Luanda - Definitivamente muito dificilmente se poderão aplicar em Angola as teorias mais clássicas dos manuais da política moderna para explicar o nível da abstenção registado, depois de nas eleições anteriores termos tido cerca de 80% dos votantes registados a comparecerem às urnas.


Fonte: Morrodamaianga.com


Muito poucos serão os analistas que terão nesta altura uma ideia exacta das causas próximas e distantes que explicam esta massiva ausência, particularmente na grande praça luandense.
Acredito, contudo, que haverá alguns que se contam pelos dedos de uma só mão, pela informação privilegiada a que têm acesso, que não terão grandes dificuldades em explicar-nos “tintim” por “tintim” o que se terá passado no dia 31 de Agosto.


Na minha condição de auto-nomeado observador pessoal e imparcial de todas as eleições democráticas que se realizam neste país, defendi esta semana aos microfones da Ecclésia, que os angolanos não deverão ser novamente convocados para eleições, enquanto os seus legítimos representantes não estiverem de acordo quanto à natureza, o conteúdo e a idoneidade do FICRE.


Não é possível realizar novas eleições com um nível tão elevado de desconfiança em relação a tal base de dados, como foi o que se verificou agora nestas eleições, ao ponto da UNITA ter dito que o FICRE poderia ter no seu seio cerca de dois milhões de eleitores fantasmas. Este dado no âmbito do intenso e nada desportivo ping-pong que tem estado a marcar o relacionamento entre a UNITA e CNE, foi aquele que mais chamou a minha atenção, pelas consequências devastadoras para a credibilidade do processo eleitoral que resultariam da manipulação de uma tão elevada cifra de votantes virtuais.


Como estas eleições, de algum modo já pertencem ao passado, embora ainda vão fazer correr muita água debaixo de todas as pontes interessadas em avaliar a qualidade do processo, há que começar já a pensar no pleito que se avizinha e que vai consagrar a existência no país de um poder local/autárquico devidamente legitimado por todos nós.


Felizmente que a nova Lei Orgânica das Eleições já tem todos os procedimentos para credibilizar o FICRE, pelo que as auditorias previstas não podem ser mais “para inglês ver”.


Todos os angolanos têm que ver e acreditar nestas auditorias dos sistemas informáticos eleitorais, devendo para o efeito a CNE deixar a actual “trincheira” onde se encontra, para assumir o seu mandato de instituição independente do Estado a cem por cento e sem mais qualquer tipo de hesitação nem subordinação.


NA- Este texto foi publicado no semanário “O País