Luanda – As eleições gerais do próximo dia 31 em Angola "não serão seguramente livres, justas e transparentes", disse Abel Chivukuvuku. "O objectivo é tentar fazer com que tenhamos eleições livres. Mas, objectivamente, não as teremos assim", reafirmou. Apesar da desconfiança à forma como a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) está a organizar o escrutínio, o líder da CASA-CE deixou uma certeza: "A única certeza é que vamos a votos."

Fonte: Lusa

Identificado como a "terceira via" entre o MPLA, partido que governa Angola desde a independência, em 1975, e a UNITA, contra a qual disputou uma guerra civil de quase três décadas, a CASA-CE acolheu figuras de relevo daquelas duas formações. "A CASA-CE é mais do que uma coligação. Junta dirigentes de relevo de vários partidos e muitos independentes. Angola, do ponto de vista político, já não será como antes do surgimento da CASA-CE, em que havia quase certezas absolutas sobre os processos políticos", acentuou.

Entalada entre os personagens principais desde que Angola ascendeu à independência, a CASA-CE considera que este já não é o tempo de "eleitorados cativos". "Tudo é disputa. E é por isso que esta eleição é interessante e que seja levada, apesar do desafio que nós representamos, com lisura, com civismo, com urbanismo, mas sobretudo com alegria e festa", afirmou.

Porque o mais importante é que as eleições em Angola passem a representar uma diferença relativamente ao passado. "As eleições não devem ser uma questão de vida e morte, mas simplesmente exercício de opções temporárias, porque é só um mandato de cinco anos do rumo que o país deve ter", defendeu.

O modelo que defende passa pela apresentação de uma imagem diversa da que os agentes políticos têm actualmente. "Queremos evoluir para modelos de governação mais transparentes, mais sérios, em que o serviço público não seja servir os dirigentes, como tem sido até aqui", sublinhou, acrescentando "quando se tem maiorias esmagadoras, os regimes tornam-se autistas, arrogantes e insensíveis. Quando há equilíbrios, os regimes são obrigados a serem responsáveis, a responderem pelas necessidades básicas do cidadão para ver se podem continuar na legislatura seguinte".

Nas "linhas mestras de governação", como chamou ao documento síntese das propostas para um futuro governo da coligação, Abel Chivukuvuku quer que a CASA-CE empunhe a bandeira da luta contra a corrupção. "Está hoje provado que a maioria dos cidadãos tem expectativa e esperança de uma mudança e precisa de garantia de que esta mudança seja positiva, responsável e ordeira. Queremos que a CASA-CE seja factor relevante definidor da política nacional. E podemos sê-lo como governo ou como elemento mais importante da oposição", destacou.

O adversário principal é o MPLA, que Chivukuvuku acusa de protagonizar um sistema baseado no nepotismo e tráfico de influências. "Temos é que estruturar um alicerce para a construção de uma sociedade séria e isso pressupõe reformular o conceito de serviço público. Temos de reformular o conceito de postura individual, honestidade. O que nós temos hoje é esperteza", sentencia.

Sobre José Eduardo dos Santos, Presidente da República há mais de 32 anos, Abel Chivukuvuku diz que "não tem convicções absolutamente nenhumas". "Apenas se preocupa com o exercício do poder político. É inaceitável que alguém que há 15 anos mandava para a cadeia quem fosse encontrado com uma nota de 50 dólares no bolso, de repente, em menos de 10 anos, tornou-se multibilionário. Alguém que defendia completamente a economia de planificação central, de repente foi para aquilo que eu chamo de capitalismo selvagem nepótico, dominado pela família, pelos filhos e por todos esses interesses", denunciou.