Lisboa - Francisco Noticia, comandante da Polícia Nacional conotado com as praticas de agressão que o fazem associar ao “esquadrão da morte” acaba de embaraçar a figura do Ministro do Interior, Sebastião Martins, numa altura em que aquele governante procura desmarcar-se das praticas de repressão que se tornou marca do seu consulado.
*António Gonçalves
Fonte: Club-k.net
Disse que apenas cumpriu ordens superiores
No último sábado (14), o superintendente Francisco Notícia, que é o comandante da Divisão da Polícia Nacional do Sambizanga recebeu na sua esquadra, como detidos, um grupo de jovens ligados a manifestação anti- governamental realizada no bairro São Paulo, em Luanda tendo entretanto enveredado por actos de violência que comprometem o executivo do Presidente José Eduardo dos Santos.
O maior sinal de insensatez que Francisco Noticia terá mostrado foi com o jovem Pedro Malembe a quem o comandante manteve algemado por cerca de quatro horas com as mãos a inflamar após os seus homens terem fortemente espancado o rapaz. A agressão aconteceu na presença de jornalistas da TPA e RNA que estavam no local mas que entretanto não fizeram registro magnético do comportamento do comandante da polícia mas relataram nos seus círculos a forma desumana que Francisco Noticia tratou os detidos.
Estes jornalistas contaram que enquanto Pedro Malembe era espancado, o comandante Francisco Noticia dirigia-se aos detidos com termos mal criados e agressivos dizendo que “Vocês só merecem ser fuzilados”.
“Aqui em Angola esta é a única esquadra que é respeitada, e quem manda aqui sou eu”, dizia o comandante de forma deseducada.
Este superintendente da polícia teria afrouxado quando soube que uma das detidas de nome Rosa Mendes era filha do advogado e líder do PP, David Mendes. A jovem Rosa Mendes, foi presa na porta da Eclésia, quando estacionava a sua viatura, sem que tivesse feito parte da manifestação.
Na esquadra, a jovem se encontrava no andar de cima quando o comandante Francisco Noticia chamou-lhe para pedir que ela e os outros detidos dessem uma entrevista a TPA, a acusar a oposição neste caso a UNITA e CASA-CE como incentivadora da manifestação anti-governamental.
Depois de ter ficado mais sereno, o comandante revelou que apenas estava a “cumprir ordens superiores” e que aquela acção que pouco dignifica a polícia nacional não corresponde a vontade dos mesmos. Fica-se por se saber se a “ordem superior”, para reprimir os manifestantes partiu do Ministro Sebastião Martins ou de Ambrósio de Lemos.
Durante a abortagem da manifestação, os agentes da polícia pontapearam as zungueiras nos arredores do São Paulo, o que provocou revolta. Pelo menos dois agentes da ordem publica que se desmarcaram das praticas de Francisco Noticia, telefonaram para a Radio Despertar dizendo que não concordam com o que se estava a passar.
Quem também mostrou-se indignada com o comportamento de Francisco Noticia é a comandante de Luanda, Elisabeth Franque “Bety”. A responsável teve de telefonar para o mesmo a dar bafos após tomar conhecimento que o seu subordinado havia se apoderado de um Ipod e de uma maquina de fotografar pertencente ao jornalista Coque Mukkuta e que fora confiscada quando este foi detido.
Francisco Noticia faz parte dos quadros (da linha de Divaldo, Diogo e Jorge Bengue) formados pelo Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna de Lisboa, a alguns anos atrás. Na capital portuguesa viveu na Linha de Cintra e mostrava-se como um jovem sereno. Figuras que com ele conviveram, mostraram-se indignos ao vê-lo associados em praticas menos boas.
Numa altura que circula um documento secreto a revelar que forças do regime estariam a cooperar com a UNITA, para enfraquecer o regime fica-se sem saber se Francisco Noticia faz parte destes grupos ou que se terá usado a violência contra os jovens para manchar o nome de Eduardo dos Santos e ser ligado a repressão.
Não há ainda conhecimento de que este quadro da policia tenha alguma vez se envolvimento em acções de tirar a vida de cidadãos como aconteceu no caso "massacre da frescura". Sabe-se apenas que após a queda de Quim Ribeiro, foi ele a figura chamada a interinar o comando da policia no município de Viana e a bem pouco tempo foi nomeado para exercer funções semelhantes no Sambizanga. Em Viana ficou com a reputação menos boa por associarem-lhe num esquema de apropriação de um terreno por detrás da Universidade Tecnica de Angola (UTANGA). Desde então passou a ser jocosamente tratado pela população como o comandante do “esquadrão da morte”.