Luanda – Ainda condoídos com a sua despromoção imediata da política activa, partidos e coligações de partidos extintos nas eleições gerais de 31 de Agosto de 2012 por não obterem a percentagem que lhes garantissem a manutenção, desdobram-se em várias frentes para a sua refundação. O Conselho Político da Oposição (CPO), que obteve apenas 6.644 votos expressos nas urnas, correspondendo a 0,11 por cento, sendo o menos votado durante o escrutínio, já pensa em refundar-se, segundo ideias do seu líder, Anastácio Finda.

Fonte: O País

Segundo o político, “o CPO transformar-se-á numa nova força política, em obediência à lei, já que ela foi dissolvida após a divulgação dos resultados”. Nesta senda, a sua direcção deverá reunir-se nos próximos dias para se definir se a organização política continuará agrupada ou se será transformada num único partido.

A ideia, segundo Anastácio Finda, é a de continuar a fazer política activa, pese embora os propósitos não terem sido alcançados desta vez, com o afastamento da coligação nestas eleições. “Perdemos uma batalha e não a guerra, por isso, vamos nos preparar mais nestes cinco anos para obtermos melhores resultados nas eleições de 2017 e alcançarmos o nosso propósito”, disse.

A intenção desta força política coligada foi sempre a de atingir, inicialmente, a Assembleia Nacional (AN) e depois formar Governo mas parece ser uma longa empreitada como demonstraram os resultados obtidos nestas eleições. E como sonhar não é proibido, é ver para crer como será o “ day after” dos antigos membros do CPO.

Primeira força política a reconhecer os resultados eleitorais, segundo Anastácio Finda, o rosto mais visível desta força política, apesar deste desaire, os quadros e os militantes estão convictos de que melhores dias virão, argumentando que “ temos cinco anos ainda pela frente para trabalharmos e, por isso, mesmo, nada está perdido definitivamente”, defendeu.

Segundo o político, apesar de o CPO ser destituído por força da lei, não pretende deixar os seus créditos por mãos alheias, depois deste deslize, mas redobrará o seu trabalho de mobilização e mais recrutamento de novos membros com os quais contará em 2017. “Depois de formarmos uma outra força, a nossa linha de força será essa”, apontou.

RESULTADOS ELEITORAIS 

Ainda na ressaca dos resultados desconfortáveis obtidos por alguns partidos e que alegam ter havido irregularidades e/ou mesmo fraude, durante o processo de votação, sobre o assunto, o dirigente do também “partido dos professores” disse que o CPO continua conformado com a decisão soberana dos eleitores.

“O CPO reconhece os resultados tal como foram anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE), em obediência à votação feita pelos eleitores, em todo o país, tanto no círculo nacional, como no provincial”, reiterou. Reconheceu humildemente que a escolha dos eleitores foi livre e o CPO conforma-se e agradece o gesto dos eleitores que depositaram os votos nele, “mesmo insuficientes para se obter um único assento no Parlamento”. De acordo com Anastácio Finda, a instituição que dirige, embora antiga, mas estreante a participar num processo eleitoral como o ocorrido em Agosto, está consciente dos resultados obtidos e “não pode exigir mais do que essa vontade soberana do povo”. “É necessário admitirmos o mérito do trabalho feito pelo vencedor destas eleições junto dos seus militantes”, declarou.

Anastácio Finda reconheceu também que as reivindicações apresentadas pelos partidos contestatários estão plasmadas na lei, mas defende uma cultura democrática que permita proteger a paz e a reconciliação nacional conseguidas com muito “suor, sangue e lágrimas, entre irmãos da mesma pátria”.

RENASCIMENTO DO PAPOD

Resultante do Fórum Fraternal Angolano Coligado (FOFAC), que participou nas eleições legislativas de 2008, na sequência das quais foi extinto por insuficiência de votos para a sua manutenção como força política, a situação repetiu-se neste pleito eleitoral. Mesmo sendo o segundo mais votado entre os despromovidos, não evitou a derrocada. Obteve escassos 8.710 votos (0,15 por cento).

Inconformado com os resultados que lhe colocaram fora da política activa, o seu líder, Artur Kixona Finda, anunciou em conferência de imprensa, realizada esta semana, que o PAPOD será refundado, dando lugar a uma nova força política. “Esta é a nossa intenção, depois de não termos alcançado o nosso objectivo de irmos para o Parlamento”, justificou o político que, pela segunda, vez concorreu a um pleito eleitoral, mas sem sucesso. Optimista, já prometeu reverter o quadro nos próximos cinco anos.

Esta força política está já a preparar-se para reunir todos os requisitos para a sua legalização, nos próximos tempos, junto do Tribunal Constitucional (TC).“ Estamos a trabalhar para que isso ocorra, porque pretendemos continuar com a nossa actividade política”, revelou, realçando que apesar da derrota, os militantes e simpatizantes acreditam neste projecto.

Kixona Finda considerou a desqualificação do seu partido como um mero incidente de percurso nas eleições de 31 de Agosto, daí a necessidade de dar continuidade ao seu projecto surgido em 1996 no Bairro do Kikolo (Cacuaco), onde se situa a sede dos também chamados “irmãos”, como ficaram conhecidos durante a campanha eleitoral.

Quanto aos resultados eleitorais, que considerou de “ pouco convincentes” em relação àquilo que o seu partido desenvolveu durante os 30 dias de campanha, mas incontestáveis, “servem de um incentivo para que possamos trabalhar mais e darmos a volta à situação, porque a cifra que obtivemos não estava nas nossas previsões”, assegurou aos jornalistas.

Face a essa situação, disse, a alternativa para contrapor este lúgubre quadro é a de trabalhar mais junto do eleitorado, para se alcançar o propósito que não foi atingido nestas eleições. “Vamos rever onde falhamos, vamos corrigir e continuarmos a fazer o que pretendemos no nosso projecto”, assegurou.

AFINAL, COM O QUE SONHA O PAPOD?

Não há outra coisa senão também o Parlamento numa primeira fase “porque queremos estar lá para defendermos o povo, tal como o fazem os nossos colegas que já lá se encontram ”, respondeu aos jornalistas o líder do PAPOD, avançando que “ o Parlamento é apenas uma etapa, mas a tendência é a de chegar mesmo um dia a formar o Governo”, vaticinou.

Durante o encontro na sede do seu partido, a tristeza era visível no rosto deste jovem político, por a sua formação política não ter podido realizar o sonho há muito perseguido. “Mas nada está perdido. Isto é como se se tratasse de uma competição desportiva, onde há um que vence e outro que perde”, admitiu.

E MAIS A FUNDO?

A Nova Democracia-União Eleitoral (ND-UE), que não conseguiu conservar os dois lugares conquistados em 2008, ainda não decidiu sobre o seu futuro político, depois da inesperada queda. Na avaliação que eles próprios fazem do seu desempenho, os políticos da Nova Democracia entendem ter sido boa a sua campanha que terá mobilizado muitos membros a seguirem os seus ideias, segundo o porta-voz, Laiz Eduardo.

“Neste momento estamos em reflexão sobre o que aconteceu. Faremos uma comunicação oficial sobre a posição que tomaremos nos próximos dias”, explicou, tendo pedido calma e serenidade aos seus correligionários, sobre o futuro político da Coligação conhecida por Laranja, cor essa que domina os seus símbolos. Quanto ao FUMA, pouco ou nada se sabe, depois da publicação dos resultados, os seus líderes distanciaram-se dos holofotes da imprensa.