Benguela - A luta pela liberdade e contra a dominação estrangeira é um factor concreto e permanente da tradição histórica dos povos do continente africano e foi realizada sob diversas formas, confirmando a inalienável vocação destes povos para determinarem o seu próprio destino, livres e independentes de pressões estrangeiras. O direito à autodeterminação e à independência traduz essa combatividade tradicional e sempre manifesta dos povos africanos e em especial o angolano contra a dominação colonial estrangeira.

Fonte: Club-k.net


Os angolanos vivem sob a capa da independência, mas na verdade vivem neocolonizados. O mais difícil é o de perceber a neocolonização, o que é? No regime colonialista conhecemos o nosso opressor, é fácil identifica-lo por ser um povo estrangeiro que invade o outro e impõe suas regras, com hábitos e costumes diferentes e forma de Governo que exclui a presença do nativo, assim como de uma vida económica e social dignas. Mas a colonização mesmo sendo brutal, fez coisas boas que são um legado, um orgulho, as nossas cidades bonitas, as estradas, as pontes e um sistema de educação de longe melhor que o actual, embora não fosse inclusivo.

E o neocolonialismo, este que temos em Angola, é o mais perigoso e explicamos porquê. O colonizador não é visível e não vem de fora, é o nosso irmão, o nosso filho, nosso parente que esta a Governar e que se vende aos interesses externos ou de grupos internos e deixa seu povo mergulhado na miséria total, enquanto eles vão prosperando a custa de todos. 

Há justificações sobre a guerra e que o Governo teve poucas hipóteses de realizar seu programa. Em 10 anos de Paz, são visíveis a reabilitação de infra-estruturas destruídas. Certo, não há dúvidas. Mas isso não é novidade, os colonos que eram exploradores vindos do outro mundo, também fizeram, levaram muita riqueza para a metrópole, mas hoje temos o orgulho das cidades que temos que são fruto da colonização. Eles fizeram e nunca se ouviu que aqueles Governantes portugueses e seus seguidores se tornaram ricos, nem sequer os seus filhos. Mesmo com o Governo central em Portugal, havia um controlo rigoroso.

A colonização ignorava os angolanos, tinha a PIDE-DGS que nos pisava, vivíamos na periferia das cidades, mas hoje temos os outros Pids. O Sinfo, a milícia caenche que também matam e maltratam as pessoas brutalmente. Fazem desaparecidos e torturam. A miséria vê-se a céu aberto nas cidades, bairros e nas sanzalas do interior.
Caminhando pelos bairros de Luanda, abundam os esgotos a seu aberto, lagoas de água podre, milhares de vias intransitáveis, um sistema de educação com alunos do ensino médio e superior que lêem e escrevem muito mal, um sistema de saúde que faz fugir os governantes para se tratarem no estrangeiro e podemos falar de mais serviços que não existem. E se existem, são sem qualidade.

Governar sem um único hospital de referência no país onde governantes e governados podem se tratar com qualidade e sentir-se orgulhosos, não existe. Falta qualidade em quase todos os serviços públicos e privados, ninguém controla ninguém e cada um safa-se como puder.

Colonização e neocolonização diferem pouco, aqui só muda a origem dos colonos e a violência de cada um deles. Um exemplo vivo da neocolonização é o sofrimento pelo que passam as pessoas hoje em dia. Temos amontoados de pessoas em cada esquina das cidades a formarem pracinhas de sobrevivência, cidades com uma vida campestre, sofrimento das zungueiras com rumo e mercado incerto, milhares de jovens e adultos perfilam ao longo das ruas e vendem todo tipo de produtos informais incluindo ginguba e mandioca crua, isto abre concurso a frustração das pessoas maculando o tecido humano, dando origem a um exercito de alcoólatras, drogados, loucos e mendigos.

Afigura-se um aumento exponencial de ladrões e assaltantes que tornam as ruas cada vez mais inseguras com a violência na ponta do cano da arma. O tipo de habitação e arruamentos degradantes no interior dos bairros, são totalmente irreconhecíveis quando chove. Isto configura o modo de vida dos angolanos, a forma como vivemos, como somos governados, estimula a existência do tipo de gente que temos, olhem para conduta e condução dos taxistas, como se comportam alguns agentes!.. Cada um persegue o próximo para extorquir. Será que com este cortejo de factos e miséria, é difícil perceber o tipo de Angola que está a ser construída? Somos ou não piores que o Congo de Mobutu? Onde é que está o bem-estar e a independência? Para que serviu a independência que falamos tanto?

