Alemanha - A imprensa alemã deu algum destaque as eleições angolanas durante a semana. A crítica ao pleito centrada basicamente no campo de disputa política desigual, na repressão violenta às manifestações contra o governo. O "Tagezeitung" publicou uma matéria de Martina Schwikowski entitulada "O povo ainda não tem escolha", dizendo que essas eleições em Angola têm vitória garantida do partido do governo, o MPLA. O texto destaca que aflora no país uma cultura de protestos cada vez mais forte por parte da juventude contra a velha elite.

Fonte: DW

Schwikowski salienta que o povo angolano tem poucas ilusões: "as eleições parlamentares desta sexta-feira vão levar poucas mudanças ao país". A jornalista sublinha que o aparelho estatal do presidente José Eduardo dos Santos mantém o poder, há 33 anos, do que ela chama de "Estado Rico em Petróleo".

A jornalista lembra que o MPLA teve 82 por cento dos votos nas eleições de 2008, nas quais a oposição acusa massivas fraudes. "A Guerra Civil deixou um milhão e meio de mortos e o país em ruínas", lembra a matéria.

Desde o Acordo de Paz, enorme quantidade dos lucros das empresas petrolíferas ocidentais foram para os bolsos da elite política angolana. "A maioria da população de 18 milhões de pessoas, entretanto, vive na pobreza", informa.

A jornalista ouviu o oposicionaista Emanuel Matondo, que opina que a juventude angolana se levanta contra a atual situação do país porque tem muito a perder: o seu futuro. Ele espera uma mudança com uma espécie de Primavera Angolana, fazendo alusão ao movimento nos países árabes.

A vigilância do Estado

Em matéria assinada por Dominik Bollow e Mariana Goes, o Tagezeitung traz, nesta sexta-feira (31/8), uma entrevista com o músico/rapper da banda Batida, Luaty Beirão, sobre o ambiente político no país. O título "A Polícia Secreta está em todos os lugares" é uma frase do músico. A entrevista é centrada no facto de que não existe uma verdadeira disputa presidencial e haveria o "predomínio do terror" contra a oposição. O músico destaca a resistência de sua geração à falta de alternância no poder e o medo de violações das liberdades indivíduais e dos direitos humano.

Já o Frankfurter Rundchau trouxe a matéria de Johannes Dietrich com o título "Liberdade ou Morte em Angola". A reportagem dá ênfase a juventude liderada por "rappers" que lutam por uma mudança de regime e salienta que o governo tem resistido a estes movimentos com muito dinheiro e violência.

O Frankfurter Allgemeiner Zeitung apresentou a matéria com o título "Campanha Eleitoral em Ambiente Tendencioso". O texto de David Klaubert destaca que o presidente José Eduardo dos Santos, de 70 anos de idade, teve fôlego para inaugurar dois hospitais, uma unidade de tratamento de àgua, um centro de mídia e um centro de cultura na semana final da campanha.
Acumulação de funções

O jornalista lembra que o governo tem reagido de forma nervosa aos últimos protestos da oposição, acionando a policia de choque para coibir as manifestações. Também destaca que a repressão do governo tem levado medo a juventude que organiza os protestos nas ruas. O Sueddeutschezeitung traz esta sexta-feira uma nota com o título "Angola escolhe um novo presidente". O texto enfatiza o amplo favoritismo do MPLA.

O periódico também publica outra matéria em sua versão online, dando como certa a vitória do atual presidente. Recupera a vitória de 2008 e a mudança constitucional de 2010, que determina que as funções de chefe de Estado e de Governo sejam automaticamente assumidas pelo presidente do partido mais votado. Informa que o período de votação termina no início da noite em Luanda e que ainda não está claro quando os resultados serão divulgados.