Luanda - O Agora comemorou, no pretérito dia 17 de Janeiro, faz hoje uma semana, 12 anos de vida. Como soe dizer-se não é pouca tripa, para mais no contexto adverso em que surgimos. Sou um homem da comunicação social, concretamente da imprensa, de jornais, independentemente da sua periodicidade.

Fonte: Jornal Agora


Por não se dever cuspir no prato onde já tomámos a sopa, confesso que a minha escola jornalística foi a Angop onde me guindei a chefe da divisão nacional, responsável, digamos assim, pela política do país.

Na Angop emprestei o meu saber - ai que saudades do grupo da Jugoslávia - e experiência na formação de jovens da época, assumindo posteriormente a minha trajectória profissional outros rumos e destinos.

Nesta minha vida feita de boemias e de (des)caminhos ínvios e padrastos, de andarilho por vezes sem destino, o jornalismo tinha, necessariamente, de se atravessar na minha vida.

Deste modo, acabei por liderar um projecto que pariu a 17 de Janeiro de 1997, o semanário AGORA. 12 anos volvidos a odisseia valeu a pena. Modéstia à parte e por mérito próprio o nosso nome já não se pode apagar da imprensa privada surgida depois da abertura democrática encetada a partir de 1991. Foram (são) 12 anos de muita labuta, porrada, sacrifício e coragem. Mas valeu a pena. Por isso mesmo gostaria de morrer num dia em que o AGORA já estivesse impresso e ser enterrado com o cheiro da tinta do jornal nos meus beiços.

Esta prosa avulsa, inusitada e existencial nada tem a ver com o canto antecipado do cisne. Mas não sei se é sina ou destino, se é que ele existe, presumo, persinto, que a minha urna estará coberta de papel impresso com o cheiro da tinta de impressão de um jornal!

*Texto publicado a 24 de Janeiro de 2009. Em homenagem, à título póstumo, a Aguiar dos Santos cujo corpo repousa, desde ontem, no cemitério do Altos das Cruzes, em Luanda.