Luanda - Este artigo é um comentário à mensagem dedicada ao dia mundial das comunicações de 1967 ( de Paulo VI) , intitulada “os meios de comunicação social”.  


Fonte: Club-k.net

A mídia contribuiu para o alargamento da consciência da possibilidade de uma cidadania cosmopolita. Repeliu também os povos. Divulgação da boa nova parece ser a preocupação central do pontífice, dali o apelo para a estreita relação entre a Eclésia (igreja) e a mídia.

 

Estes meios não poucas vezes disfarçam a mentira, apresentado-a como a verdade. Freqüentemente veiculam dados com interesses chocantes pondo em causa aquela pretensão básica da veracidade que marca a Imago Dei no seu projecto originário. Por exemplo, nas guerras a primeira vítima é a verdade ordinária, nestes casos a mídia já não veicula dados que acessa, mas é também um combatente no campo de batalha.

 

A igreja de Roma, ao propor orientações fundacionais para guiar o uso adequado da mídia conforme a sua cosmovisão, tem legitimidade, é coerente e deve fazê-lo, mas parece demasiado arrogante advogar que todos os sensatos vão aderir ao seu apelo orientador. Daqui infere-se que os não aderentes destas balizas são insensatos, o que não é correcto, até porque a sensatez e a prática de todo edifício axiológico não depende da igreja, assim mostra a história. Não poucas vezes os mais terríveis, bárbaros, errantes com consciência moral morta são cristãos, como testifica os crimes sexuais contra a infância mundial, que tem na igreja um risco, um perigo e surto para humanidade.

 

Este erro agrava a sua “gravidade” se pormos em conta que nesta altura o pensamento sobre uma concepção mais plural da sociedade já estava em voga, e se personificou inicialmente em J. Habermas, por meio da obra “Mudança estrutural da esfera pública”. Não se pretende aqui induzir ou pensar que a igreja deve guiar-se pelas propostas filosóficas de cada época, mas não deve ignorar o seu influxo no mundo no qual pretende passar a suposta mensagem salvífica, por isso, o mínimo que deve fazer é pugnar pela busca de conciliação sob pena de fracassar no seu projecto de imposição de uma suposta verdade metanarrativa, que tem dificuldades claras diante do fragmentalismo, do antimetafisicismo, do antidogmatismo, do secularismo, do pragmatismo, do ecletismo, etc. O que foi afirmado não é de todo estranho das orientações eclesiológicas da igreja moderna, que pretendeu-se renovada nas proposta do Concílio Vaticano II de 1965, mas a realidade fáctica mostra uma assembléia reunida reacionária que tem em J. Ratzinguer um modelo de dogmatismo, intolerância, incapcidade de renovação, através da propaganda fidei ( isto é o que a opinião pública mundial diz!. Na época em representou este organismo da Igreja).

 

Olhando para a “obsessão esquizofrênica” da igreja pela verdade, não se pode evitar a colocação das seguintes questões: que verdade esta igreja propagandeia? Ela propõe a verdade ou as verdades para conviverem de forma tolerante? Se a igreja propõe “a verdade ou a beleza no singular”, não será a igreja promotora da intolerância, mesmo que sem intenção? Estas questões se podem aplicar analogicamente para a ética em geral e outras ordens de concepções. Por acaso a partir desta mensagem pontifícia, havia também (mesmo que implícita) a intenção de infundir uma forma de fazer e usar da mídia de maneira uniforme?