Luanda - Colocado na 5.ª posição da lista do MPLA como um dos candidatos cimeiros ao posto de parlamentar nas próximas eleições gerais, Pitra Neto, o decano dos ministros, deverá ocupar na próxima legislatura o cargo de Presidente da Assembleia Nacional, apurou o Novo Jornal junto de fonte do Palácio da Colina de S. José.


Fonte: NJ

Após a recusa de “Nandó”

Noticia aparentemente esperada a partir do momento em que, desde há uns tempos a esta parte, começaram a adensar-se nuvens sombrias que preanunciavam o declínio da imagem do actual vice-presidente da República.


Noticia aparentemente esperada a partir do momento em que se foi tornando cada vez mais preocupante o seu estado de saúde.


Noticia também aparentemente esperada a partir do momento em que a opinião pública se foi deparando com a erosão da sua autoridade e o esvaziamento de poderes, que o colocaram na subalterna condição de primeiro dos ministro para os assuntos sociais...


Noticia ainda aparentemente esperada a partir do momento em que se começou a tornar evidente a emissão de sinais que configurariam uma difícil coabitação entre Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” e Manuel Vicente, o candidato preferido pelo Presidente ao cargo de vicepresidente da República…


Perante estes dados, no seu bom estilo, o Presidente geriu a cadência do tempo e na hora certa “ressuscita” um velho trunfo, que na verdade, nunca foi abandonado. Quem julgava, por isso, que o Ministro do Emprego e Segurança Social, mesmo depois de ter resignado o posto de vice-presidente do MPLA, era uma carta fora do baralho, enganou-se redondamente.


Assumindo a descrição como uma das suas marcas registadas, é bom não esquecer que Pitra Neto teve um desempenho notável na vitória eleitoral do MPLA em 2008. É bom também não esquecer que o sucesso dessa vitória, não o catapultou para o deslumbramento.


Disso responde o seu estilo de vida e disso deu mesmo conta num discurso em que, apôs essa vitória, não se coibiu de fazer alusão a uma das famosas 48 leis do poder e a relação que, em política, é recomendável manter com o líder…” A sombra não brilha” disse então, Pitra Neto.

É bom ainda não esquecer que foram várias as razões que sustentou para abandonar a vice-presidência do MPLA, avultando entre elas a sua juventude, a contenção de ambição e questões de saúde. A verdade, porém, é que os analistas mais atentos não deixaram de reconhecer que Pitra Neto poderia estar a fazer um simples recuo temporário e que ensaiava a adubagem do terreno para novos desafios e novas colheitas.


Como político atento, experimentado e conhecedor dos cantos da casa, sem grandes alaridos, abandonou serenamente o cargo de vice-presidente do seu partido e entregou-se à acção governativa.


Colocando como prioridade este desafio, continuou a fazer, de forma brilhante, os trabalhos de casa e soube dar tempo ao tempo. Não foi por acaso que o Presidente o manteve agora no “grupo dos dez”.…

 

UMA RESERVA DE LUXO

Não, não foi por acaso. “Pitra é uma reserva de luxo e tem perfil para o cargo de Presidente do Parlamento” – disse ao Novo Jornal um membro da direcção do MPLA. Jurista de profissão, antigo professor universitário, impõe-se como um negociador de fortes convicções e habilidade reconhecida cujos créditos foram firmados nas sucessivas rondas de conversações que ao longo de anos o governo manteve com a UNITA até a assinatura dos acordos de Bicesse.

“Como diplomata, negociador, defensor da disciplina e da exigência e homem das leis não tenho dúvidas de que é a pessoa indicada para dirigir o parlamento” – revelou um dirigente da oposição, que solicitou o anonimato. Culto e dotado de bom domínio da palavra, Pitra Neto parece reunir todos os ingredientes para enfrentar este novo desafio. Será o homem certo para o lugar certo? Ainda é cedo para fazer, de forma definitiva, essa avaliação. Vamos dar tempo ao tempo.

Certo, certo é que a sua imersão no firmamento da política de Estado ao mais alto nível ao lado de Manuel Vicente como vice-presidente da república, poderá vir a dar expressão prática a estratégia do Presidente. Com estas mudanças no xadrez, o Presidente, sem darmos por ela, poderá estar a dar os primeiros passos conducentes à gradual substituição de uma geração a caminho da reforma por uma nova geração à frente dos destinos do país.

 

KASSOMA EM FIM DE CICLO

Desde 1992 já passaram pela presidência do parlamento França Van-Dúnem, Roberto de Almeida, Fernando Dias dos Santos “Nandó” e Paulo Kassoma. E o que será feito do actual Presidente da Assembleia?


Será o que será, sendo igualmente certo que a sua colocação na 41 posição na grelha de partida dos deputados do MPLA não é alheia a um claro declínio na hierarquia do Estado, que poderá vir a culminar com a sua deslocação para Benguela em substituição de Armando da Cruz Neto, que por razões de saúde, deixará o posto de governador daquela província.

Um reconhecimento pelo trabalho feito no Huambo? Uma despromoção? O leitor que tire as suas conclusões e que mergulhe bem fundo nos subterrâneos de certas operações para ver por que tudo se passa assim e não se passa assado. Veremos o que nos reserva a seguir daqui há mês e meio. O filme prosseguirá depois. E deixará um novo rasto de órfãos…