Luanda - O líder da UNITA, Isaías Samakuva, maior partido da oposição em Angola, disse em entrevista à Lusa que quem não pertence ao MPLA, no poder desde 1975, é considerado "cidadão de segunda classe".

Fonte: Lusa


Isaías Samakuva, líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), estende a crítica ao Presidente da República, José Eduardo dos Santos, a quem acusa de "primeiro responder às necessidades dos seus camaradas de partido e só depois é que considera aqueles que não são do seu partido".


Nascido em Kunji, na província do Bié, centro de Angola, Samakuva, de 66 anos, sucedeu a Jonas Savimbi à frente da UNITA na sequência da assinatura do Memorando de Paz de 2002, que pôs fim à guerra civil, e parte para as eleições gerais de 31 de agosto convicto de que o eleitorado está mais "maduro politicamente" e "consciente das suas responsabilidades cívicas".


"Criou-se uma cultura no país em que o cidadão que tenha cartão do partido que governa, só por ter este estatuto, pensa que é superior a qualquer outro cidadão", lamentou.


Caso vença as eleições, a sua primeira medida será a de entregar o cartão do partido para ser o Presidente de todos os angolanos.


Em 2008, a UNITA perdeu estrondosamente as eleições, passando de uma bancada de 70 deputados para 16, e as acusações de fraude foram de imediato suscitadas, mas o Tribunal Constitucional indeferiu o pedido de impugnação do escrutínio.


Quatro anos depois, surgiram novas críticas. "Em 2008, a legislação estava mais ou menos a ser cumprida. Isto não acontece em 2012. A vontade deliberada em violar a lei é algo que tem marcado este processo, ao contrário de 2008", defendeu.

Isaías Samakuva centra as críticas em José Eduardo dos Santos, a quem acusa de fugir ao debate para que o desafiou, logo no arranque da campanha eleitoral.

"Uma das perguntas que vai ficar sem resposta é como é que um cidadão que se apresentou como socialista e marxista, de um momento para o outro, virou-se para o capitalismo selvagem. Nem é liberal sequer. Tanto mais que a forma como tem gerido o país, do ponto de vista económico, para mim é confusa", salientou.

Se por um lado, Angola é "formalmente" um país que aceitou o princípio do mercado livre, por outro lado, observou, "a economia angolana ainda continua centralizada".

"E mesmo essas empresas que se dizem do setor privado, estão nas mãos daqueles que controlam o poder em Angola. Há um clientelismo formalizado no país e, se formos a ver, também essas empresas, os seus donos, são exatamente os governantes", apontou.

"E governantes de um certo círculo, são sempre os mesmos: são os mesmos que estão na banca, nas telecomunicações, nos transportes. Até nas padarias. Já têm padarias e cabeleireiros. São os donos das clínicas. São sempre os mesmos", denunciou.

O facto de o Estado ser o principal empregador ajuda ao que Samakuva designa como "clientelismo", em que os "favores são pagos com lealdade política".

"Ou se venera o chefe, ou então perdem-se as regalias", sintetizou.

Se vencer as eleições, a UNITA prosseguirá a "reconstrução física" de infraestruturas em curso e iniciará o que designa por "reconstrução moral".

"Queremos normalizar o nosso país e tal requererá, ou exigirá, a normalização desses atos. Naturalmente não se esperará que as coisas se processem como se processam hoje", frisou.

Essa "reconstrução moral" passa pela exigência de que as fortunas fora do país, pertencentes a pessoas do círculo de poder de José Eduardo dos Santos sejam repatriadas.

"Queremos que venham beneficiar o país, em vez de estarem escondidas lá fora. Quem está nos seus negócios, vai continuar, mas esses negócios têm que ser transparentes e conformes à lei", afiançou.