Luanda - Desequilíbrio e impunidade. Estas são apenas duas das palavras usadas por vários especialistas para descrever a cobertura jornalística da campanha para as eleições gerais de 31 de Agosto em Angola.

Fonte: DW

A pouco mais de uma semana do dia em que se decide o elenco do parlamento e os nomes do Presidente e Vice-Presidente da República de Angola, o Sindicato dos Jornalistas angolanos tece duras críticas à atuação da comunicação social durante a campanha.


Sem querer avançar, para já, os resultados do relatório de monitorização dos media angolanos, elaborado pela estrutura, Luísa Rogério, secretária-geral do sindicato, fala numa cobertura desequilibrada e preocupante da campanha eleitoral: "Mesmo sem estarmos diante de resultados definitivos, mesmo sem podermos falar de números, neste momento, eu diria que há alguns desequilíbrios notórios".


Segundo a responsável, o sindicato está preocupado com o comportamento dos meios de comunicação social: "É verdade que eles são sustentados por jornalistas, mas acreditamos que isto tem a ver com política e, mais do que isso, com práticas preocupantes de meios de comunicação social que dão tratamento privilegiado a alguns dos protagonistas da política".
Actuação policial é obstáculo ao jornalismo, diz RSF


Também a organização Repórteres sem Fronteiras está apreensiva quanto à cobertura da campanha para as eleições gerais angolanas. Ambroise Pierre, responsável pelo departamento de África da RSF, afirma que "em Angola, informar corretamente as pessoas tem sido muito difícil para os jornalistas".

"População que segue os media públicos angolanos não está bem informada sobre a oferta eleitoral", alerta RSF


Pierre justifica: "Há já algum tempo que a polícia está a dificultar muito o trabalho dos media. E não tenho a certeza se está a cumprir ordens ou se lhe é pedido para o fazer, mas há uma cultura de violência e impunidade para com os jornalistas, que representa um grande problema para Angola".


Media angolanos não são imparciais


Uma opinião partilhada pela Associação angolana Justiça, Paz e Democracia que, na voz de Godinho Cristóvão, denuncia a parcialidade dos meios de comunicação do país, em especial, dos órgãos estatais: “De certa forma, há uma tendência de privilegiar aquele que é o partido no poder no momento e também o seu candidato".


"Nós podemos ver isso todos os dias mesmo nos noticiários", exemplifica o responsável, adiantando que "além do espaço de antena que é reservado a cada um dos partidos, a rádio pública tem acompanhado todos os passos daquele que é o candidato do partido no poder".


"Muitas vezes até se confunde aquilo que é o candidato e a sua figura enquanto presidente da República", conclui Godinho Cristóvão.

Agir parece ser a palavra de ordem quando as organizações contactadas pela DW África deixam um apelo aos jornalistas para que estejam especialmente conscientes, nesta altura, do seu papel de informar imparcialmente a população.


Perante a decisão da Assembleia Nacional angolana de restringir a actuação dos repórteres durante o acto eleitoral, limitando os locais e horários de cobertura, o Sindicato dos Jornalistas já decidiu quais as medidas a tomar: “Nós estamos no momento de agir. Portanto, vamos pedir um encontro com o presidente da CNE, porque queremos saber qual é a fundamentação legal para essa determinação", explica Luísa Rogério.


O Sindicato promete ainda recorrer ao Tribunal Constitucional já que, segundo a secretária-geral, "podemos estar numa situação de flagrante violação da Constituição e também das lei da imprensa e das eleições".

A estrutura sindical já anunciou que irá divulgar, esta quarta-feira, os resultados preliminares do relatório de monitorização dos meios de comunicação angolanos que está a levar a cabo desde o dia 31 de Julho. A prova, de acordo com Luísa Rogério, de que há favorecimento e desequilíbrios na cobertura da campanha eleitoral.