Lisboa - Os angolanos vão hoje às urnas para umas eleições legislativas, as terceiras da Democracia, cujos resultados, verdadeiramente, só serão conhecidos a prazo, quando se verificar uma mudança de poder, e de Presidente da República. A transição, essa, começa hoje.


Fonte: economico.sapo.pt

Os portugueses, alguns, continuam a não perceber o que tem sido a dinâmica política, económica e social de Angola dos últimos anos e, sobretudo, representa o crescente volume de investimento em Portugal. Nos últimos dez anos, dizem-nos os dados, o investimento de empresas e empresários angolanos no mercado português cresceu 35 vezes, e em sectores absolutamente estratégicos, como a banca e a energia. Este caminho tem muitas explicações, algumas menos bondosas, outras que resultam do estado de necessidade crescente, e de emergência, a que chegámos.


Angola não é, ainda, uma Democracia tal como a entendemos na Europa, está a fazer o seu caminho, e estas eleições são mais um passo, mas é importante que deixemos os cinismos e as hipocrisias de lado, que abundam na sociedade portuguesa. Porque sabemos, também, das centenas de milhar de portugueses, milhões talvez, que viajaram para Angola na última década, muitas vezes à procura do lucro fácil, e do benefício da corrupção que tanto criticam ao regime angolano. Também nos sentamos à mesa do regime.


José Eduardo dos Santos é o segundo Presidente da República com mais tempo de mandato em África, a economia do petróleo permitiu construir milionários de um dia para o outro, e muitos deles acabaram por usar esse dinheiro em Portugal, por detrás de empresas sem rosto ou nome, apenas para o tirar do sistema, para legalizar o que não podia continuar debaixo do tapete em Luanda. Mas Portugal também beneficiou de investimentos de empresas como a Sonangol - uma empresa pública do Estado angolano - ou de uma empresária que deixou de ser ‘apenas' a ‘filha do Presidente, Isabel dos Santos, para citar apenas dois casos, que o fizeram de forma profissional e, mais do que isso, suportaram empresas críticas para a economia portuguesa.


Estas eleições são mais um passo de uma transição política, de um Estado que já foi de um homem só, que é ainda de um partido e que vai ser, necessariamente, de um povo. Mas tem de ser uma transição suave, institucional, que dê tempo às instituições, à sua credibilização institucional, sob pena de lamentarmos, em Portugal, ter passado mais tempo a criticar um regime de que muito beneficiamos do que a apoiar a sua democratização plena.

António Costa, Director