Luanda -  Em todo este processo de luta pré-eleitoral e eleitoral o que sempre esteve, em cima da mesa, era a questão saber: Participar ou não nestas eleições e em que condições. Todas as questões colaterais e seus efeitos deveriam estar subordinados a este problema lapidar.

Fonte: Club-k.net


No artigo: " eleições 31 de gosto 2012 " estamos perante um masoquismo coletivo? Publicado neste site, escrevi:

“O que nós assistimos é que a chamada “oposição séria” “oposição verdadeira”, “oposição credível” etc. e os sectores mais esclarecidos dos cidadãos, embora tenham uma rica experiencia histórica de eleições fraudulentas; o conhecimento das principais formas de manobra para destorcer os resultados do voto, não foi capaz de colocar em cima da mesa, de forma definitiva e clara, as condições, sin qua non, para participar nestas eleições.


Mais importante do que tudo isto,” não soube “limitar no tempo o cumprimento das condições básicas para um processo transparente, justo e verificável”, o que lhe levaria a promover ou não, em tempo útil, uma completa rutura.

As circunstâncias eram de fraude declarada, impunha-se a tomada de decisões firmes e concertadas entre todos aqueles que eram considerados:

Partidos da oposição verdadeira ou credível, a sociedade civil e cidadãos independentes. Predominaram as vírgulas e as hesitações desnecessárias, o que denotava falta de coragem e decisão políticas.
Os princípios, a moralidade e a transparência dos processos foram quase sempre relegados para segundo plano ou simplesmente ignorados:

O que assistimos neste processo foi que alguns partidos, da chamada esfera dos credíveis ou verdadeiros, chegaram a considerar, irrelevantes, casos tão graves e anacrónico, quanto foi o da Sra Suzana Inglês.


Alguns deles assumiram, desde o início, o compromisso incondicional em participar nas eleições (exemplo da CASA-CE), utilizando o argumento do voto como critério da verdade política e o contorno da fraude.

Outros foram assumindo posições de retirada ou de silêncio cúmplice (como o caso do PRS). Várias vozes autorizadas da sociedade civil também alinharam naquela que era a parte mais forte de JES/MPLA:

A realização das eleições a todo o preço. Foi a este comportamento que chamei de Masoquismo Coletivo.

Alguns dos argumentos apresentados por estes partidos davam a entender que tinham como princípio político fundamental o poder pelo poder. Era necessário assaltar o gostoso poder ou participar dele. As vantagens de estar próximo do poder deixavam cair a luta por princípios de justiça, cidadania e solidariedade.

O fenómeno CASA-CE, temos de dize-lo com toda a sinceridade, foi dos casos mais paradigmáticos de incoerência neste processo.

Desde o seu surgimento, apresenta posições políticas de contracorrente absoluta com o trajeto que a oposição parecia esboçar.

Desta forma, criaram uma situação de profunda desregulação da tendência, ainda criança, deste movimento. Levantou-se a desconfiança.

Tudo indicava que dariam cobertura a realização das eleições em companhia dos partidos paraquedistas, caso se optasse por não ir às eleições?

O seu posicionamento, conjugado com a história do seu surgimento aprofundou desconfianças no seio da oposição e em vários sectores da opinião mais esclarecida.


A tentativa de encontros multipartidários para realizar consensos mínimos, teve a estranha ausência de alguns partidos e as suas conclusões nunca tiveram divulgação ampla nem consequências politicas.

A este dantesco clima, que agradava à máquina de inteligência de JES/MPLA, vem juntar-se o premeditado afastamento do BD, PP e PDP-ANA do pleito eleitoral. Como diz Nguituka Salomão: “Que se lixe! Já me safei” disseram uns “cada um tem mãe dele!” Disseram outros, á boa maneira da solidariedade a “la Angolana”.

Portanto, alguns partidos afiaram os dentes e procuraram, sem pudor nem alma, assaltar as hostes dos partidos excluídos, reproduzindo os valores de JES/MPLA.

O puzzle das eleições ficou composto por 9 partidos e coligações em que 8 deles tinham forte tendência eleitoralista.

A UNITA era, entre eles, o partido mais avançado na luta contra a fraude mas enfermou de uma postura de grande potência, não tendo conseguido alavancar parcerias com a sociedade civil e os outros partidos já fora da luta eleitoral.

O tempo de atuação que era escasso foi-se escoando por inépcia e indefinição dos que poderiam surgir como verdadeiros parceiros e formar uma grande força de unidade.

A UNITA embora conhecedora do dossier fraude, em consonância com as outras 2 forças (PRS e CASA-CE), privilegiaram a luta isolada e palaciana, chegando mesmo a colocar em causa as justas manifestações de jovens e fugiram a sua participação.

Mais tarde, conseguiu reconhecer que sem manifestar a sua força nas ruas, teria muitas dificuldades de fazer vingar qualquer reivindicação e impedir o seu estrangulamento no voto.

Partiu para a manifestação e foi de certeza a sua sorte, porque a tendência de ser transformada, misteriosamente, em força política residual ou 3ª força estava em curso.

Este é outro episódio de contornos estranhos que a história vai desvendar.
Entretanto, todas as vezes que o fez, tomou uma posição isolada, sem qualquer conclave, deixando claro que nas suas bandas, havia pouca vontade de reconhecer a importância dos outros e de programas de consenso.

Agora fica a questão:

Terá esta oposição a coragem de impugnar com firmeza estes resultados, provocar uma crise política e exigir a realização de eleições antecipadas?

Vai aceitar os resultados eleitorais em nome de alguns lugares que lhes foram atribuídos e daí usufruir dos dinheiros que lhe serão distribuídos? Como se comportará esta oposição com assento parlamentar?


Paulo Mulemba -- ( Analista político do portal : www.ponto-final.net )