Luanda – Amigo(a), permita que lhe conte sobre um companheiro: “O que é que quer?” – perguntou-me um homem mulato. Ele nasceu do cruzamento racial que marcou a matiz da relação entre angolanos e portugueses, especialmente no período colonial.
Fonte: Club-k.net
“Trouxe um artigo para publicar “ - respondi. “Assim, manuscrito? Quem pensa que vai digitalizar este texto por ti?” – Perguntou-me. Sem que me desse tempo para responder, ordenou. “Arranjem-lhe um computador. Sente-se e escreva o seu texto” – orientou.
O diálogo marcou o começo da minha relação com Aguiar dos Santos, que hoje deixa o espaço físico e passa a viver na minha e na memória de muitos leitores do semanário Agora, amigos e familiares.
No semanário Agora, Aguiar dos Santos ensinou-me a liderar homens, a comandar equipas de jornalistas, a lidar com o stress da profissão, a separar a opinião da pura informação e a ser… ousado.
Foram seis anos de relação intensa como seu profissional e doze como amigos. Chamava-me “Ngambaxi” ou “Kota Sebas”. Aguiar dos Santos aconselhava-me constantemente a ser focado e, preferencialmente, a trabalhar exclusivamente para a sua publicação.
Na verdade, fui sempre, do ponto de vista profissional, um pouco irrequieto. Sempre quis experimentar várias posições e empregos ao mesmo tempo. Tive momentos em que trabalhei, no mesmo período, como editor do Agora, na Ebonet, correspondente no Afrique Information Afrique, redactor de espaço radiofónico na LAC e editor do site NetArtes e da Ebonet.
Foi o ponto em que mais divergimos. “Kota Sebas. Vá com calma”, dizia-me.
Aguiar dos Santos sabia ser amigo, ríspido, teimoso, intempestivo sobretudo com erros, atrasos, incoerências de colaboradores ou posicionamentos de políticos que o desagradavam. Vivia as suas emoções no limite. Bebia. Fumava. Debatia sobre os mais diversos temas. Era autêntico. Leal para com os seus. Fiel à sua convicção. Respeitador da língua de trabalho. Amante inveterado do bom Jornalismo. De quando em vez, falava-nos sobre a sua trajectória profissional.
As minhas viagens internacionais afastaram-me um pouco dele. Reencontramo-nos algumas vezes em Luanda, já sem aquele vigor de outrora, mas sempre agarrado à vida e à actualidade do país.
“Kotas Sebas, como vai?”- Saudou-me, pela última vez, quando nos cruzámos na avenida de Portugal, numa manhã ensolarada, em Luanda.
Nos últimos 24 meses, sua figura surgia-me entrecortada em forma de notícias passadas por amigos: primeiro, a amputação da sua perna. Partilhei minha tristeza com a minha esposa. Hoje, em definitivo, o telefonema do amigo Tandala. “Epá, Sebastião, tenho uma notícia triste. É o Aguiar. Morreu esta madrugada” – Informou.
A morte chegou. Arrebatou Aguiar dos Santos. Enquanto teclo para digitalizar estas breves memórias, ressoa o comando dado. “Ninguém vai escrever este texto por ti”.
Obrigado, AMIGO Aguiar dos Santos.
Paz à sua ALMA.
Até ao nosso próximo reencontro…na outra dimensão.
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