Luanda – É verdade há os que são cegos porque nasceram assim ou perderam a visão por doença ou acidente e há os que são cegos porque se recusam a ver.


Fonte: Club-k.net

Quando a realidade é dolorosa, angustiante, nos deixa inseguros, nos tira o sono e a encaramos como assustadora defendemo-nos destes sentimentos negativos negando-os. Para não sentirmos estas emoções que são de facto dolorosas distorcemos a realidade ou seja enganamo-nos a nós próprios e mentimos a nós próprios utilizando a imaginação. Criamos então fantasias, que por vezes roçam o delírio, e em nada correspondem á realidade. E o pior de tudo é que acreditamos nelas.

Estas defesas contra a insegurança, a incerteza e a angústia são típicas de pessoas que, por circunstâncias várias, perderam a confiança que tinham em si próprias e têm uma baixa auto estima. Isto conduz inevitavelmente a sentimentos de inferioridade que por sua vez reforçam os sentimentos e emoções negativas atrás mencionadas. É um círculo vicioso, uma espécie de pescadinha de rabo na boca.

Quando estas pessoas mergulham em sentimentos de inferioridade procuram escondê-los pois receiam passar para o exterior uma imagem de medo, insegurança e de fraqueza. Não conseguem suportar a mínima crítica mesmo que construtiva pois entendem-na como uma rejeição de si próprios. Quem tiver o desplante de o fazer passa de amigo a inimigo a abater.

Para esconder estes sentimentos de inferioridade, medo e fraqueza inconscientes estas pessoas enchem o peito e tentam transmitir uma imagem de falsa segurança e falsa tranquilidade, tornam-se agressivas e arrogantes (como se a agressividade verbal ou física e a arrogância fossem sinais de que se é superior aos demais).

É então que surgem frases aberrantes como “Somos milhões e contra milhões não se combate e quem o fizer será vencido” ou “nós os fortes não precisamos de fraude para ganhar as eleições” ou ainda, pasme-se”, a dimensão de apoio a JES ultrapassou a manifestação ao Papa Bento XVl”. Será que as pessoas que fizeram estas afirmações acreditam realmente nelas? Se acreditam, francamente, estão a enganar-se a si próprios e a querer negar o sentimento de insegurança e dúvida que sentem na vitória sem truques no dia 31 de Agosto.

Quando se convoca uma manifestação de apoio a JES acreditando que irão aparecer 500.000 pessoas e aparecem menos de 100.000 mil (já para não falar nas cerca de 50.000 que lá estiveram segundo a insuspeita Angop e outros que por lá passaram) este facto cria dúvidas e incertezas na vitória eleitoral. Para fugir a esta angústia utilizaram a imaginação para distorcer a amarga realidade criando a fantasia delirante de que Luanda em peso esteve no 11 de Novembro para apoiar JES e que a dimensão deste apoio ultrapassou a manifestação ao Papa Bento XVl. E o pior de tudo e bastante perigoso é que parecem acreditar nesta fantasia delirante e inconsciente daquilo que não aconteceu, distorcendo assim a realidade. E o mais surpreendente foi que nem com músicos, churrasco e cerveja quase oferecida ( quem não soubesse que o evento era uma manifestação de apoio da candidatura de JES á presidência pensaria certamente que se tratava de uma operação de marketing da fábrica de cerveja CUCA ) conseguiram os seus objectivos. Até Yola Araújo foi mais aplaudida do que JES.

Um destes fins-de-semana passados promovera a nível nacional manifestações de apoio á candidatura de JES a Presidência da República. Pelo que eu li algures a população do Lobito  apareceu em massa com cerca de 2.000 pessoas. Na Camama, município de Viana, contou-me quem por lá passou que os manifestantes desertaram frustrados pois o músico convocado para o evento não apareceu.

Em Malange ao que parece a população apareceu em massa para ouvir o músico Na Grelha. Quando este terminou a sua actuação o Governador começou o seu discurso mas os populares começaram a desertar, obrigando o orador a chamar de novo o músico ao palco, informando os populares que após o seu discurso haveria mais Na Grelha.

Porque será que estes senhores não convocam uma manifestação de apoio á candidatura de JES á presidência da república sem músicos, cerveja quase grátis e transporte gratuito só de ida de populares para o local do evento sem garantia de regresso, sem obrigar os professores e funcionários públicos a participar sob pena de represálias e os estudantes sob pena de não passarem de ano?

Talvez seja um risco demasiado elevado pois provavelmente iriam ver-se confrontados com a tal realidade amarga que não querem ver, que poderia despoletar os tais sentimentos negativos atrás descritos.

Nestas circunstâncias é claramente preferível enfrentar a realidade tal qual ela se apresenta no momento, aceitá-la e assumi-la, em vez de andar á procura de bodes expiatórios e culpados no exterior ou andarmos a enganar-nos a nós próprios fingindo que não vemos o que se passa mesmo á frente do nosso nariz.

Quando a nossa situação de vida atinge este estado de desnorte, é preferível parar para pensar, sermos observadores de nós próprios de uma maneira desapaixonada e fazermos um exame de autocrítica aos nossos actos passados que nos conduziram á nossa situação actual, em vez de fazermos como a avestruz que mete a cabeça debaixo da terra á espera que a tempestade passe. Deus deu-nos o livre arbítrio e a liberdade para fazermos da nossa vida aquilo que quisermos.

As nossas circunstâncias de vida actuais são o fruto das acções por nós praticadas no passado.Colhemos hoje aquilo que semeámos no passado. Se no passado colocámos boas sementes na terra da nossa vida colheremos bons frutos no presente e no futuro. Se colocámos sementes de ervas daninhas colheremos capim e se colocámos sementes venenosas então estamos a ser os nossos piores inimigos pois estamos a envenenar a nossa vida. É pura fantasia acreditar que se semearmos sementes de urtiga iremos colher doces e sucolentas laranjas. A Lei Universal que diz que “colhemos sempre aquilo que semeamos” é infalível.

Meus senhores olhem para o vosso intimo, façam um exame de consciência, deixem de se enganar a vós próprios fazendo de conta que não vêm as circunstâncias que criaram e, depois de fazerem a necessária travessia do deserto para a reformulação das vossas crenças, façam o favor de ser felizes.