Luanda -  A UNITA tem um problema insanável com a democracia e os seus dirigentes não querem aprender a viver segundo as regras democráticas. Ao longo da sua existência, o partido esteve sempre do lado das ditaduras mais ferozes, desde a salazarista até ao nazismo de Pretória. Para atingir os seus fins, a sua direcção nunca hesitou em aliar-se a ditadores africanos da estirpe de Mobutu. Ao mesmo tempo que se opôs de armas na mão aos que lutavam pela liberdade, os arautos do “Galo Negro” enchiam a boca com a democracia, numa mistificação da realidade política. Na frente legal e nos intervalos dos ataques armados à nação angolana, usavam a arma da mentira, que passou a fazer parte essencial do seu discurso político.


Fonte: Jornal de Angola

Se os dirigentes da UNITA quisessem viver em democracia já há muito tinham aprendido. Mas o que se verifica é um êxodo permanente de militantes e altos dirigentes, alguns fundadores da organização, porque perderam a esperança de algum dia existir no seu seio um clima democrático. Não vale a pena enumerar os altos dirigentes da UNITA que se afastaram da organização, porque perderam a esperança de algum dia verem instauradas no seu seio as regras da democracia. Mas alguns tinham tal valor que deixaram o partido na penúria. Só ficou quem não tem qualquer perspectiva de futuro na política.

E esse é um grande problema para Angola. O regime democrático precisa de partidos bem estruturados e com uma base social de apoio sólida. Não é com mentiras que isso se consegue e muito menos com o seu aparecimento na cena política apenas quando há eleições. A UNITA entrou nesse caminho.

Na Assembleia Nacional a UNITA apenas existe na folha de salários dos deputados. Nos círculos eleitorais prima pela ausência. Nenhum dirigente da UNITA aparece junto dos seus apoiantes ou votantes quando é preciso. Pelo contrário. Contados os votos, o partido fecha as portas. E para não desaparecer por completo, a sua direcção vai manipulando os jovens para manifestações e acções assumidamente de subversão da ordem democrática. Daqui a cinco anos, estão de volta para prometer um salário mínimo milionário, um poço de petróleo e uma mina de diamantes a cada angolano. Com uma oposição assim, a democracia angolana fica amputada de uma parte essencial da qual brota a alternância. Quem desaparece do diálogo e do combate democrático, jamais pode ser alternativa.

A UNITA fez tudo para impedir as eleições de 31 de Agosto. Começou por sabotar o processo do registo eleitoral e a aprovação da lei eleitoral. Lançou sobre um movimento cívico e participativo do registo o anátema da fraude. Fez tudo para sabotar a aprovação da Lei Orgânica das Eleições Gerais. Os defeitos que a lei eleitoral tem são todos da responsabilidade da UNITA. A direcção do partido só percebeu que cometeu um erro grave quando verificou os primeiros resultados do registo eleitoral e da actualização.

Perdida a “batalha” do registo eleitoral, a UNITA fez tudo para impedir a realização do acto eleitoral. E como sempre, lançou sobre as eleições a suspeita da fraude. Em vez de entrar no combate político, a direcção do partido elegeu a Comissão Nacional Eleitoral como sua principal adversária. A meio da campanha eleitoral ameaçou não ir a votos. Nas vésperas das eleições anunciou, sob anonimato, através da agência Lusa, a impugnação dos resultados eleitorais que desconhecia em absoluto. A fraude continua a ser o único argumento capaz de esgrimir, agora que são conhecidos os resultados.

A UNITA conseguiu muito mais votos do que merece. Pelo trabalho realizado na mobilização dos eleitores, poucos ou nenhuns devia ter. A direcção do partido fez tudo para que o seu eleitorado não fosse votar. Temos de convir que é uma estranha forma de participar em eleições e ainda mais estranha concepção de democracia. A direcção da UNITA continua agarrada à velha máxima: se ganharmos as eleições, elas são livres e justas. Se perdermos, houve fraude e tomamos o poder pela força. Isaías Samakuva não consegue ir além deste pensamento viciado, que deu resultados funestos em 1992 e redundou em derrotas esmagadoras em 2008 e 31 de Agosto. A democracia angolana fica amputada por desistência da oposição que é incapaz de perceber os sinais dos tempos e aprender as regras do jogo democrático.

Os dirigentes da UNITA até agora não felicitaram os vencedores das eleições. Por isso, não assumem a derrota que sofreram, ainda que tenham subido a votação em relação a 2008. O melhor que conseguem é mandar a agência Lusa declarar que vão impugnar os resultados eleitorais, sem o fazer, porque sabem que impugnar os resultados eleitorais é apenas mais uma incongruência na sua longa lista de incoerências políticas e ideológicas. Mandar dizer que vai impugnar os resultados das eleições e ao mesmo tempo afirmar que vai para a Assembleia Nacional é puro oportunismo. Isso, sim, é uma imensa fraude.