Luanda - Escrevi este texto mais em resposta ao comportamento de alguns cidadãos irmãos angolanos, jovens e adultos, que dizem que não votarão nas eleições de 31 de Agosto por vários motivos, entre os quais menciono: 1 – “Sou Cristão, o meu partido é Cristo”, 2 – “O meu voto não vai mudar nada”, 3 – “A minha crença não autoriza votar, o nosso reino não é aqui na terra”, 4 – “Não sou político”, etc.

Fonte: Club-k.net

Os Cristãos têm uma grande responsabilidade perante a sociedade em que habitam e cultivam a sua cidadania. Eles devem ser a “a luz do mundo e o sal da terra”. Eles não devem mudar de comportamento durante as eleições. Devem evitar faltas de respeito ou situações comprometedoras à ética moral.


Há uma tendência muito forte, nesta época pré-eleitoral, e enquanto aproximam-se as campanhas dos Partidos e Coligações, em criar-se alguma confusão entre ser Cristão e ser cidadão. O Cristão tem o seu papel a jogar enquanto membro do Corpo de Cristo, e nunca deve confundir a sua identidade com a dos descrentes. Enquanto cidadão, o Cristão deve cumprir com os seus deveres: Dar a Deus o que é de Deus, e a César o que é de César. Algumas denominações Cristãs insinuam os “seus” fiéis a não votarem, por considerarem que as eleições são para os descrentes. Eu acho que cada denominação tem a sua doutrina, mas do dever de cidadania ninguém pode abster-se, enquanto todos esperam beneficiar-se dos seus direitos.


Cícero Palmeira, membro responsável na Pastoral Operária da Arquidiocese de Campinas, Brasil, quando comentava sobre os Cristãos e as eleições de 2010 no Brasil, disse que os Cristãos devem “trabalhar a conscientização no seio da Igreja” e que “muitas vezes, falamos da Igreja enquanto instituição, mas a Igreja são as pessoas, são os cristãos. Precisamos fazer um trabalho de conscientização, despertar na população, nos militantes e nos participantes da comunidade, a consciência política” (Palmeira, 2010).


As estatísticas disponíveis no site da Central Intelligence Angency (CIA), de 1998, sobre crenças religiosas em Angola indicam que 53% da população é Cristã (38% Católica e 15% Protestante) e 47% não Cristã (CIA, 1998). Apesar de as estatísticas não oferecerem cem por cento actualidade, pelo espaco temporal, ainda assim penso que se todos os Cristãos, que são a maioria em Angola, dissessem: “A minha crença não autoriza votar, o nosso reino não é aqui na terra”, seria desastroso. Quantos Angolanos iriam às urnas? Menos de metade da população votante.
 
O Estado Angolano é laico, de acordo com a nossa Constituição, mas o Cristianismo, pela história, tem maior aceitação dentro do Governo, pois grande parte dos nossos governantes, e não só, até possuem fortes ligações com a Igreja. Muitos dos actuais governantes e líderes da oposição também são membros fiéis nas Igrejas Católicas e Protestantes. Não vejo mal nenhum nisto, até porque é sempre uma mais-valia para o país quando os nossos governantes servem com base no mandamento Bíblico. E, pelo menos, perante Deus não terão como justificar-se que não conheciam a Palavra. E assim como os políticos são livres de pertencer a uma ou outra religião/denominação, os fiéis também são livres de escolher. O que não devem fazer mesmo é ficar sem escolher (votar, nesse caso).


Os Cristãos, contudo, não devem vestir material de propaganda partidária nas igrejas. Nesta fase pré-eleitoral, tudo é mais sensível. E é lícito um pastor ou membro do clero anunciar publicamente a sua filiação partidária? A coisa talvez fica mais receptível se for um leigo. Há denominações que aceitam isto, mas para tal, o pastor ou membro do clero tem que estar em situação de dispensa no ministério pastoral/clerical. Outras são estritamente contra esta posição. Enquanto outras não se importam. Portanto, cada caso deve ser um caso.

 
 
Rui M. Manuel
 
Fontes bibliográficas:

Arquidiocese de Campinas (2010) http://www.atribuna.org.br/2010/qual-e-o-real-papel-do-cristao-nas-eleicoes/
Biblia Sagrada
Central Intelligence Services (n.d.) https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/ao.html