Luanda - Parece fundamental resgatar a memória positiva do génio africano, para que a nossa geração e as subseqüentes tenham referências encorajadoras e não mais aquela visão traumática e de complexo de inferioridade, por isso, é mister evocar os prémios nobeis que a África tem: Literatura: Wole Soyinka da Nigéria em 1986; Naguib Mahfouz do Egipto em 1988; Nadine Gordimer e J. M. Coetzee  da África do Sul em 1991 e 2003. Nobel da Paz: Desmond Tutu em 1984; Nelson Mandela em 1993 e Frederik de Klerk 1993, os três  da África do Sul; Anwar Al Sadat do Egipto em 1978; Koff Annan do Gana em 2001; Wangari Maathai do Quênia em 2004; Mohamed El Baradei do Egipto em 2005 e duas da Libéria em 2011, Ellen Jonson e Leymah Gbowee.


Fonte: Club-k.net

Esta atmosfera positiva não é fruto da minha fertilidade ficcional ou cognitiva, mas várias personalidades e instituições mundiais perceberam a possível “talassocracia” que acontecerá em África. Só que a talassocracia africana não terá como substrato o mar. De acordo com dados compilados por Francisco Sarsfield Cabral, “(...) nos últimos dez anos (...), África cresceu mais do que a Ásia oriental (incluindo o Japão). O FMI prevê que a economia africana (como continente) cresça cerca de 6% este ano.” O argumento prossegue afirmando que estudos feitos pelo Standard Bank demonstraram que a pobreza diminui todos os anos, tendo acelerado esta tendência a partir de 2005 e com ela a classe média do continente. Uma franja social importante para qualquer região do mundo.


“Um continente que parecia alheio à globalização está agora, finalmente, a integrar-se nela. Desde 2000 o comércio de África com o resto do mundo subiu 200%. Também aumentaram as trocas entre países africanos. Assim como o investimento directo estrangeiro, atenuando a (...) falta de capitais. Para Teresa Pinto Coelho, do Fundo BPI África, este continente «tem vindo a criar condições para ser o principal destino do investimento a nível mundial». (...) Mas, sem pretender ter descoberto o ‘segredo’ do desenvolvimento económico, parece claro, como referiu recentemente The Economist, que boa parte das mudanças em África tem a ver com alguns passos positivos que ali foram dados no sentido da paz e de uma governação decente.”(CABRAL, FRANCISCO, 2012).


Não é só de factos, mas também de uma visão principiológica que se identificam os sinais esperançosos, por isso, nada mais cómodo que citar Obama, que a quando da sua viagem ao continente, depois da passagem ao Egipto, escalou o brilhante país da África Ocidental, Ghana, onde afirmou:  “(...) vim aqui ao Ghana por uma simples razão: o século XXI será influenciado não só pelos acontecimentos em Roma, Moscovo ou em Washington, mas também pelo que acontece em Acra.” E prossegue na constatação analitica dizendo que “esta é a pura verdade numa era em que as fronteiras entre os povos não resistem à força do que nos liga. A vossa prosperidade pode aumentar a prosperidade da América. A vossa saúde e a vossa segurança podem contribuir para a saúde e segurança mundiais. E a força da vossa democracia pode contribuir para o avanço dos direitos humanos em todo o mundo.


Portanto, não vejo os países e os povos de África como um mundo à parte. Vejo África como uma parte fundamental do nosso mundo interligado — (...) — como parceira da América em prol do futuro que queremos para todos os nossos filhos. Essa parceria deve ter como base a responsabilidade e o respeito mútuos. E é sobre isso que quero falar-vos hoje.


(...) Claro, também sabemos que há outros factores. Aqui, no Ghana, vemos uma face de África demasiadas vezes ignorada por um mundo que apenas vê a tragédia ou a necessidade de caridade. O povo do Ghana tem trabalhado arduamente para estabelecer a democracia em bases sólidas e procedeu a várias transferências pacíficas de poder mesmo depois de eleições muito disputadas.  E deixem-me dizer que a minoria merece tanto crédito por esse facto como a maioria. E, com uma governação melhorada e uma sociedade civil emergente, a economia do Ghana demonstrou índices de crescimento notáveis.”(OBAMA, BARACK, Parlamento Ghanês, 12. 07.2009).


Permitam-me regressar ao actual presidente dos EUA. Ainda no seu discurso histórico no parlamento Ghanês, em Acra, Obama repetiu três vezes que o bom futuro de África depende dos africanos! Claro, não foi original, porque internamente este discurso parece em desgaste (fora de moda), mas sempre actual, porque os desafios que se nos colocam são penosos, e efetivamente dependem de nós, por isso, uma conclusão realista leva-me a perceber que apesar destes sinais ainda precisamos trabalhar muito. Este trabalho árduo tem como chaves destruir os autoritarismos no continente, adoptarmos uma vida baseada em valores éticos e construirmos Estados onde prevaleça a força política do cidadão e do direito justo.