Luanda -  A campanha eleitoral dos partidos e coligações de partidos concorrentes às eleições gerais de 31 de Agosto entra agora na fase derradeira. Restam apenas dez dias para as formações fazerem ainda campanha mas, por esta altura do campeonato os eleitores, mesmo os que se mostraram indecisos e os que momentaneamente se entusiasmaram com alguns projectos políticos, já sabem praticamente em quem irão votar.


Fonte: JA

As campanhas políticas são a ocasião propícia para os partidos criarem junto do eleitorado um estado de opinião favorável relativamente às suas propostas de governação e deixarem a sua imagem de marca bem estampada. Bem conduzidas, as campanhas eleitorais criam envolventes psicológicas positivas ou negativas consoante as propostas feitas ao eleitorado e isso manifesta-se de forma óbvia e natural na capacidade de mobilização dos candidatos para os grandes actos de massas. Quando a envolvente é positiva é claro que o que assistimos é o candidato a arrastar multidões onde quer que vá. É o que está a acontecer com o MPLA e o seu candidato às eleições gerais de 31 de Agosto. José Eduardo dos Santos esteve na Cidadela e em Viana, em Luanda, e não restam dúvidas do imenso apoio de que goza. Já esteve na Lunda-Norte e foi a confirmação de que é, nestas eleições, a figura de maior prestígio político. Esteve em Saurimo e de seguida no Moxico e em ambas as ocasiões a aprovação pública que obteve mostra que o MPLA e o seu candidato estão em maré alta, com banho de multidão que lhes confere estatuto de favoritos.


A envolvente psicológica positiva criada está traduzida nos tempos de antena tranquilos que o MPLA e a sua figura de proa desenvolvem na RNA e na TPA. O recurso constante aos ganhos da paz e da reconstrução nacional infundem a sensação de tranquilidade, de segurança. Neste momento da vida do país e da nação não há ninguém que no seu perfeito juízo queira trocar isso pela perturbação, pela incerteza, sabendo que, ainda que com algumas dificuldades, o país está realmente a crescer e a desenvolver-se e há uma força política que, não sendo arrogante, reconhece que ainda falta muito por fazer e é preciso distribuir melhor os rendimentos.


Tem sido praticamente uma campanha suave, a que José Eduardo dos Santos e o MPLA têm sabido fazer, recusando enveredar pelo caminho da resposta aos insultos e às ofensas, para não baixar o discurso ao nível dos pronunciamentos dos seus adversários. Mas é bom que seja dito que, se utilizar algumas verdades, pode bem desequilibrar os seus oponentes.


Da UNITA e do seu candidato, até agora, e espremendo o que tem sido a campanha feita, fica a ideia de desnorte face às acusações infundadas de fraude que tem proferido, quando se sabe que todos os partidos e coligações de partidos políticos têm delegados de lista, que vão funcionar nas assembleias de voto com amplos poderes para fiscalizar o processo de votação e de escrutínio a partir da mesa de voto. Mais grave é o facto de a UNITA revelar de forma clara que não se dissociou do gene da violência que sempre a caracterizou – evidenciada de modo dramático para os angolanos nas eleições de 92 -, pois não se coibiu de, no seu tempo de antena de terça-feira, alardear as manifestações promovidas em Março em Angola no “embalo das primaveras árabes”, esquecendo-se das suas obrigações enquanto partido que deve procurar alcançar o poder por via do voto nas urnas, como ditam as regras em democracia, e mandando às urtigas o sentido de Estado com que se deve posicionar face aos acontecimentos políticos internos e externos. Com a ameaça de realização de uma manifestação no dia 25, e com tudo o que atrás foi dito, a UNITA empresta à campanha eleitoral uma envolvência psicológica negativa.


O Partido de Renovação Social enveredou pelo radicalismo, ao ponto de negar estudos científicos comprovados sobre a origem do homem e sua evolução, coisas ensinadas na escola para que os alunos saibam porque existe a humanidade e de onde ela vem: desde os australopithecus, passando pelo homo erectus ao homo sapiens. Tudo isto foi utilizado como arma de arremesso sem ter-se em conta o trabalho de especialistas. Mais grave é a persistência do PRS na defesa do federalismo para Angola, que pode levar o país a ficar espartilhado e era uma vez “um só povo, uma só nação”, lema caro que nos levou à conquista da independência, à defesa da integridade territorial e nos permite sobreviver hoje como nação soberana e politicamente independente.


O PRS desconhece as vantagens das autarquias em países unitários, tanto quanto desconhece o contexto económico, político e social em que o federalismo surgiu como sistema político. Nessa época os Estados Unidos já estavam de tal sorte desenvolvidos e industrializados, quando nós nem sequer com isso sonhávamos e muitos países europeus ainda lutavam para firmar as conquistas da primeira revolução industrial.

A CASA-CE é o que é. Uma coligação que mais parece uma manta de retalhos políticos cozida às pressas e que anda a reboque de Abel Chivukuvuku, e que por isso mesmo disputa os votos da UNITA a ver se consegue lugares no Parlamento para sobreviver politicamente.


A FNLA de Lucas Ngonda elegeu para esta campanha um discurso pedagógico, didáctico, na ânsia de reunir os seus militantes para o voto no partido que se encontra fragmentado e assim poder evitar o seu desaparecimento da cena política. A ver vamos se Ngonda consegue salvar a FNLA. Se o fizer, será um feito. Das restantes formações a ideia geral que se tem é a de que estão a animar a festa da democracia, alargando a diversidade de opiniões e propostas sobre como pretendem ver governado o país. Apesar de terem poucas chances, fica entretanto o registo de que algumas dessas propostas podem até ser válidas e aproveitadas por quem for Governo.

DG adjunto do Jornal de Angola