Os exemplos são valiosos porque ajudam a reflectir com propriedade sobre a realidade do país, aqui falta mudar a conduta das pessoas e não é com chicote, nem abarrotar as cadeias e nem gradeando as casas resolve. Pretendemos ser bem governados, precisamos governantes ágeis, jovens e comprometidos com seu povo, onde o patriotismo fale mais alto.

Vejam como são administradas as nossas cidades, cheias de areia nas ruas, poeira a solta, iluminação pública inexistente, falta de passeios, ruas partidas ou sem asfalto, edifícios degradados e com mais de trinta anos sem reabilitação, buracos que perduram uma eternidade, lixo por raspar ou recolher, os esquemas que fazemos para tratar um simples documento, a insuficiência organizativa e administrativa em todo território nacional, tudo isso são sinais da neocolonização e da incúria no sistema de governação.

Angola do pós independência se pautou pela seguinte frase”Não penses que isso é um Congo”. Fez-se uma luta política e ideológica titânica para denegrir o sr. Mobutu, agente do imperialismo e ditador, que se apegava ao poder por longos anos, era muito ambicioso e que se enriquecia em detrimento da miséria do seu povo. Hoje o Mobutu é Angolano. Aquele homem zairense ambicioso que afastava tudo e todos do poder, que espoliava seu povo do acesso aos recursos e se vendeu aos franceses e americanos se reencarnou em Angola. Em 32 anos de comando do país, o presidente ainda não se cansou, nem pensa em deixar voluntariamente o poder. Negar qualquer pressão para continuar, venha de que sector vier, é ser-se no mínimo honesto e coerente. Temos exemplos africanos de Mandela, Nujoma, Seretse Kama, Chissano etc só para citar exemplos evidentes da África Austral. Porquê se transformar no Mobutu de Angola? Afinal não era só o Mobutu que era ambicioso!... Vejam como os filhos e a família desfilam a riqueza toda do país, são donos de marinas, bancos, cimangola, unitel, movicel, controlo dos fundos do petróleo, grandes extensões de terra etc. Isto meus senhores é a outra face da colonização moderna. Este modelo de colonização se chama neocolonialismo, o colono nasce no nosso seio e convive connosco, mas nos explora e humilha e espolia tal e qual o colono estrangeiro. Afinal de contas qual é a diferença? Todos os colonos, estrangeiro e o nacional nos exploram roubando nossa riqueza. O preto que está no poder faz a mesma coisa, enriquece a família sem pestanejar e a pobreza está aí diante de todos e em todos os cantos do país. 

A colonização a moda angolana não precisa ter cor de pele, o que importa é que uma classe domina a outra, esta relação é a que está presente no dia dia de Angola, um grupo restrito sem medo nem vergonha, com complacência do Presidente da República e seus filhos, os deputados, os Ministros e seus familiares, os magistrados e generais, todos se digladiam para debicar cada pedaço da riqueza do país em proveito próprio. Vive-se o safa-se quem puder. O abutre(Angola) é debicado para encherem seus bolsos. Acentuaram-se as barreiras para aqueles que têm ideia e que pretendem entrar no mercado. Se o filho do presidente deter uma empresa de telecomunicações, ninguém mais é autorizado a explorar aquele sector, evitando a concorrência. Como se pode desenvolver um país só com empresas de filhos do presidente ou de Ministros?

O presidente José Eduardo Está a lutar para a sua reeleição, ele é igualzinho ou pior que o defunto Mobutu, já não vai governar seu povo para melhorar suas vidas, seu objectivo é o de se manter no poder para defender e proteger seus interesses, os interesses dos seus filhos e dos seus colaboradores. Esta é a essência da sua candidatura. Manuel Vicente vai dar continuidade do seu legado, aliás é a pessoa que facilitou o enriquecimento da família com a Sonangol como fonte primária de financiamento e instrumento de pressão que abre portas. Quando MV se cansar, aí sim o caminho se abrirá para um dos filhos do Presidente que atingir a maturidade. Os angolanos podem preparar-se e esperar mais um século para terem um presidente que não venha da família dos Santos.

Meio mundo, intelectuais de toda estirpe, cegos, ignorantes, homens e mulheres, forçados e voluntários, honestos e bajuladores se perfilam em abarrotar comícios do Presidente da República, são meros acompanhantes que não usufruem da riqueza do país, fazem o mesmo que os peixes que seguem as baleias. Ditadores e sanguinários também foram seguidos por multidões, tiveram apoiantes de todas as alturas e classes sociais. Da mesma forma que certas confissões religiosas esfolam pobres e mendigos com pregações de salvação para arrancar-lhes um pataco, os políticos arquitectam caçar os mais distraídos e fanáticos. Adolfo Hitler e Pinochet foram brutais e sanguinários, até hoje há gente a venera-los.

