Caros compatriotas!
Termina hoje a campanha eleitoral para as eleições de 2012.
Durante estes últimos 30 dias percorremos todo o país, mais precisamente, andamos pelas 15 capitais provinciais do nosso país e só nestes últimos 3 dias visitamos 9 capitais provinciais. Tivemos oportunidade de ver a simpatia e aceitação que o nosso programa de governo mereceu da parte dos angolanos. Não precisamos de forçar as pessoas a entrarem nos comboios para virem nos ouvir, não foi preciso fechar mercados, para termos angolanos a nos escutar.
Vimos homens e mulheres, anciãos e jovens que percorreram longas distâncias para nos escutar e todos demonstraram a sua ânsia pela mudança.
Tivemos também, entretanto, a ocasião de escutar relatos e relatórios incríveis da situação, da preparação do processo eleitoral. Encontramos ainda hoje províncias onde delegados dos partidos não foram credenciados.
No Moxico, o credenciamento ainda não começou, no Menongue onde alguns municípios estão a mais de 400 quilómetros, o credenciamento ainda não começou, no Cunene, o credenciamento começou aos poucos, mas muitos candidatos a delegados de lista não têm os seus nomes nos cadernos eleitorais.
Muitos angolanos não têm os seus nomes nos cadernos eleitorais, aliás em muitas dessas províncias por onde passámos ainda os cadernos eleitorais não foram divulgados e estamos a poucas horas, a menos de 48 horas do início das eleições. Aqueles que têm os seus nomes nos cadernos eleitorais, muitos deles foram indicados para votar em localidades que distam centenas de quilómetros, outros não conseguem pelo processo indicado da Unitel encontrar os seus nomes nos cadernos eleitorais. A recolha de cartões do registo eleitoral ainda continua.
Falando mesmo do credenciamento em Luanda, mais de 2.000 delegados propostos pela UNITA ainda não estão credenciados. E muitos destes não foram credenciados porque se diz que não constam também dos cadernos eleitorais.
Também tivemos ocasião de conversar com aqueles que trabalham mesmo na CNE e nós reparamos que a própria CNE nas províncias não tem estruturas adequadas para desempenhar a tarefa de conduzir esse processo eleitoral.
Estas são apenas algumas questões que nós reparamos e que podemos constatar com evidências. Eu não quero-me referir a estórias, a rumores de urnas estarem já a ser preenchidas algures, porque disso eu não tenho evidências, mas são muitas as pessoas que falam disso pelas províncias onde nós passamos.
A nossa conclusão, para além daquelas questões que já referimos, referente à violações que a CNE tem estado a fazer à lei, nós chegamos a conclusão que a CNE não está pronta, não tem condições para assegurar um processo, eu já não digo transparente, um processo minimamente organizado.
Companheiros e Compatriotas!
O que eu vi é vergonhoso. Se os angolanos são assim, então não podem andar aqui a apregoar aos quatro ventos que estão a subir. Não estão. Este processo não está, nem tecnicamente, nem administrativamente, nem do ponto de vista intelectual pode ser aceite. Os angolanos não podem aceitar. Eu digo mais, o que eu constatei nestes dias dá-nos o direito e a necessidade de mudar este governo. Não está em condições de corresponder às aspirações e ansiedades dos angolanos.
Companheiros!
Que nós queremos perturbar o processo? Não! Não! Eu já disse muitas vezes e repito aqui: somos dos mais interessados na realização de eleições. Nós queremos as eleições, como já disse nós precisamos de mudar este governo, precisámos de mudar este governo e só podemos mudá-lo através de eleições, mas tem de ser eleições preparadas e conduzidas de acordo com a lei.
A lei eleitoral que nós mesmos também elaboramos, a UNITA participou activamente na discussão da elaboração da lei eleitoral, tem esta lei eleitoral, prazos devidamente estabelecidos, fases devidamente definidas e isso tudo baseados na experiência do passado exactamente para evitar confusão, para evitar desorganização, para evitar irregularidades que já se verificaram nos processos anteriores.
Mas eu chego a conclusão que este processo que é o terceiro é o pior dos dois anteriores. Agora, se esta confusão, se essas irregularidades foram organizadas deliberadamente, eu não posso afirmar, o que posso afirma que é verdade é o que acabei de dizer. Não há condições para se fazer eleições depois de amanhã.
Como estivemos vindo a dizer ao longo deste processo todo, nós temos privilegiado o diálogo para resolver questões que se tornaram ou que se tornam obstáculos para bom andamento do processo.
A nossa vontade, o nosso interesse é preservar a paz e a estabilidade é isso que nós queremos e por isso mesmo também para este caso eu vou sugerir amanhã 30/08/12, um encontro com o candidato José Eduardo dos Santos. Como eu disse, vamos propor um encontro com o candidato José Eduardo Dos Santos - Presidente do MPLA para mais uma vez e através do diálogo resolvermos esta situação. E eu através desta tribuna convido o povo angolano a manter-se sereno, tranquilo, não haja perturbação da ordem, nós estamos a propor este encontro aqui e vamos formalizá-lo ao sair daqui e amanhã de manhã vamos entregar esta carta para solicitar este encontro. Se nos ouvirem, se houver interesse também de dialogar, de manter a paz, de manter a estabilidade nós iremos agradecer, se acharem que não é necessário, então nessa altura, nós não poderemos ser responsabilizados, não poderemos ser responsabilizados pelo que vier a acontecer.
Nós queremos assumir as nossas responsabilidades perante o povo angolano e perante o mundo. Eu repito: queremos assumir as nossas responsabilidades perante o povo angolano e perante o mundo. A história já nos deu lições. Por falta de diálogo nós percorremos caminhos ínvios na nossa história.
Eu exorto a todos os angolanos para se unirem pela mudança. Nós pensamos que estas eleições podem ser realizadas, devem ser realizadas, mas a CNE e todos os actores precisam de corrigir aquilo que está errado, para que o processo decorra dentro da legalidade.
Companheiros!
Estaremos, naturalmente em contacto convosco, estaremos prontos a manter-vos informados do encontro com o candidato José Eduardo Dos Santos se assim ele também o desejar e se não também viremos dizer que a nossa proposta não foi aceite. Até lá eu volto a repetir: haja serenidade, haja tranquilidade e haja confiança num futuro melhor.
Muito obrigado!