estádio 11 de Novembro 1 milhão de pessoas, esquecendo-se que nem o mais analfabeto poderia se equivocar, quando se sabe ser de 50 mil lugares a capacidade do estádio e mesmo o espaço exterior não pode em caso algum comportar esse numero.


Tudo se passa na cabeça deles, altamente perturbada pela “pornográfica” prepotência do MPLA, tanto assim que na imaginação desses dirigentes, o partido dos camaradas até podia levar 10 milhões de angolanos ao Estádio. Ai podia, podia, a julgar pela forma intimidatória e comunista como age, coagindo alunos, professores, funcionários públicos, impondo a obrigatoriedade de presença como se pôde ver no ofício do delegado da Educação de Luanda, Paulo Soma, que mandou os filhos dos outros por saber que o dos dirigentes e os dele não estudam nas escolas públicas!


E os meninos foram ao Estádio 11 de Novembro, fazer número, até do Bengo vieram e ficaram durante todo o dia com fome. E no fim da festa muito deles tiveram de voltar para casa a pé, já com a negridão da noite a cair sobre Luanda, pois os chefes esqueceram-se deles, na medida em que apenas precisavam da sua presença no estádio para complementar as suas estatísticas. E até os mercados fecharam, com a intimidação compulsiva aos vendedores de que se não fossem apoiar o camarada presidente perderiam as suas bancadas. Este partido está mesmo partido. Está como o peru da ceia de fim de ano, se calhar não vai passar além do dia de Natal Só pedimos que não haja guerra!