Que as pessoas são livres de criar e deter riqueza, lá isso é verdade, mas devem possuir uma folha de serviço e de reconhecimento do seu trabalho. E a criação da riqueza leva tempo, não pode ser do dia para noite onde até filhos com dentes de leite são detentores de grandes empreendimentos e se tornaram multimilionários.

Infelizmente quando os presidentes criam leis fundamentais personalizadas, fatos justos como o que foi construído pelo jurista Carlos Feijó, detendo o controlo e obediência estrita dos serviços castrenses e forenses, sobretudo o sinfo, a polícia, as FAA, a guarda presidencial e os tribunais, tem todo mundo aos seus dedos. Aglutinando o poder de nomear e promover tudo e todos, quer sejam eles Generais, Magistrados, Governadores etc Esse poder torna as pessoas reféns, submissas e dependentes. Até o próprio MPLA caiu no mesmo saquinho e obrigado a engolir sapos sem a mínima rejeição.

Iremos ao voto, o voto que pode ser falseado, mas ainda assim os jovens e adultos maduros têm de pensar bem pelo voto que vão depositar. Ser fanático de um Partido ou da cara de seu candidato não enche a barriga, não cura doenças, não paga seus estudos. Não vota na emoção e na cor da bandeira, vote na verdade porque há pessoas que já não têm juízo para nos governar. Pensem bem para não perpetuarmos a neocolonização, para não continuarmos a enriquecer as mesmas pessoas por simpatia da cara do candidato ou do Partido. Abram os olhos e pensem muito bem. Boca a boca a mensagem passa.

Samora Machel, Amílcar Cabra, Kwame Krumah, Kenneth Kaunda, Agostinho Neto dentre outros estadistas tiveram a preocupação com a liberdade e o bem-estar dos seus povos! Não acumularam riquezas e nem usurparam o seu próprio povo! Que Deus os tenha e nos mantém sempre cientes do papel que desempenharam na conquista da liberdade do povo africano.

No Zaire, Mobutu tinha criado um tipo raro de governo, uma cleptocracia, ou seja, um regime político-social em que práticas corruptas, especialmente com o dinheiro público, eram implicitamente admitidas ou mesmo consagradas. E ele fazia isso porque os EUA e a França compravam sua fidelidade por temerem que a ex-União Soviética passasse a controlar o centro da África. Hoje vive-se a mesmíssima coisa em Angola, quantos Ministros e personalidades de proa já foram julgados por corrupção? O tribunal do faz de contas abana sua bandeira perseguindo grupinhos de candengues.

Mobutu amealhou uma fortuna incalculável. Seu longo governo se restringiu a sufocar rebeliões, manter o país em permanente crise económica, dar emprego aos parentes e aumentar sua fortuna pessoal que no ano de 1984, protegida em bancos suíços, chegava ao valor da dívida externa do Zaire.


Em 1997 seu regime chegou ao fim. Após 32 anos no poder, viu-se obrigado a abandonar o país, deixando o poder a Laurent Désiré Kabila. Morreu de câncer de próstata no exílio em Marrocos.


Perdeu-se um conjunto de valores no nosso continente em virtude da acção bárbara de homens sem escrúpulos. Vamos olhar para trás com desdém e sonhar um futuro de muito progresso, porque o continente precisa de desfazer-se de filhos que não o merecem.


No Uganda por exemplo, Idi Amin Dada teve um estilo arbitrário de governar, seu temperamento era excêntrico, vingativo e violento.

Durante o seu governo (1971-1979) violou muitas vezes os direitos humanos fundamentais, sendo denunciado dentro e fora do continente africano. Dizem que ele praticava canibalismo. Muitos ugandenses acusavam-no de manter cabeças decapitadas numa geleira e alimentava crocodilos com cadáveres dos seus opositores.

Qual a situação actual do povo angolano, conquistada a independência formal, face à dominação imperialista. Que lutas se travam hoje? Estão ainda longe os sonhos de uma Angola verdadeiramente independente, unida, desenvolvida, próspera, sem exploração do homem pelo homem.

É bom lembrar aos que persistem no caminho da ditadura, mesmo aquela que é silenciosa, que todos os ditadores sempre tiveram um fim sem glória! Morrem geralmente fora dos seus países de origem, não são sepultados com honras e geralmente suas fortunas são bloqueadas em bancos e seus patrimónios confiscados!...

Massuade de Andrade