Luanda - Em epóca de caça ao voto a sociedade civil angolana acusa os meios de comunicação estatais, e não só, de estarem mais empenhados em manipular do que em informar. Representantes de várias organizações da sociedade civil angolana têm-se mostrado preocupados com a falta de imparcialidade dos órgãos de comunicação social em plena campanha eleitoral.

Fonte: DW

O activista  Fernando Macedo, da Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD) acaba de publicar um artigo de opinião, distribuido na Internet, no qual afirma: "As eleições que estão em curso são autoritárias, porque direitos fundamentais continuam a ser violados (...), como o direito de informar, de ser informado e de se informar. É violado o direito à informação objetiva e verdadeira, assim como o direito a comentários diversificados."


Informação ao serviço do Estado

A opinião é partilhada pelo denominado "Grupo de Reflexão da Sociedade Civil para o Processo Eleitoral". Numa declaração, distribuida na rede social facebook, o coordenador do grupo, Ângelo Kapwatcha, considera "uma fraude a utilização abusiva dos órgãos de comunicação social."


Este grupo, que terá analisado o papel do jornalista e característica da mídia angolana, conclui que ela é ainda suficientemente ligada ao Estado, e por esta via parcial. Ângelo Kapwatcha concluiu que a interferência dos chefes de informação nas redações e a auto-censura do trabalho do repórter põe em causa a insenção e a imparcialidade do jornalista em lidar com a verdade."


Também outros analistas, ouvidos pela LUSA, consideram a campanha eleitoral desiquilibrada e com falta de isenção. Sobre a imprensa privada entretanto, fazer uma avaliação não se mostra tarefa fácil. O jornalista Reginaldo Silva considera


"difícil" uma análise, pelo facto de muitos dos seus órgãos serem afetos ao partido no poder, MPLA. Mas o jornalista destaca a Rádio Ecclesia, emissora católica, como a que melhor tem representado o "equilíbrio" necessário.


Manipulação a favor do MPLA


Sizaltina Cutaia, diretora de programas da ONG Open Society em Angola, afirma que, de facto, "há manipulação com objetivo de desinformar e influenciar a tendência de voto."


E a titulo de exemplo ela conta que o presidente da UNITA, Isaías Samakuva, o maior partido da oposição no país, falou há pouco tempo sobre os possiveis comissários da sua formação para a Comissão Nacional de Eleições, CNE, e diz que a informação foi absolutamente deturpada no "Jornal de Angola"


Para a responsável da Open Society "a maneira como o referido jornal deu a notícia dava a entender que a UNITA estava satisfeita com a CNE, o que não era verdade."


Sizaltina Cutaia insurge-se também contra os tempos de antena destinados as formações políticas, denunciando que o partido no poder, MPLA, tem muito mais tempo do que as outras formações. A colaboradora do Open Society dá mais um exemplo: "Fala-se durante 45 minutos do MPLA, com a capa do Estado ou do governo, quando na verdade são dispensados 5 minutos a cada partido." Cutaia considera que esse conjunto de irregularidades desinforma o cidadão.


Não são poucos os observadores que questionam sériamente se poderá existir um processo eleitoral transparente, sem um mínimo de pluralismo e abertura nos órgãos de comunicação social. Recorde-se que as eleições gerais decorrem no dia 31 de agosto.


Apesar das inúmeras críticas que se levantam contra a atuação da imprensa angolana, há quem comece a ver pontos positivos nela. Por exemplo, o sociólogo Paulo de Carvalho, autor de um estudo sobre o comportamento da comunicação social angolana, disse à Lusa "que não tem havido grande diferença em relação ao tratamento diferenciado às formações políticas". 


Mas o sociólogo reconhece que para os jornalistas ainda é difícil serem isentos, e defende que deve haver fiscalização no cumprimento das regras.